Getúlio Cidade é escritor, tradutor e hebraísta, autor do livro A Oliveira Natural: As Raízes Judaicas do Cristianismo e do blog de mesmo nome onde publica estudos bíblicos com ênfase na história, língua e cultura judaicas relacionadas ao cristianismo.

Getúlio Cidade

A constru&ccedil;&atilde;o do Tabern&aacute;culo de Mois&eacute;s e do Templo de Salom&atilde;o segue um padr&atilde;o ditado por Deus que encontra um paralelo em algo muito superior &mdash; a Cria&ccedil;&atilde;o do universo. Ao recorrer &agrave; l&iacute;ngua original da Tor&aacute;, &eacute; poss&iacute;vel tra&ccedil;ar alguns pontos desse paralelo misterioso.
A come&ccedil;ar pelo Tabern&aacute;culo, as instru&ccedil;&otilde;es e defini&ccedil;&otilde;es de sua estrutura, seu mobili&aacute;rio e seu servi&ccedil;o pelos sacerdotes ocupam quase metade do livro de &Ecirc;xodo, o que por si j&aacute; deveria chamar nossa aten&ccedil;&atilde;o. Ele come&ccedil;ou a ser erguido no primeiro dia do primeiro m&ecirc;s (Nisan), sendo inaugurado exatamente um ano depois. O primeiro dia do ano religioso, cuja contagem fora determinada por Deus (&Ecirc;x. 12:1), marcava um novo in&iacute;cio. Assim tamb&eacute;m foi o in&iacute;cio da Cria&ccedil;&atilde;o, contado como o primeiro dia &mdash; yom echad (Gn. 1:5). Em rela&ccedil;&atilde;o &agrave; constru&ccedil;&atilde;o do Templo, Salom&atilde;o levou sete anos para edific&aacute;-lo &mdash; um ano para cada dia da Cria&ccedil;&atilde;o.
Deus instrui Mois&eacute;s a iniciar a montagem do Tabern&aacute;culo pelo Santo dos Santos, onde seria posta a arca do testemunho, o lugar de sua habita&ccedil;&atilde;o. A arca, onde repousava o Esp&iacute;rito de Deus, era o ponto de refer&ecirc;ncia dessa arquitetura sagrada. Sem ela, n&atilde;o fazia sentido erguer um Tabern&aacute;culo. O livro de G&ecirc;nesis (Bereshit) inicia declarando que o Esp&iacute;rito de Deus pairava sobre a face das &aacute;guas. Ele &eacute; o ponto de partida de toda a Cria&ccedil;&atilde;o, assim como foi para o Tabern&aacute;culo.
&ldquo;Haja luminares no firmamento&rdquo;
Em G&ecirc;nesis 1:6, Deus cria uma separa&ccedil;&atilde;o, uma esp&eacute;cie de cobertura sideral, entre as &aacute;guas que estavam acima e abaixo, a qual &eacute; chamada de rakia. Esta palavra &eacute; traduzida algumas vezes por firmamento e se refere &agrave; ab&oacute;bada celeste, ao arco vis&iacute;vel do c&eacute;u. &Eacute; a mesma palavra empregada para se referir ao &ldquo;teto&rdquo; da habita&ccedil;&atilde;o de Deus no Salmo 150:1. Ela demonstra uma liga&ccedil;&atilde;o direta entre a Cria&ccedil;&atilde;o e o santu&aacute;rio de Deus.
Deus ordena a Mois&eacute;s que mantenha a l&acirc;mpada da menor&aacute; sempre acesa no santu&aacute;rio (&Ecirc;x. 27:20). A palavra traduzida por l&acirc;mpada &eacute; maor. &Eacute; a mesma empregada no plural (meorot) para se referir aos luminares no firmamento &mdash; o sol e a lua &mdash;, a fim de fazerem separa&ccedil;&atilde;o entre o dia e a noite, conforme G&ecirc;nesis 1:14. Assim como os luminares do dia e da noite n&atilde;o cessam de brilhar, a luz da menor&aacute; deveria brilhar continuamente diante do Senhor.
Mesmas palavras-chaves
Como o exemplo da luz da menor&aacute;, h&aacute; um paralelo ineg&aacute;vel entre a Cria&ccedil;&atilde;o e a edifica&ccedil;&atilde;o do Tabern&aacute;culo, especialmente quando se analisa a Tor&aacute; no hebraico. &ldquo;Viu (vayar) Deus tudo o que tinha feito, e que era (ve&rsquo;hineh) muito bom&rdquo; (Gn. 1:31). Ap&oacute;s criar o homem e a mulher, Ele tamb&eacute;m os aben&ccedil;oa: &ldquo;Deus os aben&ccedil;oou (va&rsquo;yvarech otam)&rdquo; (Gn. 1:28).
Ao terminar o Tabern&aacute;culo, &ldquo;Mois&eacute;s inspecionou (vayar) toda a obra e viu (ve&rsquo;hineh) que a tinham feito como o Senhor ordenara. Ent&atilde;o, Mois&eacute;s os aben&ccedil;oou (va&rsquo;yvarech otam)&rdquo; (&Ecirc;x. 39:43). N&atilde;o somente a ideia transmitida nesses textos &eacute; similar na Cria&ccedil;&atilde;o e na constru&ccedil;&atilde;o do Tabern&aacute;culo, como as palavras-chaves s&atilde;o exatamente as mesmas, com os verbos na mesma conjuga&ccedil;&atilde;o.
