Ela é do Rio, bacharel em Teologia com pós- Ciência da Religião, formada em Pedagogia – UERJ, pós-graduação em Neuropsicopedagogia – FAMEESP. Igreja Assembleia de Deus.

Caroline Fontes

Homenagem ao Dia Internacional da Mulher.

A singularidade da mulher cristã: Força, fé e propósito em um mundo em transformação

&ldquo;Deus recordar&aacute; seu trabalho, mesmo que o mundo n&atilde;o note ou o esque&ccedil;a&rdquo;.
Durante a Reforma Protestante, houve muitos acontecimentos, e os ensinamentos defendidos por Martinho Lutero acenderam uma perspectiva de liberdade espiritual e religiosa. No entanto, hoje devemos aprofundar mais o conhecimento que temos sobre esse momento hist&oacute;rico, a fim de n&atilde;o escondermos a contribui&ccedil;&atilde;o de pessoas, sejam homens ou mulheres. A hist&oacute;ria desses crist&atilde;os deve ser contada com clareza e verdade.
Sabemos que o contexto social da idade m&eacute;dia era extremamente opressor para as mulheres, e a lideran&ccedil;a eclesi&aacute;stica da &eacute;poca refor&ccedil;ava o preconceito, limitando o papel feminino na sociedade. Foi exatamente nesse cen&aacute;rio que Catarina Schutz nasceu, em 1497, em Estrasburgo (Als&aacute;cia, atual Fran&ccedil;a). Ela vinha de uma fam&iacute;lia de artes&atilde;os e n&atilde;o pretendia se casar, mas viver de seu of&iacute;cio. Ela recebeu uma educa&ccedil;&atilde;o excelente, que usou em favor da f&eacute; reformada.
Durante sua juventude, sua cidade passou por muitas mudan&ccedil;as com a divulga&ccedil;&atilde;o das doutrinas da Reforma. Catarina Zell come&ccedil;ou a ler a B&iacute;blia bem jovem e tinha muitas perguntas sobre a vida religiosa, embora a pr&aacute;tica da leitura b&iacute;blica n&atilde;o fosse apoiada pela hierarquia eclesi&aacute;stica da &eacute;poca. Ela n&atilde;o foi para um convento, algo que era comum na vida de muitas mulheres. Antes de conhecer o caminho da justifica&ccedil;&atilde;o pela f&eacute;, quando jovem Catarina sentia que sua alma estava doente at&eacute; a morte e que, por causa de seus pecados, Deus n&atilde;o poderia aceit&aacute;-la, pois julgava n&atilde;o ter feito o suficiente por Ele.
No entanto, Catariana entendeu que somos justificados pele f&eacute;, por meio eficaz da gra&ccedil;a de Deus. Confiando somente em Cristo como seu salvador, entendeu a B&iacute;blia de uma nova maneira. Al&eacute;m da convic&ccedil;&atilde;o da salva&ccedil;&atilde;o, compreendeu o chamado de Cristo em sua vida que era para ser uma &ldquo;pescadora de pessoas&rdquo;. Em pouco tempo, Catarina estava pronta para devotar a vida a esse chamado.
Mateus Zell, foi um padre cat&oacute;lico romano, ele foi o primeiro pregador a celebrar a missa em alem&atilde;o, em Estrasburgo. Tendo aderido &agrave;s ideias da Reforma, Zell desejava renovar a igreja e pregou o puro Evangelho de Cristo. Contudo, ele foi perseguido pelas autoridades cat&oacute;licas, pois suas mensagens causaram agita&ccedil;&atilde;o, e o arcebispo romano recusou-se a permitir que ele subisse novamente ao p&uacute;lpito. Mesmo assim Zell, n&atilde;o se calou. Continuou evangelizando multid&otilde;es, que aceitaram seus ensinos, e a maioria das pessoas da cidade se tornou protestante.
No meio dessa multid&atilde;o estava Catarina, por quem se apaixonou. Em 1523, eles se casaram, formando um, dos primeiros casais convertidos ao protestantismo. Dessa forma, Mateus Zell se tornou um dos primeiros padres a ser excomungado por se casar. Catarina provou ser uma jovem esposa piedosa e discreta que vivia em completa harmonia com o marido.
