A cirurgia de redução de estômago pode deixar de ser restrita aos obesos mórbidos.
A farmacêutica Allergan conseguiu aprovar em um comitê da FDA (agência reguladora dos EUA) a redução do índice mínimo de massa corporal exigido para a cirurgia de banda gástrica.
Hoje, o paciente deve ter um IMC de 40. Se ele tiver doenças associadas ao peso, como diabetes e hipertensão, pode ser operado com IMC de 35. Se a FDA acatar a decisão do comitê, esses limites mudarão para 35 e 30. A decisão final vai levar alguns meses.
O argumento é que pessoas com obesidade moderada, mas que sofrem de diabetes, por exemplo, terão acesso a um tratamento eficaz.
A operação de banda gástrica estrangula o estômago, reduzindo a quantidade de comida que a pessoa consegue ingerir. A Allergan vende a banda usada na cirurgia.
O índice de massa corporal é calculado dividindo o peso (quilos) pela altura ao quadrado (metros). Hoje, alguém de 1,70 m teria que pesar ao menos 101 kg para ser operado. Pela regra defendida na FDA pela Allergan, o peso mínimo seria de 86,7 kg.
BRASIL
No país, especialistas em cirurgia de obesidade se dizem a favor de uma revisão das regras, mas sem o foco na operação de banda gástrica.
O presidente da Sociedade de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, Ricardo Cohen, afirma que o estrangulamento do estômago leva à perda de peso menor do que outras técnicas e não traz mudanças que controlam o diabetes.
"Nas outras cirurgias, há mudanças hormonais. Quando desviamos intestino e estômago, aumenta a secreção de hormônios da saciedade."
Apesar de ser favorável à ampliação do acesso à cirurgia, o endocrinologista Bruno Geloneze, coordenador de pesquisa em metabolismo e diabetes da Unicamp, diz que o impacto da operação no diabetes de quem tem IMC entre 30 e 35 é menor do que nos mais obesos.
"A causa do diabetes em pessoas com IMC mais baixo não é tão relacionada ao peso." Mesmo assim, há casos em que o paciente pode ser beneficiado, segundo ele.
Mas Geloneze afirma que a cirurgia de banda gástrica não deve ser incluída na discussão sobre a ampliação do acesso aos procedimentos.
"Isso é um lobby para uma técnica lucrativa para empresas e de baixa lucratividade para os pacientes."
O endocrinologista alerta ainda para os riscos de uma banalização das cirurgias e para o oportunismo de aproveitar as maiores restrições às drogas emagrecedoras para "vender" operações.
"Temos milhões de pessoas usando sibutramina, e pipoca um caso ou outro [de efeito colateral]. Se esse mesmo número de pessoas fizer cirurgia, vão aumentar os problemas associados a elas, como osteoporose."
Para o cirurgião Ricardo Cohen, os problemas nutricionais associados às cirurgias são facilmente tratáveis. "O paciente que antes tomava remédios para diabetes ou pressão vai ter que trocar isso por uma vitamina."