Perceba tamb&eacute;m a semelhan&ccedil;a destes vers&iacute;culos: &ldquo;Havendo Deus acabado (va&rsquo;ychal) no s&eacute;timo dia a obra que fizera (malacht&ocirc;)&rdquo; (Gn. 2:2); e &ldquo;Assim Mois&eacute;s acabou (va&rsquo;ychal) a obra (hamelachah)&rdquo; (&Ecirc;x. 40:33).
Na vis&atilde;o que Isa&iacute;as teve do Senhor, os serafins &ldquo;clamavam uns aos outros dizendo: Santo, Santo, Santo &eacute; o Senhor dos Ex&eacute;rcitos; toda a Terra est&aacute; cheia da sua gl&oacute;ria&rdquo; (Is. 6:3). O material que melhor simboliza a gl&oacute;ria de Deus nas Escrituras &eacute; o ouro. N&atilde;o &eacute; de surpreender que todo o Templo de Salom&atilde;o fosse revestido de ouro. Era uma maneira de representar que toda sua Cria&ccedil;&atilde;o est&aacute; revestida de sua gl&oacute;ria.
Pai da Cria&ccedil;&atilde;o
O plano de constru&ccedil;&atilde;o do Tabern&aacute;culo, mostrado a Mois&eacute;s pelo Senhor no monte Sinai, al&eacute;m de preparar um lugar onde repousaria a gl&oacute;ria de Deus, continha s&iacute;mbolos que replicavam a Cria&ccedil;&atilde;o pelo Alt&iacute;ssimo. Qual era a ideia a ser transmitida?
Os povos pag&atilde;os da antiguidade edificavam templos para seus deuses que ficavam confinados a esses espa&ccedil;os. A constru&ccedil;&atilde;o do Tabern&aacute;culo e, mais tarde, do Templo de Salom&atilde;o, por outro lado, era um eco da Cria&ccedil;&atilde;o, uma forma de dizer que o Deus de Israel n&atilde;o estava limitado a uma edifica&ccedil;&atilde;o feita por m&atilde;os humanas, mas era Ele pr&oacute;prio o Criador do c&eacute;u, da Terra e de tudo que neles h&aacute;, al&eacute;m de ter formado o homem do p&oacute;.
Por isso, em sua ora&ccedil;&atilde;o inaugural do Templo, Salom&atilde;o exclamou: &ldquo;Mas, na verdade, habitaria Deus na Terra? Os c&eacute;us e at&eacute; o c&eacute;u dos c&eacute;us n&atilde;o te podem conter, quanto menos esta casa que eu edifiquei&rdquo; (1Re 8:27).
Longe da tentativa de confinar o Todo-Poderoso em uma constru&ccedil;&atilde;o humana, o Tabern&aacute;culo e o Templo eram um modelo simb&oacute;lico de afirmar que Ele &eacute; o Rei do universo e o Pai da Cria&ccedil;&atilde;o.
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Get&uacute;lio Cidade &eacute; escritor, tradutor e hebra&iacute;sta, autor de A Oliveira Natural: As Ra&iacute;zes Judaicas do Cristianismo e do blog www.aoliveiranatural.com.br.
* O conte&uacute;do do texto acima &eacute; uma colabora&ccedil;&atilde;o volunt&aacute;ria, de total responsabilidade do autor e n&atilde;o reflete necessariamente a opini&atilde;o do Portal Guiame.
Leia o artigo anterior: <a style="color: #800000;" href="https://guiame.com.br/colunistas/getulio-cidade/pentecostes-e-contagem-do-omer-entre-promessa-e-colheita.html">Pentecostes e a contagem do &ocirc;mer: Entre a promessa e a colheita</a>

A começar pelo Tabernáculo, as instruções e definições de sua estrutura, seu mobiliário e seu serviço pelos sacerdotes ocupam quase metade do livro de Êxodo.

O Tabernáculo como modelo da Criação

No pr&oacute;ximo domingo (1&ordm; de junho), celebra-se Pentecostes, tamb&eacute;m conhecido como Shavuot no calend&aacute;rio b&iacute;blico. Esta &eacute; a &uacute;ltima das Festas da Primavera e representa a conclus&atilde;o do ciclo iniciado na P&aacute;scoa. Embora muitas vezes lembrado apenas pelo evento de Atos 2, Pentecostes tem ra&iacute;zes profundamente conectadas ao calend&aacute;rio agr&iacute;cola de Israel e &agrave; progressiva revela&ccedil;&atilde;o de Deus &agrave; humanidade.
Diferente de outras festas, Pentecostes n&atilde;o possui uma data fixa. A B&iacute;blia ordena que seja celebrada no quinquag&eacute;simo dia ap&oacute;s a Festa das Prim&iacute;cias, por meio de uma pr&aacute;tica chamada contagem do &ocirc;mer (Sefirat HaOmer). Durante sete semanas completas, ao p&ocirc;r do sol, o povo conta os dias com uma b&ecirc;n&ccedil;&atilde;o espec&iacute;fica at&eacute; completar cinquenta.