Catarina e Mateus Zell eram parceiros no minist&eacute;rio pastoral, eles trabalhavam juntos. Ele n&atilde;o discriminava o papel de Catarina ao servir a Cristo. &ldquo;O que nos uniu e nos manteve juntos n&atilde;o foi prata ou ouro. N&oacute;s dois possu&iacute;mos alago mais elevado: &ldquo;Cristo foi o marco adiante dos nossos olhos&rdquo; (ALMEIDA, p. 111, 2021).
No trabalho pastoral Catarina e Mateus Zell estavam lado a lado, eles acolhiam os refugiados e reformadores perseguidos, ajudando aos necessitados e visitando os doentes, os presos e os moribundos. Catarina tamb&eacute;m foi auxiliar do marido nos ensinos e prega&ccedil;&otilde;es em um grau incomum. Muitas pessoas a procuravam em busca de conselho e conforto, e ela se apoiou no pr&oacute;prio estudo religioso e de sua experi&ecirc;ncia para atend&ecirc;-las. Infelizmente, eles sofreram muitas calunias e difama&ccedil;&otilde;es eram espalhadas sobre o casal, dizendo que ela era espancada pelo marido.
Ela tamb&eacute;m foi perseguida pelos pr&oacute;prios l&iacute;deres luteranos, que a criticavam dizendo que ela queria usurpar o cargo do marido. Catarina foi chamada de &ldquo;perturbadora da paz da igreja&rdquo; por Ludwig Rabus, um antigo residente em sua casa que tinha recebido ajuda espiritual de Catarina.&nbsp; Ela ajudava as pessoas que eram dissidentes (aqueles que divergiam da teologia reformada), pois, para ela o mais importante era manter o amor crist&atilde;o. Mateus Zell, considerava a esposa &ldquo;companheira conjugal&rdquo;, &ldquo;ministra assistente&rdquo; e &ldquo;m&atilde;e dos aflitos&rdquo;, fun&ccedil;&otilde;es que ela desempenhou com louvor.
Em sua defesa ela disse: &ldquo;Eu sou uma perturbadora da paz? Sim, na verdade na minha pr&oacute;pria paz. Voc&ecirc;s chamam isso de perturbar a paz? Ao inv&eacute;s de gastar meu tempo em divertimento fr&iacute;volos, visitei os infestados pela prega e cuidei dos mortos. Eu tenho visitado os presos e aqueles que est&atilde;o sob senten&ccedil;a de morte. Algumas vezes, por tr&ecirc;s dias e tr&ecirc;s noites eu n&atilde;o comi nem dormi. Nunca usurpei o p&uacute;lpito, mas fiz mais do que qualquer ministro visitando aqueles que estavam na mis&eacute;ria. Isso est&aacute; perturbando a paz da igreja&rdquo;?&nbsp;
Catarina deu &agrave; luz a dois filhos que n&atilde;o sobreviveram, o que ela reconheceu como vontade divina. Com isso, seu foco foram incans&aacute;veis atividades sociais. Ela tamb&eacute;m escreveu ao bispo da cidade, defendendo seu posicionamento contra a suposta vida celibat&aacute;ria dos religiosos. Em seus textos vemos uma mulher confiante de profundo conhecimento b&iacute;blico e teol&oacute;gico. Mas, a C&acirc;mara Municipal de Estrasburgo n&atilde;o se agradou de que uma mulher chamasse a aten&ccedil;&atilde;o das pessoas dessa forma e a proibiu de divulgar tais escritos. A proibi&ccedil;&atilde;o foi encaminhada a Mateus, seu guardi&atilde;o perante a lei. Ela acatou a ordem at&eacute; a morte dele, mas depois continuou a publicar textos religiosos.
