A amamentação é um ato de amor por diversas razões. As principais são que, ao praticá-la, é criado um maior vínculo afetivo entre a mãe e a criança e o sistema imunológico do recém-nascido é fortalecido com as propriedades exclusivas presentes no leite materno. Embora as mães recebam muitas informações ao longo da gestação, ainda há dúvidas sobre o tema.
Abaixo, o pediatra da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo esclarece 10 mitos e verdades sobre a amamentação:
1. O leite materno tem nutrientes que a fórmula não fornece.
Verdade. Do ponto de vista nutricional, só o leite materno possui todos os nutrientes que o bebê precisa, nos seis primeiros meses de vida, como proteínas, lipídios, carboidratos, vitaminas A, D, E, K e C, piridoxina, cálcio, fósforo, ferro, zinco, ainda água, sódio, cloro, potássio, folato, riboflavina, tiamina e vitamina B12, além das prioridades imunológicas que não constam no leite artificial. As fórmulas são feitas com proteínas, gorduras balanceadas, ácidos graxos específicos, tendo a lactose como principal carboidrato, e enriquecidos com ferro e aminoácidos, mas não contêm as vitaminas que possuem o leite materno. A gordura do leite materno é rica em Ômega 3, com colesterol e lipase que atuam no sistema digestivo e não estão presentes no leite artificial. O colesterol do leite materno é quase que todo absorvido e o da fórmula não, o que pode propiciar à criança o risco de doenças no coração, na fase adulta.
2. O bebê que se alimenta exclusivamente pelo leite materno tem mais imunidade.
Verdade. O leite materno possui anticorpos que propiciam imunidade para a criança contra doenças, até que o sistema imunológico esteja desenvolvido (em torno de seis meses), e que não podem ser replicados no leite artificial.
3. A alimentação da mãe reflete no leite.
Mito. Durante a amamentação, alguns alimentos são apontados erroneamente como causadores de cólicas no recém-nascido, como o feijão. Mas vale ressaltar que é sempre importante ter uma alimentação balanceada e que contenha ferro e vitamina C, com a inclusão de carnes, ovos, soja, ervilha, lentilha, feijão, vegetais de folhas verdes escuras, frutas cítricas e legumes.
4. O leite materno pode não ser suficiente para nutrição do bebê.
Mito. As mulheres que amamentam têm uma incrível capacidade de produzir leite em quantidade e qualidade suficientes para o bebê, mesmo que não estejam se alimentando adequadamente. Quando a mulher tem problemas na sua dieta e não consegue obter os nutrientes que precisa, seu organismo busca em suas reservas. As lactantes produzem, em média, de 750 a 800ml de leite, por dia. Então, elas têm que ingerir muito líquido e se alimentar adequadamente. Na maioria dos casos, a dieta habitual da mãe é suficiente para bom estado nutricional, tanto dela como do bebê.
5. O leite materno congelado perde nutrientes.
Mito. Se armazenado corretamente, não há perda de nutrientes. Em temperatura ambiente, o leite pode ser consumindo em até 10 horas. Na geladeira, deve ser colocado sempre na parte mais fria (nunca na porta) e pode ser consumido em até oito dias. No congelador, o prazo se estende para três meses e, no freezer, até seis meses.
Para tal, é preciso respeitar algumas normas:
- Usar primeiro o leite armazenado mais antigo (sempre etiquetar);
- Deixar o leite congelado na geladeira da noite para o dia, quando for utilizá-lo no dia seguinte;
- Para descongelar, colocar sob água morna ou em uma tigela de água morna. Não usar água quente, pois isso destrói os nutrientes, e não utilizar o microondas, pois aquece de forma irregular e altera a composição do leite;
- Não voltar a congelar o leite materno e descartar sobras. O recongelamento altera a composição do leite e determina a perda dos nutrientes;
- Sacudir o leite contido no frasco para misturar as camadas.
6. Mamadeira interfere no aleitamento.
Verdade, pois causa na criança uma confusão de bicos: em um, ela tem que fazer muita força para extrair o leite (peito), em outro, é bem mais fácil e requer menos esforço (mamadeira). Por isso, há grandes chances da criança parar de mamar no peito, ainda nos primeiros 60 dias de vida.
Além disso, mamadeiras e chupetas prejudicam a função motora-oral da criança, exercendo papel importante na síndrome do respirador bucal e problemas ortodônticos, pois não estimulam adequadamente os músculos da boca. Também propiciam o aparecimento de infecções e acabam reduzindo o tempo gasto pela criança sugando, contribuindo para diminuição do leite. Diversos estudos pelo mundo mostram a associação significativa entre o uso da chupeta e a menor duração do aleitamento.
7. Estresse e nervosismo atrapalham a produção de leite.
Mito. Estresse, nervosismo, medo, angústia e ansiedade não atrapalham a produção do leite, que é determinada por um hormônio chamado prolactina e estimulada pela sucção do bebê. Porém, essas emoções afetam a saída do líquido, que é realizada pelo hormônio chamado ocitocina, produzido pelo hipotálamo e armazenado na neurohipófise posterior, tendo a função de promover as contrações uterinas, reduzir o sangramento durante e após o parto e estimular a liberação do leite materno.
8. A criança deve mamar a cada três horas.
Mito. Recomendamos à lactante a livre demanda, sem ela se importar com horários rígidos da mamada. Isso é mais frequente nos primeiros 30 dias, nos quais o bebê mama quase que de hora em hora, pois não apresenta força muscular e se cansa rapidamente. Depois, ele mesmo vai espaçando os horários das mamadas, ficando algo em torno de a cada duas ou três horas, ou seja, de oito a 13 vezes em um período de 24 horas. No decorrer do desenvolvimento da criança, ela acordará quando precisar comer, às vezes, espaçando mais esses horários, chegando a até seis horas, principalmente, à noite. O importante é sempre oferecer as duas mamas, durante o ato.
9. Amamentar fortalece o vínculo entre a mãe e o bebê.
Verdade. Amamentar promove o estabelecimento de uma ligação emocional muito forte entre mãe e o bebê, o que favorece e fortalece o desenvolvimento da criança e o relacionamento dela com as outras pessoas.
10. Amamentação deve ser exclusiva até os seis meses.
Verdade. Quando o bebê mama somente leite materno durante seis meses e continua sendo amamentando até os dois anos, após introdução de outros alimentos, terá uma boa saúde até a vida adulta.