Esse ato de contar, conforme descrito em Lev&iacute;tico 23:15-16, tem um significado que vai al&eacute;m da simples marca&ccedil;&atilde;o de tempo. &Eacute; um convite ao povo de Deus a entrar num processo de expectativa espiritual, acompanhando a transi&ccedil;&atilde;o da colheita do centeio (in&iacute;cio da primavera) at&eacute; a colheita do trigo, o gr&atilde;o mais nobre da terra e principal oferta de cereais em Pentecostes na &eacute;poca do Templo.
A contagem nos ensina a observar o crescimento dos campos e sua crescente cor dourada, dia ap&oacute;s dia, e assim reconhecer a provis&atilde;o di&aacute;ria do Senhor, desde os primeiros brotos at&eacute; os campos maduros, prontos para a ceifa. Cada dia contado se transforma em um ato de gratid&atilde;o e f&eacute;.
O Deus que conta
O ato de contar n&atilde;o &eacute; estranho &agrave; B&iacute;blia. O livro de N&uacute;meros (Bamidbar) mostra como Deus instrui a contagem do povo, tribo por tribo. Ele tamb&eacute;m conta as estrelas e lhes d&aacute; nomes (Sl 147:4) e conhece at&eacute; os n&uacute;meros de fios de cabelo em nossas cabe&ccedil;as (Mt 10:30). O salmista ainda ora: "Ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos cora&ccedil;&atilde;o s&aacute;bio" (Sl 90:12).
Aprendemos a contar nossos anos passados, mas n&atilde;o podemos contar os dias que est&atilde;o adiante. Entretanto, essa &eacute; a peti&ccedil;&atilde;o do salmista. Definitivamente, se soub&eacute;ssemos o tempo de vida que nos resta, viver&iacute;amos de forma muito mais s&aacute;bia e n&atilde;o desperdi&ccedil;ar&iacute;amos minutos, horas ou dias com tolices.
A contagem do &ocirc;mer, portanto, &eacute; um convite de Deus para percebermos o tempo de forma diferente &mdash; n&atilde;o como rotina, mas como revela&ccedil;&atilde;o e prepara&ccedil;&atilde;o.
Do Egito ao Sinai: Uma Jornada de Transforma&ccedil;&atilde;o
Segundo a tradi&ccedil;&atilde;o judaica, o primeiro Pentecostes aconteceu cinquenta dias ap&oacute;s a sa&iacute;da do Egito. A travessia do Mar Vermelho simbolizou uma ressurrei&ccedil;&atilde;o coletiva: o povo condenado &agrave; escravid&atilde;o e morte ressurgiu para uma nova vida do outro lado do mar. Ap&oacute;s essa experi&ecirc;ncia de salva&ccedil;&atilde;o, Israel chegou ao Monte Sinai, onde recebeu a Tor&aacute;, selando sua alian&ccedil;a com Deus.
Esse processo reflete um padr&atilde;o: liberta&ccedil;&atilde;o, amadurecimento e revela&ccedil;&atilde;o. Mois&eacute;s passou quarenta dias no monte, um tempo de prepara&ccedil;&atilde;o antes da entrega da Tor&aacute;. O n&uacute;mero quarenta representa maturidade e ciclo completo. O cinquenta, por sua vez, &eacute; s&iacute;mbolo de jubileu, liberdade e restaura&ccedil;&atilde;o.
Pentecostes na Nova Alian&ccedil;a
O primeiro Pentecostes da Nova Alian&ccedil;a (Brit Hadashah) ocorreu cinquenta dias ap&oacute;s a P&aacute;scoa em que o Cordeiro de Deus foi morto para levar sobre si os pecados do mundo. Nesse sacrif&iacute;cio perfeito, houve a liberta&ccedil;&atilde;o da escravid&atilde;o do pecado que separava o homem de Deus. Tr&ecirc;s dias depois, veio a ressurrei&ccedil;&atilde;o do Messias, ocorrida exatamente na Festa das Prim&iacute;cias, no in&iacute;cio da contagem do &ocirc;mer.
Ap&oacute;s sua ressurrei&ccedil;&atilde;o, Yeshua permaneceu com os disc&iacute;pulos por quarenta dias, ensinando sobre o Reino de Deus, assim como Mois&eacute;s no Sinai. Ap&oacute;s sua ascens&atilde;o, nos dez dias seguintes, os disc&iacute;pulos permaneceram em Jerusal&eacute;m, contando o &ocirc;mer com uma expectativa muito maior, aguardando a promessa. No quinquag&eacute;simo dia, foram cheios do Esp&iacute;rito e capacitados para anunciar as Boas Novas &mdash; n&atilde;o apenas a Israel, mas a todas as na&ccedil;&otilde;es.