O final da vida de Catarina foi intensamente marcado por doen&ccedil;as e discuss&otilde;es com a nova gera&ccedil;&atilde;o de pregadores Estrasburgo, estritamente luteranos, que perseguiam todos os dissidentes com serm&otilde;es de &oacute;dio. Catarina defendia os menos favorecidos, e dava testemunho de toler&acirc;ncia com pessoas de diferentes credos por meio de suas palavras e seus atos. Ela abrigou perseguidos de muitas denomina&ccedil;&otilde;es e foi chamada de &ldquo;m&atilde;e dos reformadores&rdquo;, amparando-os em sua grande casa pastoral de Estrasburgo, nessa casa as pessoas encontravam conforto espiritual e alimento para alma e corpo.
Ela era uma crist&atilde; convicta de seu papel social, pensava no bem-estar das pessoas, ela publicou um hin&aacute;rio, a obra sob forma de quatro pequenos panfletos, a um custo bem baixo, para que todos os pudessem adquirir. Catarina trocou correspond&ecirc;ncia com os reformadores Zu&iacute;nglio, Bullinger e Lutero, a quem pediu que tratasse os su&iacute;&ccedil;os com mais delicadeza na controv&eacute;rsia da ceia do Senhor.
Catarina foi autora de tr&ecirc;s cartas panflet&aacute;rias, seis livros e outros escritos que tiveram bastante repercuss&atilde;o na &eacute;poca. Al&eacute;m de cartas apolog&eacute;ticas, publicou um texto para confortar mulheres perseguidas na congrega&ccedil;&atilde;o em Kenzingen, cujos esposos estavam refugiados em Estrasburgo.
Ela pregou publicamente no sepultamento de seu esposo e em dois sepultamentos de mulheres dissidentes: uma schwenkfelder (um nobre silesiano, refugiado em Estrasburgo, que discordava da doutrina de Lutero sobre a transubstancia&ccedil;&atilde;o, entre outras doutrinas). E outra anabatista (os anabatistas foram, inicialmente, disc&iacute;pulos de Zu&iacute;nglio, na Su&iacute;&ccedil;a, que discordaram da pr&aacute;tica do batismo infantil, afirmando que as crian&ccedil;as n&atilde;o tinham condi&ccedil;&otilde;es de passar pela experi&ecirc;ncia da regenera&ccedil;&atilde;o; por isso, seus seguidores eram rebatizados).
Catarina Zell nos mostra que, mesmo em meio a tantas dificuldades, devemos manter nosso cora&ccedil;&atilde;o firme em Cristo e viver profundamente, com entendimento, as coisas de Deus, expressando o amor de Cristo. Um legado de f&eacute; aliado ao conhecimento b&iacute;blico e teol&oacute;gico. Por mais que tentassem tir&aacute;-la desse caminho, ela n&atilde;o se permitiu desistir. Catarina foi uma pastora e disc&iacute;pula de Cristo, que viveu os valores crist&atilde;os de amor, compaix&atilde;o e servi&ccedil;o.
Refer&ecirc;ncias Bibliogr&aacute;ficas:
ALMEIDA, Rute Salviano e PINHEIRO, Jaqueline Sousa. Reformadoras: mulheres que influenciaram a reforma e ajudaram a influenciar a igreja e o mundo. 1. ed. &ndash; Rio de Janeiro: GodBooks; Thomas Nelson Brasil, 2021.
Katharina Sch&uuml;tz Zell: pregadora, te&oacute;loga, mulher reformadora, m&atilde;e na f&eacute;. Dispon&iacute;vel em:
&lt;https://legado.luteranos.com.br/textos/katharina-schutz-zell-pregadora-teologa-mulher-reformadora-mae-na-fe&gt;. Acesso em 26 nov 2024.
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Caroline Fontes &eacute; formada Bacharel em Teologia; com p&oacute;s- Ci&ecirc;ncia da Religi&atilde;o, formada em Pedagogia &ndash; UERJ, p&oacute;s-gradua&ccedil;&atilde;o em Neuropsicopedagogia &ndash; FAMEESP. Reside no Rio de Janeiro, casada com pr. Ediudson Fontes, mam&atilde;e de Calebe Fontes. Diaconisa na Igreja Assembleia de Deus &ndash; Cidade Santa, e idealizadora do Clube de Leitura da Mulher Crist&atilde;- Enraizadas em Cristo.
