O Espírito Santo vive a pior seca dos últimos 40 anos. A estiagem que já dura 47 dias levou o governo do estado a declarar a existência de 'cenário de alerta', nesta terça-feira (27). Uma série de ações que visam minimizar os efeitos da falta de chuva foram anunciadas pela Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag). As consequências da estiagem vão desde o provável fechamento da hidrelétrica em Santa Maria de Jetibá, na região Serrana, até a redução da programação do carnaval em Piúma, no Sul do estado.
Uma das medidas anunciadas pelo governo é voltada para a agricultura: estão proibidas novas instalações de irrigação, assim como a liberação de crédito para equipamentos desse tipo. Outra determinação é que as companhias de abastecimento de água priorizem o atendimento à população e revisem seus contratos com o setor industrial.
O setor de agricultura do estado consome 70% dos recursos hídricos. Com a escassez, o presidente da Agência de Recursos Hídricos do Estado, Paulo Monteiro, reforçou o comprometimento que as companhias de água devem ter com a legislação e a população.
"Tanto a legislação, quanto a política industrial de recursos hídricos, quanto a política nacional coloca que o abastecimento humano é o prioritário. Portanto diante do cenário de escassez, a resolução sinaliza claramente que essas companhias revejam seus contratos de fornecimento com essas indústrias. Do tipo, de reduzir a vazão para esses consumidores e de modo a manter o atendimento prioritário para a população", ressaltou Monteiro.
Municípios
Os municípios de Cachoeiro de Itapemirim, Alegre e Itaperimim, na região Sul do Espírito Santo, decretaram situação de emergência devido a estiagem que atinge o estado. A seca provoca prejuízos para a agricultura, a pecuária, além de reduzir a capacidade de abastecimento à população.
Em Itapemirim, segundo o secretário de Agricultura, Luciano Henriques, houve quebra na produção de cana-de-açúcar, leite, abacaxi, café, mandioca e feijão devido à seca. “O município apresenta 50% de perda tanto na pecuária quanto na agricultura”, disse.
Em Cachoeiro de Itapemirim, segundo o prefeito Carlos Casteglione, mais de 600 propriedades sofrem com a seca. Houve perda de lavouras inteiras e córregos secaram. Não é diferente em Alegre. Em Guaçuí, desde o ano passado a prefeitura está notificando quem desperdiça água.
Na Grande Vitória, um exemplo dos estragos da seca está no leito do Rio Jucu. Em Caçaroca, Vila Velha, ele não consegue ultrapassar a barragem feita pela Cesan, que aumentou a altura do dique para criar uma lagoa que permita o abastecimento. “Pela primeira vez, em 30 anos, o curso do rio foi interrompido. Abaixo do dique não há água doce, só salgada, voltando do mar”, relatou o ambientalista Eduardo Pignaton.
Um decreto da prefeitura de Guarapari, litoral do Espírito Santo, proíbe o uso de água potável da rede pública para lavar veículos, calçadas, frentes de imóveis, ruas, encher piscinas, e outras situações que não sejam o consumo humano, a partir da última quarta-feira (28). De acordo com a administração municipal, foram considerados vários fatores antes da imposição da medida, tais como a prolongada estiagem, o clima seco e a atual falta de água. A prefeitura ainda acrescentou que os infratores poderão ser multados.
Além das proibições já citadas, os estabelecimentos comerciais especializados em lavagem de veículo e indústrias que dependam da utilização de água em seu processo produtivo deverão adotar sistema de captação de água subterrânea e sistema de reúso.
Redução do Carnaval
A estiagem que assola o Espírito Santo também atingiu um dos principais carnavais do estado. O município de Piúma, que costumava reservar 10 dias de festa para o feriado, este ano tem programação do dia 14 ao 17 de fevereiro.
O prefeito Samuel Zuqui confirmou que o motivo é evitar a falta de água. Ele disse que a medida foi tomada para atender ao pedido do governo do estado para que os municípios adotem medidas para economizar e inibir o desperdício de água. “Apesar de Piúma estar equilibrada, temos que mostrar que estamos no mesmo barco”, disse o prefeito.
Prejuízos
Com a seca e o calor, o prejuízo no campo pode chegar a R$ 1,4 bilhão. As lavouras de café são as mais prejudicadas. As folhas estão caindo e os grãos amadurecendo antes da hora. Nas Centrais de Abastecimento do Espírito Santo (Ceasa), as medidas para conter os estragos do verão começam com o resfriamento das frutas mais sensíveis ao calor, como o caqui.
De acordo com o Incaper, em todo o estado as perdas nas lavouras de café variam de 20% a 32%; na produção de leite entre 23% e 28%; e na fruticultura entre 20% e 30%. Isso representa perda de cerca de R$ 960 milhões na cafeicultura, R$ 300 milhões na fruticultura, e R$ 130,7 milhões na pecuária de leite, com base na produção e no faturamento dos produtores rurais no ano de 2014.
Na olericultura, a oferta do tomate já apresenta significativa diminuição na Ceasa. No dia 5 de janeiro, a entrada do produto na unidade superou 310.7 mil quilos, enquanto que no dia 19 de janeiro caiu para 229.9 mil kg.
Rios
O nível dos rios que abastecem a Grande Vitória – o Jucu, o Santa Maria da Vitória e o Benevente, está abaixo do esperado para o mês de janeiro. Nos últimos dias, o volume diminuiu e os rios estão com apenas 37% da vazão esperada, de acordo com o diretor-presidente da Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh), Robson Monteiro.
Em Guarapari, o rio Benevente vem dando suporte ao abastecimento da cidade, já que os rios que garantem água ao município, Jabuti e Conceição, estão no limite.
Além disso, o baixo volume de água no Rio Santa Maria da Vitória pode levar ao fechamento da segunda usina existente no local, a de Rio Bonito. Pelo mesmo motivo, segundo informações da EDP Escelsa já foi fechada a Usina Suíça.
O presidente do comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Santa Maria da Vitória, Roberto Dias Ribeiro, informou que já tinha sido comunicado do fechamento da usina, a partir do próximo dia 30. “A EDP nos comunicou que a geração de energia na unidade seria suspensa”, disse.