Assim como no Sinai, quando a Tor&aacute; foi escrita em t&aacute;buas de pedra, agora ela seria escrita nos cora&ccedil;&otilde;es, por meio do Esp&iacute;rito, em outro monte, o Si&atilde;o. Uma nova colheita se iniciava, n&atilde;o de gr&atilde;os, mas de almas.
A Festa da Colheita
Pentecostes &eacute; tamb&eacute;m chamada de Festa da Colheita e esse simbolismo &eacute; central na prega&ccedil;&atilde;o de Yeshua. Suas par&aacute;bolas frequentemente utilizavam met&aacute;foras agr&iacute;colas: sementes, solos, trigo, joio, ceifa. Jo&atilde;o Batista tamb&eacute;m usou essas imagens para descrever o Messias como aquele que separa o trigo da palha (Mt 3:12).
Essa colheita come&ccedil;ou naquele primeiro Pentecostes da Nova Alian&ccedil;a e ainda est&aacute; em curso. Vivemos na era da gra&ccedil;a, tempo em que o Reino est&aacute; aberto para todos os que creem. A contagem do &ocirc;mer &eacute; tamb&eacute;m um s&iacute;mbolo da expectativa pela plena colheita espiritual.
Al&eacute;m dos 50 Dias
Pentecostes encerra as Festas da Primavera, mas a hist&oacute;ria n&atilde;o termina a&iacute;. No calend&aacute;rio b&iacute;blico, ainda h&aacute; as Festas do Outono que apontam para a segunda vinda do Messias. Se Shavuot representa a descida do Esp&iacute;rito e a colheita, as festas seguintes anunciam arrependimento, reconcilia&ccedil;&atilde;o e o retorno do Rei.
Por isso, como o salmista, devemos pedir: &ldquo;Ensina-nos a contar nossos dias&rdquo;. N&atilde;o apenas os cinquenta dias do &ocirc;mer, mas tamb&eacute;m os que vir&atilde;o at&eacute; o grande dia da reden&ccedil;&atilde;o final. Que saibamos viver com sabedoria, reconhecendo os tempos de Deus que precedem sua volta. Bendito seja o nome de seu glorioso Reino para sempre!
Para saber mais, acesse https://www.aoliveiranatural.com.br/2025/05/26/pentecostes-e-a-contagem-do-omer/
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Get&uacute;lio Cidade &eacute; escritor, tradutor e hebra&iacute;sta, autor de A Oliveira Natural: As Ra&iacute;zes Judaicas do Cristianismo e do blog www.aoliveiranatural.com.br.
* O conte&uacute;do do texto acima &eacute; uma colabora&ccedil;&atilde;o volunt&aacute;ria, de total responsabilidade do autor e n&atilde;o reflete necessariamente a opini&atilde;o do Portal Guiame.
Leia o artigo anterior: <a style="color: #800000;" href="https://guiame.com.br/colunistas/getulio-cidade/cheio-de-graca-e-de-verdade-do-sinai-transfiguracao.html">Cheio de Gra&ccedil;a e de Verdade: Do Sinai &agrave; transfigura&ccedil;&atilde;o</a>

Durante sete semanas completas, ao pôr do sol, o povo conta os dias com uma bênção específica até completar cinquenta.

Pentecostes e a contagem do ômer: Entre a promessa e a colheita 

Mois&eacute;s foi o primeiro homem a conhecer o nome de Deus. Embora Abra&atilde;o tenha sido escolhido o patriarca de Israel, foi Mois&eacute;s &mdash; o legislador do povo &mdash; que teve o privil&eacute;gio singular de ouvir o misterioso nome divino que, mais tarde, se manifestaria plenamente por meio de seu Ungido.
A revela&ccedil;&atilde;o veio em resposta a um clamor sincero: &ldquo;Rogo-te que me mostres a tua gl&oacute;ria&rdquo; (&Ecirc;x. 33:18). Se Mois&eacute;s e toda a na&ccedil;&atilde;o rec&eacute;m-liberta do Egito teria que andar com o Deus Todo-Poderoso, &eacute; compreens&iacute;vel que seu l&iacute;der quisesse conhec&ecirc;-lo mais intimamente. Ele n&atilde;o buscava apenas os t&iacute;tulos majestosos de Deus, mas o seu nome &uacute;nico, impronunci&aacute;vel, repleto de significado e envolto em mist&eacute;rio.
Contudo, havia limites. Mois&eacute;s n&atilde;o podia ver a face do Senhor, o que significaria morte. Em vez disso, teve de se contentar em v&ecirc;-lo pelas costas (&Ecirc;xodo 33:23). Ao subir ao Sinai, pela segunda vez, o Senhor desceu numa nuvem e ali proclamou seu Nome a Mois&eacute;s. Em seguida, ao passar o Senhor perante Mois&eacute;s, proclamou:
&ldquo;Senhor, Senhor Deus misericordioso e compassivo, tardio em irar-se e grande em benefic&ecirc;ncia e verdade, que usa de benefic&ecirc;ncia com milhares, que perdoa a iniquidade, a rebeldia e o pecado. Contudo, ao culpado n&atilde;o tem por inocente; castiga a iniquidade dos pais sobre os filhos e sobre os filhos dos filhos at&eacute; a terceira e quarta gera&ccedil;&atilde;o&rdquo; (&Ecirc;x. 34:6).