* O conte&uacute;do do texto acima &eacute; uma colabora&ccedil;&atilde;o volunt&aacute;ria, de total responsabilidade do autor e n&atilde;o reflete necessariamente a opini&atilde;o do Portal Guiame.
Leia o artigo anterior: <a style="color: #800000;" href="https://guiame.com.br/colunistas/caroline-fontes/serie-mulher-crista-catarina-von-bora-e-seu-papel-na-reforma-protestante.html">S&eacute;rie Mulher Crist&atilde;: Catarina von Bora e seu papel na Reforma Protestante</a>

Catarina Zell foi uma pastora e discípula de Cristo, que viveu os valores cristãos de amor, compaixão e serviço.

Série Mulher Cristã: Catarina Zell, auxílio pastoral na Reforma Protestante

Nesse m&ecirc;s de outubro a S&eacute;rie Mulher Crist&atilde;, far&aacute; uma homenagem &agrave;s mulheres reformadoras que contribu&iacute;ram nos desdobramentos da <a style="color: #800000;" href="https://guiame.com.br/gospel/mundo-cristao/ha-506-anos-95-teses-de-martinho-lutero-marcaram-historia-da-igreja.html">Reforma Protestante</a>, elas foram escritoras apologetas, humanit&aacute;rias, piedosas, esposas e m&atilde;es, cheias de f&eacute;, altru&iacute;stas e m&aacute;rtires convictas. Acima de tudo, mensageiras do Evangelho de Cristo.&nbsp;
A Reforma Protestante do s&eacute;culo 16, liderada por <a style="color: #800000;" href="https://guiame.com.br/gospel/mundo-cristao/herois-da-fe-martinho-lutero-o-icone-da-reforma-protestante.html">Martinho Lutero</a> (1483-1546), um monge alem&atilde;o agostiniano que queria abrir uma discuss&atilde;o reformat&oacute;ria na pr&oacute;pria igreja romana na Alemanha, foi marcada pelas 95 teses afixadas na porta da Igreja do Castelo Wittenberg em 31 de outubro de 1517.
Lutero traduziu a B&iacute;blia do latim para o alem&atilde;o, pois acreditava que todos os fi&eacute;is deveriam ter acesso &agrave;s Escrituras Sagradas.&nbsp;
<img style="display: block; margin-left: auto; margin-right: auto;" src="https://thumbor.guiame.com.br/unsafe/smart/https://media.guiame.com.br/archives/2023/10/31/2006934433-95-teses.jpg" alt="" width="600" />
A Reforma Protestante foi um divisor de &aacute;guas no cristianismo ocidental. Outros reformadores, como Jo&atilde;o Calvino, que liderou a reforma na Fran&ccedil;a (1509-1564); Philipp Melanchthon, colaborador e amigo de Lutero (1497-1560); Ulrico Zu&iacute;nglio, que liderou a reforma na Su&iacute;&ccedil;a (1484-1531); e John Wycliffe, que elaborou novas interpreta&ccedil;&otilde;es da doutrina crist&atilde;, influenciaram Lutero. Jan Hus, considerado um dos primeiros reformadores (1369-1415), tamb&eacute;m figura entre os principais nomes dessa &eacute;poca.
Mas onde estavam as mulheres nesse per&iacute;odo t&atilde;o importante para o Cristianismo?
De acordo com a escritora e te&oacute;loga Rute Salviano, h&aacute; evid&ecirc;ncias de que as mulheres durante o per&iacute;odo da Reforma, ao terem acesso &agrave;s Escrituras, se encantaram com a doutrina da salva&ccedil;&atilde;o pela f&eacute; e a divulgaram. No entanto, sua participa&ccedil;&atilde;o n&atilde;o foi reconhecida nem elogiada, uma vez que, desde os prim&oacute;rdios do cristianismo, a mulher era vista como uma "Eva", a respons&aacute;vel por levar o homem ao pecado e &agrave; sua queda. "Ela seria incapaz intelectualmente, mais d&eacute;bil fisicamente e mais propensa &agrave;s tenta&ccedil;&otilde;es sexuais" (ALMEIDA, p. 19, 2021).
