Série Mulher Cristã: As pioneiras, líderes e pastoras do Movimento Pentecostal da Rua Azusa

As mulheres sempre encontraram grande liberdade nos movimentos cristãos de renovação, caracterizados pela ação do Espírito Santo.

Fonte: Guiame, Caroline FontesAtualizado: quarta-feira, 6 de março de 2024 às 17:38
Florence Crawford, Lucy Farrow, Rachel Sizelove (Fotos: Apostolic Faith, Wikipdia)
Florence Crawford, Lucy Farrow, Rachel Sizelove (Fotos: Apostolic Faith, Wikipdia)

Neste artigo quero tratar não apenas de uma única mulher cristã, contando sua história, legado, fé e ministério como sempre tenho feito nesta “Série Mulher Cristã”.

Como nesta semana comemoramos o Dia Internacional da Mulher, me senti incumbida a trazer uma mensagem para todas as mulheres cristãs, ressaltando que temos uma identidade e voz nesta geração.

Quero que, ao lerem este artigo, se sintam encorajadas a buscarem essa afirmação e pertencimento total em Cristo, confiando no poder da sua promessa: de que nos daria o poder do Espírito Santo.

Como está escrito em Atos 1:8 – “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra”.

Essa promessa, feita por Jesus Cristo antes de ascender aos céus, atingiu corações de homens e mulheres no início do século 20, em uma época em que a sociedade ainda estava debatendo sobre o lugar legítimo de uma mulher. Todavia, essas mulheres encontraram um lugar na Rua Azusa.

O Movimento Pentecostal teve início em 1º de janeiro de 1901, o primeiro dia do século 20, quando uma mulher, Agnes Ozman, começou a falar em línguas na Faculdade Bíblica Betel, dirigida por Charles Parham.

Na Rua Azusa as mulheres desempenharam um grande papel em todo desdobramento desse movimento. Foi uma mulher, Neely Terry, quem convidou William Seymour para pastorear aquela missão. Ele foi o pai do Movimento Pentecostal, respondendo a um chamado pastoral da Igreja de Santidade, em Los Angeles.

Seymour proclamava corajosamente a mensagem pentecostal, tendo como texto principal atos 2:4, embora ele mesmo não tivesse ainda recebido a “bênção”. Por causa dessa mensagem, ele foi expulso pela pastora local, Julia Hutchins Brae. Logo ele se mudou para a casa de Richard e Ruth Asberry, na rua Bonnie Brae. Todos os presentes, inclusive Seymour, foram batizados e falaram em línguas, esse era um sinal de que o avivamento estava chegando.

Na história dos avivamentos, as mulheres sempre encontraram grande liberdade nos movimentos cristãos de renovação caracterizados pela ação do Espírito Santo, muito mais que nas instituições tradicionais. Nesses avivamentos, as mulheres que alcançavam a experiência e possuíam os dons do Espírito, eram reconhecidas como líderes mais que os ministros autorizados pela Instituição tradicional (ALMEIDA, p.313, 2020). Contudo, a questão não se tratava apenas de que as mulheres ocupassem liderança nos cultos, mas o impacto do avivamento da Rua Azusa foi significativo no contexto social, visto que as mulheres negras tinham liberdade de adorar a Deus nos cultos, e logo começaram a falar das maravilhas de Deus à suas patroas.

Foi assim que os primeiros brancos começaram a frequentar a Missão da Rua Azusa. Tanto as mulheres brancas como as negras tinham o direito de se pronunciarem na igreja de William Joseph Seymour. Na Rua Azusa, muitas mulheres de várias origens étnicas foram cheias do Espírito e capacitadas para ensinar, pregar e implantar igrejas.

Quando Seymour decidiu formar um grupo de anciãos para deliberar sobre negócios da Missão da Rua Azusa, ele escolheu quatro homens e sete mulheres. Além de apoiar a inclusão das mulheres no trabalho eclesiástico, Seymour as aconselhava a manter o fervor sem perder a humildade e confiança em Deus, dando a elas uma palavra pastoral e bíblica, admoestando-as: “Quanto mais Deus vos usa no Espírito, mais humildes, mais mansas e ternas sereis”. E mais: “Não temos o direito de colocar uma palha no seu caminho, mas de sermos homens de santidade, pureza e virtude, para sustentar o padrão e manter a mulher em seu trabalho... é o mesmo Espírito Santo na mulher como no homem” (ALMEIDA, p.314, 2020).

Vamos agora conhecer algumas mulheres desse movimento, começando pela Jennie Evans Moore, a esposa de Seymour.