Duas faces da mesma moeda
Mois&eacute;s clama primeiro o tetragrama impronunci&aacute;vel do nome de Deus duas vezes &mdash; traduzido em nossas b&iacute;blias por SENHOR &mdash;, seguido de El (Deus), exaltando logo a seguir seus atributos. Os primeiros desses atributos est&atilde;o relacionados &agrave; miseric&oacute;rdia, compaix&atilde;o e perd&atilde;o. Os demais, a justi&ccedil;a, puni&ccedil;&atilde;o e ju&iacute;zo. Os s&aacute;bios judeus viram nisso duas manifesta&ccedil;&otilde;es distintas do mesmo Deus. Para eles, o tetragrama sagrado (יהוה), ligado &agrave; miseric&oacute;rdia, contrasta com o nome El, relacionado ao ju&iacute;zo.
Logo, &eacute; essencial compreender que estamos lidando com o mesmo Deus. Aquele que perdoa e se compadece &eacute; o mesmo que julga e pune. A miseric&oacute;rdia e a justi&ccedil;a s&atilde;o insepar&aacute;veis; duas faces da mesma moeda. Conhecer apenas um desses aspectos &eacute; uma vis&atilde;o incompleta do car&aacute;ter divino e falharemos em nos relacionar com o Rei do universo.
Cheio de gra&ccedil;a e de verdade
O significado desses dois nomes e seus atributos, por&eacute;m, s&oacute; p&ocirc;de ser compreendido na plenitude ap&oacute;s a vinda do Messias. A express&atilde;o &ldquo;grande em benefic&ecirc;ncia e em verdade&rdquo;, no hebraico &mdash; rav chesed ve&rsquo;emet &mdash; &eacute; mais precisamente traduzida por &ldquo;cheio de gra&ccedil;a e de verdade&rdquo;. Esta mesma express&atilde;o aparece no Evangelho de Jo&atilde;o, ao se referir ao Messias. &ldquo;O Verbo se fez carne e habitou entre n&oacute;s. Vimos a sua gl&oacute;ria, a gl&oacute;ria como do unig&ecirc;nito do Pai, cheio de gra&ccedil;a e de verdade&rdquo; (Jo. 1:14).
Um judeu familiarizado com a Tor&aacute;, ao ler Jo&atilde;o em hebraico, reconheceria imediatamente essa conex&atilde;o. Jo&atilde;o usou intencionalmente as palavras de &Ecirc;xodo para afirmar que Aquele que se revelou a Mois&eacute;s agora se manifestava plenamente em carne e osso. O Verbo &mdash; HaDavar &mdash; estava entre os homens, &ldquo;cheio de gra&ccedil;a e de verdade&rdquo;.
Ora&ccedil;&atilde;o respondida
Ap&oacute;s um pouco mais de treze s&eacute;culos, o Senhor resolvera atender &agrave; ora&ccedil;&atilde;o que Mois&eacute;s lhe fizera antes de subir ao monte Sinai para se encontrar consigo. Seu clamor &ldquo;Rogo-te que me mostres a tua gl&oacute;ria&rdquo; n&atilde;o p&ocirc;de ser atendido por inteiro, uma vez que nenhum homem poderia ver sua face sem morrer.
Os Evangelhos contam que Yeshua subiu a um monte a fim de orar com Pedro, Tiago e Jo&atilde;o. L&aacute; no topo, tal como no monte Sinai, uma nuvem de gl&oacute;ria cobriu o Senhor, enquanto Ele falava com Mois&eacute;s e Elias. Ambos tiveram um encontro com Deus no Sinai (ou Horebe). Agora, viam diante de si &ldquo;a gl&oacute;ria como do unig&ecirc;nito do Pai, cheio de gra&ccedil;a e de verdade&rdquo;.
N&atilde;o sabemos o teor da conversa entre os tr&ecirc;s, mas certamente Mois&eacute;s soube que sua ora&ccedil;&atilde;o ousada, feita h&aacute; tanto tempo, era agora respondida. Dessa vez, ele n&atilde;o viu apenas as costas do Senhor. Na mesma nuvem que cobriu o Sinai naquele encontro glorioso, agora, em outro monte, o Senhor revelava sua face e sua gl&oacute;ria na imagem do Filho encarnado e transfigurado, respondendo ao pedido de Mois&eacute;s.
Esta mesma gl&oacute;ria est&aacute; dispon&iacute;vel hoje para quem quiser contempl&aacute;-la. A gl&oacute;ria do Filho &uacute;nico, cheio de gra&ccedil;a e de verdade, n&atilde;o est&aacute; mais oculta numa nuvem sobre um monte distante. Ela se revelou na Pessoa de Yeshua e pode ser contemplada por todo aquele que o busca de cora&ccedil;&atilde;o. Aquele que respondeu ao clamor de Mois&eacute;s ainda responde hoje aos que o buscam com sinceridade. &Eacute; preciso querer, pedir, buscar e bater.
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Get&uacute;lio Cidade &eacute; escritor, tradutor e hebra&iacute;sta, autor de A Oliveira Natural: As Ra&iacute;zes Judaicas do Cristianismo e do blog www.aoliveiranatural.com.br.
