Vítimas de deslizamento em SP devem ser enterradas nesta sexta

Vítimas de deslizamento em SP devem ser enterradas nesta sexta

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:35

A adolescente de 17 anos e o menino de 3 que morreram na quinta-feira (7) após serem soterrados pelo deslizamento na Rua da Saúde, na Zona Sul de São Paulo, deverão ser enterrados nesta sexta-feira (8). A adolescente estava grávida de cinco meses. Até as 6h45 desta sexta, os corpos não haviam sido liberados do Instituto Médico-Legal (IML) Sul. De acordo com familiares da adolescente, o enterro será realizado nesta tarde, em Diadema, no ABC. Os familiares do garoto ainda não definiram o local do sepultamento.

A auxiliar de laboratório Viviane Maria, de 21 anos, mora na casa ao lado da família da criança que morreu. Ela conta que ouviu os gritos do irmão dele, de 15 anos, que chegou a ficar soterrado, mas acabou socorrido com ferimentos leves, e auxiliou a mãe do adolescente no resgate dele. A jovem acredita que a tragédia poderia ter sido pior.

“Na viela não tinha muita gente porque estava frio e era cedo. Já era um negócio que estava bem claro que ia acontecer. Hoje [quinta-feira], rolou pedra e um vizinho pediu para a minha filha entrar em casa”, disse. Segundo Viviane, houve um deslizamento de terra em 2001 na mesma área, que danificou casas. Ela mora na região há 14 anos. Agora, a casa dela foi interditada. “Todos os nossos sonhos foram jogados fora.”

O promotor de justiça de Habitação e Urbanismo de São Paulo, Mauricio Antonio Ribeiro Lopes, instaurou inquérito civil nesta quinta-feira para apurar as causas do deslizamento de terra. Ele quer investigar se houve imperícia ou negligência na realização de obras como a construção de muros de contenção sem retirar os moradores do local. Lopes determinou na portaria o prazo de 15 dias para que a Subprefeitura de Cidade Ademar e a Secretaria Municipal de Habitação apresentem todas as informações sobre a obra e sobre a desocupação da área afetada.

O promotor também pediu que o Instituto de Criminalística forneça laudo pericial sobre o acidente e que o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, forneça informações sobre qualquer estudo, parecer ou laudo que venha a ser produzido pela obra. O Ministério Público afirmou ainda que a área foi alvo de uma ação civil pública ajuizada na 6ª Vara da Fazenda Pública  de São Paulo, em 2004. Em março de 2007, a Justiça determinou prazo de 90 dias para que a Prefeitura retirasse as famílias do local. Segundo a portaria, "até o momento, a execução vem sendo procrastinada (adiada) por uma série de recursos que impediram a conclusão da ação judicial".

Resistência

O secretário municipal de Habitação de São Paulo, Ricardo Pereira Leite, visitou o local do acidente e disse que moradores resistiram a deixar o local. O planejamento da obra identificou a necessidade de remoção de 500 das 2 mil famílias que vivem no bairro. Deste total, 422 famílias foram retiradas até esta quinta-feira e estão recebendo auxílio-aluguel. Outras 78 permaneciam no local até momentos antes do acidente.

"Falta remover algumas famílias. Esse processo estava sendo realizado. Mas algumas pessoas têm dificuldade para deixar seu local de moradia", disse o secretário.

Questionado se a obra pode ter provocado o deslizamento, Pereira Leite afirmou que o risco “é inerente” ao terreno. “A obra estava sendo feita para eliminar o risco existente. A obra não foi concluída. Quando ela for, eliminará completamente o risco. O que houve foi um deslizamento de terra em um local onde uma obra estava sendo feita."

Moradores gritaram no momento em que o secretário deixava o local do acidente. "Só aparece aqui agora?", questionaram os manifestantes.

O mecânico Fernando de Jesus, de 38 anos, pai do menino encontrado morto, confirmou que a Prefeitura solicitou a retirada do imóvel. Ele disse, no entanto, que não foi informado do risco. "Ofereceram uma indenização, mas, com o dinheiro, não tinha condição de comprar nem um barraco. O pessoal da Prefeitura disse que não haveria risco nenhum de desabar."

O coordenador do projeto de mananciais da Secretaria da Habitação, Ricardo Sampaio, negou que tivesse sido procurado pelos moradores. "Conosco, do programa de mananciais, ninguém compareceu. Se tivesse comparecido, teria sido verificado."          

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