De fato, a Reforma n&atilde;o modificou o papel tradicional da mulher, que se limitava &agrave;s tarefas dom&eacute;sticas, &agrave; educa&ccedil;&atilde;o dos filhos e ao sil&ecirc;ncio na igreja. No entanto, a abertura &agrave; leitura b&iacute;blica possibilitou o acesso &agrave; educa&ccedil;&atilde;o religiosa. A persegui&ccedil;&atilde;o e o mart&iacute;rio desenvolveram sua principal atribui&ccedil;&atilde;o como crist&atilde;: a de comunicadora da f&eacute; (ALMEIDA, p. 20, 2021). Neste artigo, destacaremos a lideran&ccedil;a de Catarina von Bora ao lado de seu esposo Martinho Lutero. Lutero enfrentou corajosamente as pr&aacute;ticas antib&iacute;blicas da Igreja Cat&oacute;lica Romana, o que marcou o in&iacute;cio da Reforma Protestante. Desde 31 de outubro de 1517, sua vida n&atilde;o foi mais a mesma, e o grande &ecirc;xito que obteve em sua jornada ministerial nos anos seguintes contou com o fiel apoio de sua esposa, &ldquo;querida Kate&rdquo; (Catarina von Bora), como ele a chamava carinhosamente.
Catarina von Bora nasceu perto de Leipzig, na Alemanha, em 1499. Filha de Hans von Bora e Anna von Haugwitz, tinha tr&ecirc;s irm&atilde;os e provavelmente uma irm&atilde;. Sua m&atilde;e faleceu quando Catarina tinha apenas 5 anos, e logo depois, seu pai se casou novamente, enviando-a a um convento beneditino em Brehna, onde seria criada e educada pelas freiras. Aos 10 anos, por decis&atilde;o do pai, Catarina foi transferida para o convento cisterciense de Marienthron, em Nimbschen. Ela se tornou uma freira enclausurada aos 16 anos, mas sua qualidade de vida piorou, pois o espa&ccedil;o era pequeno e desconfort&aacute;vel.
Com o grande acontecimento da Reforma, os escritos de Lutero se espalharam por toda a Europa, chegando aos conventos e mosteiros, ainda que de forma infiltrada. Assim, Catarina teve acesso aos ensinamentos da Reforma. Nesse per&iacute;odo, cerca de 44 freiras viviam no convento em Nimbschen, onde Catarina passou cerca de 13 a 14 anos. O convento, al&eacute;m de v&aacute;rias propriedades, possu&iacute;a tamb&eacute;m 367 rel&iacute;quias que eram veneradas. Catarina e mais 11 freiras foram impactadas pelas doutrinas da salva&ccedil;&atilde;o pela f&eacute; e, com uma consci&ecirc;ncia inquieta, buscaram o conselho de Lutero, que as incentivou a fugir e garantiu que as ajudaria.
De acordo com Salviano, Lutero contou com a assist&ecirc;ncia de Leonard Koppe, um comerciante que entregava barris de arenque defumado e era conselheiro municipal de uma cidade situada entre o convento e Wittenberg. Ao chegarem em Torgau, foram bem recebidas pela popula&ccedil;&atilde;o local. Tr&ecirc;s das ex-freiras logo puderam retornar para perto de suas fam&iacute;lias (Gertraud von Schellemberg, Else von Gauditz e uma terceira de nome desconhecido). As outras nove seguiram viagem para Wittenberg, onde foram acolhidas pelos reformadores, incluindo Martinho Lutero e Filipe Melanchthon, que procuraram fam&iacute;lias dispostas a receber as mo&ccedil;as, agora libertas do cativeiro do convento.