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Leia o artigo anterior: <a style="color: #800000;" href="https://guiame.com.br/colunistas/getulio-cidade/o-dia-da-lembranca-e-o-preco-da-liberdade.html">O Dia da Lembran&ccedil;a e o Pre&ccedil;o da Liberdade</a>

Aquele que respondeu ao clamor de Moisés ainda responde hoje aos que o buscam com sinceridade. É preciso querer, pedir, buscar e bater.

Cheio de Graça e de Verdade: Do Sinai à transfiguração

Neste 30 de abril, Israel celebra o Dia da Lembran&ccedil;a &mdash; Yom HaZikaron &mdash; quando s&atilde;o lembrados todos os soldados que tombaram nas guerras do Estado moderno de Israel no desempenho de suas fun&ccedil;&otilde;es ao defender a bandeira do pa&iacute;s. S&atilde;o lembradas tamb&eacute;m todas as v&iacute;timas de ataques terroristas. Esta &eacute; uma data solene em que se presta um profundo respeito &agrave; mem&oacute;ria desses her&oacute;is nacionais nas in&uacute;meras cerim&ocirc;nias civis e militares por todo o pa&iacute;s.
O Dia da Lembran&ccedil;a &eacute; celebrado um dia antes do Dia da Independ&ecirc;ncia (Yom HaAtzmaut). H&aacute; um n&iacute;tido contraste entre as duas atmosferas que cercam essas datas. O Dia da Lembran&ccedil;a &eacute; envolto em tristeza e l&aacute;grimas pela dor de parentes e amigos de todos que tombaram em combate ou tiveram suas vidas ceifadas em atos terroristas, desde o nascimento do Estado novo, em 1948. &Eacute; um dia pesado emocionalmente para todo o pa&iacute;s.
Como no calend&aacute;rio judaico o dia come&ccedil;a ao anoitecer, a transi&ccedil;&atilde;o de Yom HaZikaron para Yom HaAtzmaut se d&aacute; em uma cerim&ocirc;nia no Monte Herzl, em Jerusal&eacute;m, logo ap&oacute;s o p&ocirc;r-do-sol. H&aacute; uma clara transi&ccedil;&atilde;o de um esp&iacute;rito de luto e tristeza para um esp&iacute;rito de alegria que contagia toda a na&ccedil;&atilde;o. Afinal, &eacute; o Dia da Independ&ecirc;ncia e a cria&ccedil;&atilde;o do Estado de Israel foi um verdadeiro milagre, um evento altamente improv&aacute;vel, considerando que, apenas tr&ecirc;s anos antes, o povo judeu fora quase exterminado no Holocausto. Para algu&eacute;m de fora, a pergunta que se faz &eacute;: Como conciliar sentimentos t&atilde;o d&iacute;spares em dois dias consecutivos? Qual o significado disso?
A liberdade n&atilde;o &eacute; de gra&ccedil;a
A escolha da data para o Dia da Lembran&ccedil;a n&atilde;o foi aleat&oacute;ria, mas uma inten&ccedil;&atilde;o clara de mostrar que a independ&ecirc;ncia da na&ccedil;&atilde;o e a liberdade usufru&iacute;da por seus cidad&atilde;os t&ecirc;m um pre&ccedil;o alto a ser pago. Para cada sorriso de alegria na celebra&ccedil;&atilde;o do Dia da Independ&ecirc;ncia h&aacute; uma quantidade incalcul&aacute;vel de sangue que foi derramado por aqueles que sacrificaram suas vidas pelo pa&iacute;s. A mensagem &eacute; &oacute;bvia e direta: a liberdade n&atilde;o &eacute; de gra&ccedil;a, mas requer um pre&ccedil;o muito alto.
Primeiro vem o sacrif&iacute;cio e a dor a fim de se garantir a liberdade e a paz. Esse &eacute; o significado das duas datas celebrativas ocorrerem em dias seguidos. Os dois eventos possuem um fundo did&aacute;tico que &eacute; manter viva essa rela&ccedil;&atilde;o entre sacrif&iacute;cio e liberdade na consci&ecirc;ncia das gera&ccedil;&otilde;es mais jovens. Uma crian&ccedil;a que cresce em Israel, desde tenra idade, compreende que uma coisa n&atilde;o ocorre sem a outra, mas s&atilde;o interdependentes. Essa luta pela liberdade n&atilde;o cessa, &eacute; permanente e requer coragem, for&ccedil;a e disposi&ccedil;&atilde;o para nela persistir.
Uma luta antiga
N&atilde;o &eacute; por acaso tamb&eacute;m que as duas datas ocorram alguns dias ap&oacute;s Pesach, a P&aacute;scoa do Senhor, mais conhecida como a Festa de nossa Liberdade. Israel permaneceu escravo no Egito por cerca de quatro s&eacute;culos at&eacute; ser liberto por Deus com &ldquo;bra&ccedil;o estendido e com grandes ju&iacute;zos&rdquo; (&Ecirc;x. 6:6). Um dos motivos da institui&ccedil;&atilde;o dessa Festa na Tor&aacute; &eacute; ensinar &agrave;s gera&ccedil;&otilde;es mais novas que seus pais foram escravos um dia e que o Senhor os libertou com milagres, sinais e maravilhas, tirando-os do jugo da servid&atilde;o para serem um povo livre.