Jennie Evans Moore Seymour, provavelmente, foi a primeira mulher a falar em línguas em Los Angeles. Ela nasceu em Austin, Texas, em 10 de março de 1874, filha de Jackson e Eliza Moore. Jennie saiu de sua terra natal e foi para Los Angeles em busca de emprego como criada. Depois começou a cozinhar para uma família influente na rua Bonnie Brae, 217. Ela frequentava os cultos na casa dos Asberry, na mesma rua Bonnie Brae, 214. Nesse tempo Jennie teve uma visão de três cartões, cada um tinha duas línguas escritas nele, seis idiomas: francês, espanhol, latim, grego, hebraico e hindu.

Ela foi uma das sete pessoas que estava na casa na rua Bonnie Brae a receber o batismo com o Espírito Santo, quando todos começaram a falar em línguas. Mas sobre ela, algo mais sobrenatural aconteceu, Jennie começou a falar todos seis idiomas dos cartões da visão que teve. E cada mensagem do idioma era traduzido em inglês. Mas ainda aconteceu outro milagre sobre Jennie.

Robert Owens escreveu: “Ela começou a tocar uma música bonita em um velho piano vertical e a cantar no que as pessoas diziam ser hebraico. Até aquela ocasião ela nunca tinha tocado piano, e apesar de nunca ter tido uma única lição, ela foi capaz de tocar o instrumento para o resto da sua vida” (Almeida, 314,2020).

Jennie teve muita influência na vida e no ministério de William Joseph Seymour. Após seu batismo com Espírito Santo, ela realizou um trabalho itinerante como evangelista pentecostal e depois retornou a Los Angeles, onde se casou com Seymour em 13 de maio de 1908.

Na Rua Azusa, Jennie, além de participar do conselho administrativo, era uma das evangelistas urbanas da missão e tornou-se conhecida por sua poderosa pregação e pelo seu belo canto. Ela também se tornou, copastora da Missão da Rua Azusa, servindo fielmente ao lado de Seymour durante os dias do avivamento e muitas vezes ocupava o púlpito enquanto ele estava ausente. Em 1922, depois da morte do líder da Rua Azusa, sua esposa Jennie, continuou a pastorear a Missão até a sua morte, em 1936.

Além da Jennie, temos outras mulheres que desempenharam um papel relevante no movimento pentecostal da Rua Azusa. Clara Lum foi editora do periódico Apostolic Faith e propagou as empolgantes notícias do derramamento do Espírito na Rua Azusa para outros lugares.

Florence Crawford, foi ungida para pregar, e suas reuniões no noroeste dos Estados Unidos e no Canadá eram frequentadas por um grande público. Ela estabeleceu a igreja da Fé Apostólica em Portland.

A pastora Lucy Farrow, nascida entre escravos na Virgínia, trabalhou no Movimento de Santidade em Houston na época da chegada de Charles Parham à cidade. Foi após sua chegada à Rua Azusa que ocorreu o batismo pentecostal, quando orou para que o povo o recebesse. Ela pregou no acampamento de Parham, onde também impôs as mãos para que as pessoas recebessem o dom de línguas.

Lucy liderou um avivamento em Portsmouth, na Virgínia, duzentas pessoas se renderam a mensagem de Cristo. Em seguida ela partiu para fazer missões na África, sendo uma das primeiras missionárias pentecostais a chegar à Libéria. 

A fundadora da Igreja Assembleia de Deus Central, Rachel Sizelove, possui um lugar único da Rua Azusa e na história inicial do movimento pentecostal. Em 1895, ela chegou em Los Angeles, juntamente com seu marido, Josie. Eles tinham sido evangelistas do movimento de santidade por mais de vinte anos. Então começaram a frequentar a Missão da Rua Azusa dois meses depois do início do avivamento.

Rapidamente, Rachel foi tocada por Deus, e batizada com o Espírito Santo e falou em línguas. Ela recebeu a permissão para ser uma pregadora pela Missão da Rua Azusa, mas sentiu o chamado para iniciar seu ministério em Springfield, Missouri, onde viviam seus familiares. Ela queria anunciar aos seus familiares o que Deus tinha feito por ela.

Ao chegar em Springfield, Rachel começou reuniões de oração na sala de sua casa. Naquele lugar, vários encontros ocorreram, e sua irmã, Lilian Corum, e outros familiares foram cheios do Espírito Santo. Por um bom tempo ela pregou em uma grande tenda para multidões de pessoas. Ela e o marido viajaram por toda região anunciando o Evangelho e proclamando a mensagem de Pentecostes. Um marco em sua trajetória, Rachel Sizelove teve uma visão, que registrou em um artigo para Word and Work Magazine, com o título “Uma fonte espumante para a terra inteira”: “Apareceu diante de mim uma fonte linda, borbulhante no coração da cidade de Springfield. Surgiu gradualmente de forma irresistível e começou a fluir para o leste e para o oeste, em direção ao norte e em direção ao sul, até que toda terra estava coberta com água”.