Catarina von Bora tinha 24 anos quando saiu do convento. Por um tempo, ela morou com a fam&iacute;lia de Filipe Reichenbach e, posteriormente, at&eacute; seu casamento com Lutero, na casa do grande pintor e farmac&ecirc;utico Lucas Cranach e sua esposa, Barbara Cranach. Ela permaneceu com eles por dois anos e se tornou uma grande amiga de Barbara. Nesse per&iacute;odo, trabalhou e provavelmente aprendeu muito sobre a vida em Wittenberg, n&atilde;o apenas sobre economia dom&eacute;stica, mas tamb&eacute;m sobre o conte&uacute;do da mensagem reformat&oacute;ria, que Cranach transformava em arte em seu ateli&ecirc;. &Eacute; interessante notar que o retrato mais conhecido de Catarina von Bora foi pintado por Lucas Cranach.
Acredita-se que Catarina von Bora era muito atraente, e seu primeiro amor foi um jovem chamado Jer&ocirc;nimo. Eles se apaixonaram e tinham planos de se casar, mas a fam&iacute;lia dele se op&ocirc;s, e ele desistiu do matrim&ocirc;nio. Ap&oacute;s isso, Catarina se mudou para a casa de outra fam&iacute;lia, onde trabalhou cuidando de crian&ccedil;as, enquanto Lutero, com a ajuda do amigo Nicolaus von Amsdorf, tentava encontrar um esposo para ela. Quando sugeriram que ela se casasse com o pastor Casper Glatz, Catarina recusou, pois n&atilde;o tinha nenhuma afei&ccedil;&atilde;o por ele. No entanto, ela afirmou que aceitaria se casar com Nicolaus ou, se ele n&atilde;o quisesse, com Lutero.
Sup&otilde;e-se que Lutero n&atilde;o havia considerado ter uma esposa naquele momento, apesar de ser contr&aacute;rio ao celibato dos cl&eacute;rigos. Contudo, o reformador alem&atilde;o n&atilde;o hesitou e, mesmo sendo 16 anos mais velho, pediu Catarina em casamento. A princ&iacute;pio, os dois n&atilde;o estavam apaixonados, mas o amor surgiu com o tempo.
No dia 13 de junho de 1525, foi realizada a cerim&ocirc;nia de casamento, apenas 12 dias ap&oacute;s o pedido. Lutero tinha 42 anos e Catarina, 26. O casal se estabeleceu no antigo mosteiro agostiniano de Wittenberg, que receberam como presente do pr&iacute;ncipe Frederico. Eles se amaram mais do que poderiam imaginar. No entanto, enfrentaram forte oposi&ccedil;&atilde;o &agrave; uni&atilde;o, devido &agrave; diferen&ccedil;a de idade, ao fato de o matrim&ocirc;nio ser considerado um esc&acirc;ndalo e ao temor de que Lutero pudesse ser morto a qualquer momento. No entanto, nada impediu que o casamento acontecesse.
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Catarina foi uma grande administradora e "hospedeira" de seu lar. Em v&aacute;rias conversas e discuss&otilde;es com estudantes reformadores que aconteciam ao redor de sua mesa, Lutero disse: &ldquo;Eu n&atilde;o trocaria minha Kathe nem pela Fran&ccedil;a nem por Veneza. Ela me foi dada por Deus, assim como eu fui dado a ela.&rdquo; O pouco que sabemos sobre Catarina von Bora est&aacute; registrado nos escritos de Lutero e nas cartas que ele escreveu para ela. Infelizmente, as cartas escritas por ela n&atilde;o foram preservadas, mas o reformador mencionou a esposa v&aacute;rias vezes em seus escritos.
A vida de ambos mudou significativamente. Catarina era disciplinada e organizada, enquanto Lutero vivia de maneira mais despreocupada e desordenada. Ela transformou o convento negro em um lar acolhedor. A primeira coisa que fez, pouco tempo ap&oacute;s o casamento, foi trocar todos os colch&otilde;es de palha, pintar as paredes dos quartos com cal e mandar construir um por&atilde;o. Ela tamb&eacute;m construiu uma cervejaria, preparou a horta e o pomar da casa, e Lutero teve que arranjar sementes. Al&eacute;m disso, Catarina mandou cavar um po&ccedil;o e, em 1541, instalou um banheiro, um grande luxo para a &eacute;poca.
