Quase um ano após o desaparecimento de Amarildo de Souza, na favela da Rocinha, na Zona Sul do Rio, familiares estão agora à procura da viúva do ajudante de pedreiro. Segundo parentes, Elizabeth Gomes da Silva vinha apresentando sintomas de depressão nos últimos meses. “De um tempo para cá, ela vinha falando muito do meu tio [Amarildo]. Voltou a beber e a usar drogas”, afirmou ao G1 a sobrinha Michele Lacerda, de 27 anos. A informação sobre o desaparecimento de Beth foi publicada nesta quinta-feira (10) na coluna do jornalista Ancelmo Gois, no jornal O Globo.
Amarildo sumiu após ser retirado de casa e levado à sede da UPP da Rocinha por PMs da unidade. Ao todo, 25 policiais são acusados pelos crimes de tortura, ocultação de cadáver, fraude processual e formação de quadrilha. Entre esses, 12 estão presos e 13 respondem processo em liberdade.
Em razão do que aconteceu com o ajudante de pedreiro, até esta quinta-feira a família havia optado por não registrar o desaparecimento de Beth na delegacia e contar com a ajuda de outras pessoas. “A polícia poderia ajudar, ou não. Somos uma família marcada. Preferimos não arriscar”, afirmou Michele, destacando que entrou em contato com entidades que ajudaram a realizar as manifestações após o desaparecimento de Amarildo, para ajudar a localizar Beth.
Após a divulgação do caso pela imprensa, a Polícia Civil começou a fazer buscas, mesmo sem haver registro formal na delegacia. "Tivemos conhecimento do desaparecimento através da imprensa hoje. Começamos a fazer diligências assim que soubemos. Entramos em contato com a família e nos informaram que ela saiu de casa por livre e espontânea vontade, após discutir com um dos filhos", afirmou o delegado Gabriel Ferrando, titular da 11ª DP (Rocinha), destacando que chamará a família para prestar depoimento.
Desaparecimento
Beth desapareceu no dia 30 de junho, quando saiu de casa e não voltou mais. “Já fomos em casa de amigos que ela poderia estar, chegamos a pensar que ela pudesse ter ido para a casa da mãe em Natal. Ligamos com muito tato, pois ela já é idosa, mas a tia Beth não chegou lá. Depois de alguns dias começou a bater o desespero”, afirmou Michele, acrescentando que, em outros momentos em que a tia teve problema com o vício, ela chegou a desaparecer, mas nunca por mais de um dia e sempre ficava na própria comunidade.
Segundo a sobrinha, a filha mais nova de Beth, de 7 anos, tem sofrido muito com a ausência da mãe. “A Milena [filha mais nova de Beth] fica olhando para a foto e perguntando: 'Será que aconteceu com a minha mãe a mesma coisa que aconteceu com meu pai?'”, contou Michele, a quem Milena também chama de mãe. Beth tem oito filhos, sendo seis deles com o ajudante de pedreiro Amarildo. Dos oito, três ainda são menores de idade.
A família torce para que ela seja localizada o mais rápido possível. “Rezamos muito para que nada de pior tenha acontecido com ela. Nada parecido com o que aconteceu o meu tio. Ainda temos três menores aqui. Mesmo eu a gente ajude muito, não suprimos a ausência da mãe. Independentemente dela ser usuária de drogas e ter tido essa recaída, é a mãe que as crianças têm”. No próximo dia 14, completa um ano do desaparecimento e morte do pedreiro Amarildo.
Entenda o caso
Amarildo sumiu após ser levado à sede da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha, onde passou por uma averiguação. Após esse processo, segundo a versão dos PMs que estavam com Amarildo no dia 14 de julho, eles ainda passaram por vários pontos da cidade do Rio antes de voltar à sede da UPP, onde câmeras de segurança mostram as últimas imagens de Amarildo, que, segundo os policiais, teria deixado o local sozinho.
O delegado Rivaldo Barbosa, titular da Divisão de Homicídios, acompanhado por peritos, fez a reconstituição do caso em duas etapas. A primeira, no início de setembro, reproduziu as ações desde a primeira abordagem dos policiais da UPP ao ajudante de pedreiro. A reconstituição durou mais de 16 horas, entre a noite de domingo (1º) e a manhã de segunda-feira (2), e foi considerada uma das maiores reconstituições já feitas pela Polícia Civil, segundo informou a assessoria da corporação.
A segunda, no dia 8 de setembro, refez o trajeto do carro da PM que levou Amarildo, com base no GPS do veículo. O aparelho mostrou que depois de deixar a Rocinha, o carro fez um percurso de quase 2h30 pela cidade. No caminho, o veículo parou três vezes antes de voltar à comunidade.