Ao sa&iacute;rem do Egito e ap&oacute;s a milagrosa travessia do Mar Vermelho, o povo logo aprenderia que precisaria lutar para continuar sendo um povo livre. Isso se deu na primeira batalha de Israel, em Refidim, contra os amalequitas. Mais tarde, tiveram de enfrentar os midianitas. Entretanto, ap&oacute;s chegarem a Cana&atilde;, foram dezenas de batalhas at&eacute; conquistar o territ&oacute;rio prometido a Abra&atilde;o. N&atilde;o foi diferente ap&oacute;s a forma&ccedil;&atilde;o do Estado novo de Israel, quando as guerras seguidas exigiram sacrif&iacute;cio de sangue de seus milhares de soldados.
A Liberdade do Filho
Ambas as datas tamb&eacute;m possuem um significado prof&eacute;tico e nos induzem a uma maior reflex&atilde;o. O sacrif&iacute;cio e a liberdade se conectam na primeira vinda do Messias. Yeshua deixou claro que sua miss&atilde;o era libertar o homem do pecado, mas para isso seria necess&aacute;rio o derramamento de seu pr&oacute;prio sangue. Deus concedeu o precioso dom da liberdade a Ad&atilde;o que o entregou de bandeja a Satan&aacute;s, ao violar o mandamento divino. Ele se p&ocirc;s em algemas, bem como as imp&ocirc;s a seus descendentes.
Deus ama a liberdade; Satan&aacute;s a odeia e busca roub&aacute;-la do homem em todo o tempo. E sua &uacute;nica forma de conseguir &ecirc;xito &eacute; por meio do pecado. &Eacute; a&iacute; que entra em cena o Filho do Homem, encarnado na humanidade para livr&aacute;-la do pecado e, como resultado, torn&aacute;-la livre. &ldquo;Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres&rdquo; (Jo&atilde;o 8:36). N&atilde;o h&aacute; outra maneira de ser livre que n&atilde;o seja pelo Filho. A liberta&ccedil;&atilde;o do jugo do pecado veio por interm&eacute;dio do sangue do Filho de Deus. Esse foi o m&aacute;ximo pre&ccedil;o que pagou para nos restituir a liberdade da qual gozava Ad&atilde;o antes da queda.
&Eacute; nesse contexto que Yeshua nos ordena a celebrar a Ceia do Senhor, comendo do p&atilde;o e bebendo do vinho &ldquo;em mem&oacute;ria de mim&rdquo; (zikaron). A alegria incompar&aacute;vel de quem experimenta a salva&ccedil;&atilde;o de Yeshua &eacute; precedida pela lembran&ccedil;a de seu sacrif&iacute;cio, selado pelas marcas dos a&ccedil;oites e das perfura&ccedil;&otilde;es que causaram o derramamento de seu sangue, juntamente com as l&aacute;grimas de dor.
A luta e o sacrif&iacute;cio pela liberdade de Israel, celebrados nesta semana, simbolizam profeticamente uma luta muito maior travada pelo Filho de Deus, cujo sacrif&iacute;cio trouxe &agrave; humanidade a possibilidade de se libertar das correntes do pecado, bastando receber de gra&ccedil;a essa reden&ccedil;&atilde;o. De gra&ccedil;a para os homens, por&eacute;m, um alt&iacute;ssimo pre&ccedil;o para Deus.
&ldquo;Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e n&atilde;o torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servid&atilde;o&rdquo; (G&aacute;latas 5:1).
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Get&uacute;lio Cidade &eacute; escritor, tradutor e hebra&iacute;sta, autor de A Oliveira Natural: As Ra&iacute;zes Judaicas do Cristianismo e do blog www.aoliveiranatural.com.br.
* O conte&uacute;do do texto acima &eacute; uma colabora&ccedil;&atilde;o volunt&aacute;ria, de total responsabilidade do autor e n&atilde;o reflete necessariamente a opini&atilde;o do Portal Guiame.
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O Dia da Lembrança é celebrado um dia antes do Dia da Independência, ambos eventos nos relembram que a liberdade não é de graça.


O Dia da Lembrança e o Preço da Liberdade

Estamos em meio &agrave; Festa de Pesach &mdash; a P&aacute;scoa do Senhor &mdash; e &eacute; oportuno abordar sobre o matzah, mais conhecido como p&atilde;o asmo, um dos maiores s&iacute;mbolos do Messias nas Escrituras e o alimento mais abundante no seder, a refei&ccedil;&atilde;o de Pesach.