Catarina n&atilde;o s&oacute; administrava as finan&ccedil;as da fam&iacute;lia, mas tamb&eacute;m era empreendedora, adquirindo terras para novos investimentos em agricultura, planta&ccedil;&otilde;es e cria&ccedil;&atilde;o de animais. Embora Lutero participasse da administra&ccedil;&atilde;o, a maior responsabilidade reca&iacute;a sobre Catarina, que tinha muitos afazeres na casa (anteriormente um convento) de 40 quartos, constantemente ocupados por homens e mulheres refugiados, estudantes universit&aacute;rios e pelos seis filhos do casal. Lutero tamb&eacute;m abrigou sete sobrinhos e mais quatro filhos de um amigo que havia perdido a esposa. Os demais quartos eram alugados para estudantes de Lutero.
Catarina contava com criados para auxili&aacute;-la nas tarefas e acordava &agrave;s 4 horas da manh&atilde;, o que fez com que Lutero a chamasse de &ldquo;a estrela da manh&atilde; de Wittenberg.&rdquo; Ela se sentia realizada em seu trabalho como esposa e m&atilde;e. O casal teve tr&ecirc;s filhas e tr&ecirc;s filhos: Jo&atilde;o, Elizabeth, Madalena, Martim, Paulo e Margareth. Atrav&eacute;s de quadros ilustrativos, pode-se recordar que a fam&iacute;lia teve momentos felizes em casa. No entanto, a persegui&ccedil;&atilde;o por conta da Reforma e a perda de duas filhas &mdash; Elizabeth, que faleceu antes de completar um ano, e Madalena, a alegria do lar, que partiu com apenas 12 anos &mdash; trouxeram ainda mais sofrimento &agrave; fam&iacute;lia.
Catarina auxiliou Lutero em seus momentos de depress&atilde;o e clausura. Ele enfrentava constantes persegui&ccedil;&otilde;es e, em v&aacute;rias ocasi&otilde;es, era apedrejado. Catarina cuidava de suas feridas com cataplasmas e massagens, al&eacute;m de se preocupar em garantir que ele se alimentasse, mesmo quando estava imerso em seus estudos.
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Em fam&iacute;lia, eles cultivavam o h&aacute;bito de cantar louvores e fazer leituras da B&iacute;blia. O casal educou seus filhos com muito carinho. Lutero expressou seu amor por eles em suas cartas, enquanto Catarina n&atilde;o negligenciava as crian&ccedil;as e cuidava delas de maneira exemplar.
Catarina von Bora n&atilde;o escreveu nenhum livro nem jamais pregou um &uacute;nico serm&atilde;o, mas seu inestim&aacute;vel aux&iacute;lio possibilitou que seu marido realizasse feitos not&aacute;veis na hist&oacute;ria da igreja (ALMEIDA, p. 128, 2021). Ela gostava de ler, e Lutero a incentivou a estudar a B&iacute;blia, incluindo a memoriza&ccedil;&atilde;o de algumas passagens. Com isso, Catarina adquiriu sabedoria e foi capaz de oferecer bons conselhos a Lutero, agindo e falando de forma apropriada nos momentos certos.
Ao longo dos anos, Lutero n&atilde;o se cansou de exaltar os valores e as qualidades da companheira em cartas e escritos. Sobre ela, ele escreveu: &ldquo;[Minha querida Kate] me ajuda em meu trabalho e, acima de tudo, ama a Cristo. Depois dele, ela &eacute; o maior presente que Deus j&aacute; me deu nesta vida. Se algum dia vierem a escrever a hist&oacute;ria de tudo o que tem acontecido (a Reforma), espero que o nome dela apare&ccedil;a junto ao meu. Eu oro por isso [...]&rdquo;.
Contudo, os dias se tornaram mais dif&iacute;ceis para Catarina com a morte de Lutero em 18 de fevereiro de 1546, longe de casa, o que impediu que ela estivesse ao seu lado antes do falecimento. Catarina ficou devastada pela perda do marido e, ao longo do tempo, sua vida se tornou ainda mais dif&iacute;cil devido a v&aacute;rias perdas financeiras, obrigando-a a depender de ajuda para sobreviver com seus dois filhos menores. Apesar disso, sua f&eacute; em Deus n&atilde;o desmoronou.
