Um boletim da Agência Nacional de Águas (ANA) apontou que 81% da primeira cota da reserva técnica (volume morto) do Sistema Cantareira já foram captados pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Os dados desta terça-feira (7) mostram que, dos 182,5 bilhões de litros de água, restam apenas 34,6 bilhões de litros. A Sabesp, no entanto, afirmou que a água não vai acabar e que o sistema deve ser visto "como um todo".
O Cantareira abastece atualmente 6,5 milhões de pessoas na Grande São Paulo, mas opera com 5,6% da capacidade. A companhia explicou que é possível, a qualquer momento, fazer transferências entre uma represa mais alta para outra em nível mais baixo, de acordo com a operação.
A Sabesp disse ainda que a captação do volume morto não significa que a água já foi consumida, já que ela ainda pode estar armazenada em alguma represa. O relatório da ANA sobre os reservatórios apontou que dos 78,14 bilhões de litros disponíveis abaixo das comportas na represa Atibainha em agosto, 76,74 bilhões foram retirados.
Na Jaguari-Jacareí, a reserva técnica era de 104,3 bilhões de litros em maio. Até o momento, as bombas captaram 71,16 bilhões de litros. Segundo a Sabesp, ainda restam cerca de 60 bilhões de litros da reserva técnica inicial. No entanto, a companhia já solicitou à agência autorização de uso de mais 106 bilhões de litros de uma segunda cota do volume morto.
A ANA aguarda o envio da versão final do plano de demanda e de contingência do Cantareira feito Sabesp para avaliar o pedido. O prazo venceu na segunda-feira (6), mas a companhia informou que o projeto está em elaboração e que será entregue quando for finalizado. A data para apresentação também não foi divulgada. O Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), responsável pelo envio oficial à ANA, não se manifestou sobre o assunto.
A Sabesp não divulgou data para o início da nova captação e informou que ela será feita apenas se for necessário. No entanto, as bombas já estão prontas para operação. A segunda cota do volume morto do Cantareira vai elevar em 10,7 pontos percentuais a capacidade das cinco represas, de acordo com a companhia de abastecimento.
Ação na Justiça
Uma ação judicial do Ministério Público Federal e o Ministério Público Estadual em São Paulo tentam barrar na Justiça o bombeamento de mais água e querem metas para recuperação do Sistema Cantareira em cinco anos. A Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos do governo criticou a atuação da Promotoria e alegou, em nota, que "a ação judicial parte de pressupostos que não são corretos e que vêm sendo esclarecidos".
No fim de setembro, o secretário de estadual de Recursos Hídricos de São Paulo, Mauro Arce, afirmou que o atual volume de água do Cantareira abastece a população até 21 de novembro. Já o governador Geraldo Alckmin (PSDB), reeleito no domingo (5), disse que o pior do período de seca já passou e que espera não usar a outra cota do volume morto.
Apesar das seguidas quedas no nível dos reservatórios, Alckmin descarta o racionamento e defende que, mesmo sem chuva na primavera e no verão, o abastecimento da Grande São Paulo está garantido até março de 2015.
Três ações fazem parte da estratégia estadual em curto prazo para amenizar a crise: bônus na conta de água, uso de outras represas como alternativa ao Cantareira para o abastecimento de determinados bairros e a redução na pressão da água distribuída à noite.