No período de um ano, o nível da Represa Guarapiranga, na capital paulista, teve queda de 25,5 pontos percentuais do volume de água armazenado. Além da estiagem, considerada recorde pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), a represa passou a abastecer, no primeiro semestre de 2014, parte da população até então atendida pelo Sistema Cantareira.
Em setembro de 2013, a média da capacidade da Guarapiranga era de 82,4%. No mesmo mês deste ano, o índice caiu para 56,9%, segundo dados da Sabesp. A companhia defende que a crise hídrica no estado de São Paulo é resultado do baixo nível de chuva no último verão. A estação foi a mais seca desde quando começaram as medições, há 84 anos e, mesmo no inverno, as temperaturas permaneceram altas e o tempo mais seco.
O Sistema Guarapiranga produz 14 mil litros/segundo de água e até fevereiro de 2014 atendia 3,9 milhões de pessoas. Atualmente, 4,9 milhões de moradores nas Zonas Sul e Sudeste da capital paulista são abastecidos pelo reservatório.
O aumento do número de pessoas ocorreu porque a represa passou a atender parte da população que recebia água do Sistema Cantareira, operando abaixo dos 10% mesmo com o uso da reserva técnica, conhecida como volume morto, desde quarta-feira (11). Em setembro de 2013, o nível da capacidade média era de 45,6% nas represas Cachoeira, Jaguari/Jacareí, Atibainha e Paiva Castro.
Em agosto de 2000, também implantada a interligação da Represa Billings para a Guarapiranga, mas a transferência de água só ocorre quando é necessária aumentar a capacidade de produção do sistema, de acordo com a Sabesp.
Além dos Sistemas Cantareira e Guarapiranga, o Alto Tietê também opera com volume bem abaixo da média. Ele é formado por pelas represas Paraitinga, Ponte Nova, Biritiba, Jundiaí e Taiaçupeba, situadas nas cidades de Salesópolis, Biritiba-Mirim, Mogi das Cruzes e Suzano. Em setembro do ano passado, o nível era de 57,6%. Este mês, a capacidade média é de 14,9%, para produção de 15 mil litros/segundo de água.
O Alto Tietê abastece 4,5 milhões pessoas em Arujá, Poá, Ferraz de Vasconcelos, Itaquaquecetuba, Suzano, Mauá, Mogi das Cruzes, Santo André e Guarulhos e parte da zona leste de São Paulo. Em algumas cidades, a abrangência do sistema é parcial.
Mudança na paisagem
O baixo nível da Represa Guarapiranga chamou a atenção do motorista executivo Lourival de Almeida, que registrou em fotos a situação do local há um ano e no começo deste mês. “Uma das fotos eu fiz no ano passado, antes das chuvas de verão. E este ano, mesmo depois das ‘chuvas’, caiu muito o nível”, relatou o internauta, que enviou as fotos.
Uma faixa de terra já ocupa alguns metros do leito onde, antes, existia água na represa e até grama pode ser vista em alguns pontos. O motorista executivo frequenta uma área de lazer às margens da represa aos finais de semana.
Todos os domingos, o motorista sai de casa, no bairro Parque das Águas, e segue de bicicleta até a Avenida Robert Kennedy, onde aproveita para descansar nos quiosques e fotografar a movimentação próxima à represa.
“Eu senti no coração o quanto a água baixou. Eu faço o passeio de bicicleta há três anos e nunca vi o nível tão baixo assim”, disse. Em uma das fotos, é possível ver que a grama já tomou uma parte da margem que, no ano passado, ainda era tomada pela água.