Em 1913, a visão de Rachel se provou ser profética, pois ela e sua irmã Lilian iniciaram uma igreja que se tornou a Assembleia de Deus Central, a mãe das igrejas dessa denominação. Em 1914, em Hot Springs, Arkansas, as Assembleias de Deus foram fundadas. Desde 1918, a sede das Assembleias de Deus mudou-se para Springfield, onde permanece até hoje. Dessa forma, Rachel é lembrada não pelo que fez na Rua Azusa, mas sim por ser destemida e levar a mensagem do Pentecoste de Azusa para Springfield, Missouri, futuro lugar do Conselho Geral das Assembleias de Deus.

Apesar de todo trabalho desenvolvido por homens e mulheres no Movimento Pentecostal da Rua Azusa, o lar, para os evangélicos era muito valorizado, como havia sido para os puritanos; a família oferecia um lugar de refúgio frente as pressões do mundo exterior e um local de paz, onde os donos da casa podiam exercer liderança sobre os filhos e seus servidores. A “família era a pequena igreja” o núcleo forte, que poderia reformar hábitos e a moral. 

Como vimos até aqui, no início do Pentecostalismo as mulheres foram capacitadas para várias atividades de liderança, e fundadoras de igrejas, tanto na prática como na teologia. Mas os anos se passaram, o avivamento se espalhou, e elas foram perdendo o apoio e a confiança que lhes foram depositados. Mesmo no auge do avivamento essas mulheres sofreram pressões, e preconceitos por parte daqueles que não aceitavam a teologia pentecostal e nem que as mulheres tivessem liberdade no culto. O nosso objetivo, não é trazer uma mensagem sobre o direito da mulher e seu papel legítimo na igreja ou na sociedade, não há relevância maior à do que Cristo nos deu na cruz do Calvário, morrendo em nosso lugar, ressuscitando ao terceiro dia e nos confirmando a promessa do poder pentecostal.

Portanto, nesse tempo precisamos de mulheres cheias do Espírito Santo, revestidas do poder divino, com autoridade para pregar, ensinar a doutrina e tocarem nessa geração com autoridade Espiritual. O SENHOR não mudou! “Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e eternamente” (Hebreus 13:8). Eia! Mulheres, levantem-se! Quem pode resistir ao poder do Espírito Santo! Nele está a relevância da mulher cristã. 

Referências:

ALMEIDA, Rute Salviano. Vozes Femininas nos Avivamentos: Europa e Estados Unidos: séculos 18, 19 e início do século 20. Viçosa, Ultimato, 2020.

Centelhas de Avivamentos. Jennie Evans Moore Seymour – Pioneira do Movimento Pentecostal. Disponível em: <https://felipejlcampos.blogspot.com/2017/01/jennie-evans-moore-seymour-pioneira-do.html >Acesso em: 04 de mar de 2024.

LAND,J. Steven. William Joseph Seymour – O Pai d o Movimento Pentecostal de Santidade. In: KNIGHT III. Henry(org). De Aldergaste a azusa: Visões de uma nova criação, Wesleyana, Pentecostal e de Santidade. Tradução de Cloves da Rocha Santos. Maceió: Editora Sal Cultural, 2018.

OWENS, Robert. O avivamento da Rua Azusa: o movimento pentecostal começa nos Estados Unidos. In: SYNAN, Vinson.  O século do Espírito Santo: 100 anos do avivamento pentecostal e carismático. Trad. Judson Canto. São Paulo: Vida, 2009. In: ALMEIDA, Rute Salviano. Vozes Femininas nos Avivamentos: Europa e Estados Unidos: séculos 18, 19 e início do século 20. Viçosa, Ultimato, 2020.

Caroline Fontes é formada Bacharel em Teologia; com pós- Ciência da Religião, formada em Pedagogia – UERJ, pós-graduação em Neuropsicopedagogia – FAMEESP. Reside no Rio de Janeiro, casada com pr. Ediudson Fontes, mamãe de Calebe Fontes. Diaconisa na Igreja Assembleia de Deus – Cidade Santa, professora na EBD, e idealizadora do Clube de Leitura da Mulher Cristã- Enraizadas em Cristo.

* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

Leia o artigo anterior: Série Mulher Cristã: Phoebe Worrall Palmer, Pioneira no Movimento de Santidade (Holiness)

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