Em 1552, ao fazer uma viagem para Torgau com os filhos mais novos, a fim de escapar de um surto de peste negra, os cavalos da carruagem se assustaram e dispararam descontroladamente. Catarina foi arremessada para fora e caiu em uma vala, machucando gravemente as costas. Sua filha Margarethe, de 18 anos, cuidou dela, acreditando que a m&atilde;e iria se recuperar. No entanto, Catarina n&atilde;o se recuperou e faleceu tr&ecirc;s meses depois do acidente, em 20 de dezembro de 1552, aos 53 anos.
Catarina von Bora desempenhou um papel fundamental no sucesso de Martinho Lutero, e &eacute; uma perda significativa n&atilde;o mencionar ou diminuir sua contribui&ccedil;&atilde;o de lideran&ccedil;a ao lado do reformador. Ela foi uma mulher transformada pela verdade do evangelho, que teve a coragem de testemunhar sua f&eacute; em tempos incertos e dif&iacute;ceis para o contexto das mulheres. Catarina trabalhou de maneira diligente e cooperou com o progresso da Reforma, tornando-se um farol nos momentos sombrios de Lutero, animando-o e confortando-o com sua f&eacute; e devo&ccedil;&atilde;o a Deus. Com certeza, o legado dela atravessa gera&ccedil;&otilde;es, deixando-nos um grande exemplo de mulher crist&atilde;, convicta de seu prop&oacute;sito em Cristo.
Refer&ecirc;ncias Bibliogr&aacute;ficas:
ALMEIDA, Rute Salviano; PINHEIRO, Jaqueline Sousa. Reformadoras: mulheres que influenciaram a Reforma e ajudaram a moldar a igreja e o mundo. 1. ed. Rio de Janeiro: GodBooks; Thomas Nelson Brasil, 2021.
Catarina von Bora: Uma Mulher Forte, Corajosa e Empoderada do movimento da Reforma, do s&eacute;culo XVI. Dispon&iacute;vel em: https://revista.fuv.edu.br/index.php/reflexus/article/view/500/407&gt; Acesso em 16 out 2024.
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Caroline Fontes &eacute; formada Bacharel em Teologia; com p&oacute;s- Ci&ecirc;ncia da Religi&atilde;o, formada em Pedagogia &ndash; UERJ, p&oacute;s-gradua&ccedil;&atilde;o em Neuropsicopedagogia &ndash; FAMEESP. Reside no Rio de Janeiro, casada com pr. Ediudson Fontes, mam&atilde;e de Calebe Fontes. Diaconisa na Igreja Assembleia de Deus &ndash; Cidade Santa, e idealizadora do Clube de Leitura da Mulher Crist&atilde;- Enraizadas em Cristo.
* O conte&uacute;do do texto acima &eacute; uma colabora&ccedil;&atilde;o volunt&aacute;ria, de total responsabilidade do autor e n&atilde;o reflete necessariamente a opini&atilde;o do Portal Guiame.
Leia o artigo anterior: <a style="color: #800000;" href="https://guiame.com.br/colunistas/caroline-fontes/serie-mulher-crista-o-legado-de-sarah-pierrepont-edwards.html">S&eacute;rie Mulher Crist&atilde;: O legado de Sarah Pierrepont Edwards</a>

Neste artigo, destacaremos a liderança de Catarina von Bora ao lado de seu esposo Martinho Lutero.

Série Mulher Cristã: Catarina von Bora e seu papel na Reforma Protestante

Sarah Edwards foi uma verdadeira missionária, exercendo o dom da hospitalidade, além de aconselhar e encorajar muitos jovens pastores que passaram um tempo em sua casa. 

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Susannah Thompson nasceu em 15 de janeiro de 1832, nos subúrbios de Londres. Ela era uma menina inteligente, tímida, com um bom senso de humor, e foi educada em um lar cristão.


Caroline Fontes

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