Comer p&atilde;es asmos durante Pesach &eacute; uma ordenan&ccedil;a institu&iacute;da em &Ecirc;xodo 12:15, ao mesmo tempo em que se deve retirar qualquer esp&eacute;cie de fermento (hametz) de dentro de casa. A casa aqui tem um simbolismo maior, como tudo em Pesach, e aponta, em &uacute;ltima inst&acirc;ncia, para a vida de cada seguidor de Yeshua. O fermento &eacute; um dos principais s&iacute;mbolos de pecado nas Escrituras. Ele deve estar ausente de cada lar em que Deus habita: o cora&ccedil;&atilde;o daquele que o confessa por Senhor.
O ap&oacute;stolo Paulo relembra aos crist&atilde;os da comunidade messi&acirc;nica de Corinto sobre a celebra&ccedil;&atilde;o da P&aacute;scoa do Senhor, com &ecirc;nfase na retirada do fermento, n&atilde;o apenas do p&atilde;o, mas do cora&ccedil;&atilde;o. Assim diz o texto na vers&atilde;o da B&iacute;blia Judaica Completa:
&ldquo;Livrem-se do velho hametz para poderem ser uma nova massa porque, na verdade, voc&ecirc;s est&atilde;o sem fermento. Pois nosso cordeiro de Pesach, o Messias, foi sacrificado. Dessa forma, celebremos o seder sem qualquer vest&iacute;gio de hametz, o hametz da impiedade e do mal, mas com o matzah da pureza e da verdade (1Co. 5:7-8).
O p&atilde;o de afli&ccedil;&atilde;o
Assim como n&atilde;o &eacute; f&aacute;cil comer p&atilde;o sem fermento por v&aacute;rios dias consecutivos, n&atilde;o &eacute; simples viver uma vida sem pecado, fugindo da tenta&ccedil;&atilde;o, andando em santidade. Esse &eacute; um dos motivos do matzah ser chamado de p&atilde;o de afli&ccedil;&atilde;o (Deuteron&ocirc;mio 16:3), n&atilde;o somente por ter sido comido &agrave;s pressas durante a fuga do Egito, mas por ser dif&iacute;cil para o homem viver sem o fermento, afligindo sua alma.
Contudo, foi exatamente assim que caminhou Yeshua nesta Terra, irrepreens&iacute;vel, imaculado, incontaminado e, mesmo tendo sido tentado em tudo, n&atilde;o pecou (Hebreus 4:15). As Escrituras tamb&eacute;m afirmam que Yeshua &ldquo;n&atilde;o cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano&rdquo; (1Pe. 2:22),&nbsp;assim como sofreu sobre si nossas afli&ccedil;&otilde;es.
&ldquo;Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e n&oacute;s o reputamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido&rdquo; (Is. 53:4). As palavras empregadas para afli&ccedil;&atilde;o em Deuteron&ocirc;mio e aflito em Isa&iacute;as possuem a mesma raiz no hebraico. Portanto, n&atilde;o h&aacute; personagem algum por toda a B&iacute;blia que se assemelhe mais ao matzah do que o Filho de Deus.
Um discurso escandaloso
Os Evangelhos relatam que Yeshua, durante seu &uacute;ltimo seder, tomou o matzah e o repartiu entre os disc&iacute;pulos. Nesse momento, Ele instaura a Ceia do Senhor, afirmando que aquele matzah aponta para si: &ldquo;Tomai e comei; isto &eacute; o meu corpo&rdquo; (Mateus 26:26). Em seguida, vem o terceiro c&aacute;lice do seder, o mesmo que Ele bebeu e deu aos disc&iacute;pulos para beberem, afirmando que era seu sangue derramado para remiss&atilde;o dos pecados (Mateus 26:27-28).
Esse &uacute;ltimo seder de Yeshua foi reservado apenas para seus disc&iacute;pulos. E talvez eles n&atilde;o tenham se escandalizado com a ideia de comer a carne e beber o sangue de um homem, por mais simb&oacute;lico que pudesse parecer, pelo fato de Yeshua, em um de seus serm&otilde;es abertos ao p&uacute;blico, j&aacute; ter exposto isso de modo claro, o que n&atilde;o deixou de ser estarrecedor para os judeus que o ouviram, incluindo muitos de seus seguidores.
Refiro-me ao discurso de Jo&atilde;o 6, quando Yeshua se identifica como sendo o P&atilde;o que desceu do c&eacute;u e o P&atilde;o da vida. Ele menciona primeiro o man&aacute; que seus antepassados comeram no deserto quando Israel deixou o Egito na primeira de todas as P&aacute;scoas. Aquele era um alimento especial e sobrenatural que sustentou os israelitas diariamente por quarenta anos.&nbsp;
Na cabe&ccedil;a dos judeus, n&atilde;o poderia haver alimento mais milagroso que o man&aacute;, pois este ca&iacute;ra de modo sobrenatural do c&eacute;u, sem falhar um s&oacute; dia, por quarenta anos. Ele fora capaz de sustentar milh&otilde;es de pessoas de uma s&oacute; vez em um ambiente in&oacute;spito como o deserto. Entretanto, todos os que dele se alimentaram morreram fisicamente. &Eacute; nesse contexto que Yeshua se revela como o &uacute;nico alimento capaz de dar a vida eterna, o que n&atilde;o foi compreendido pela maioria dos presentes, incluindo alguns disc&iacute;pulos que deixaram de segui-lo por esse discurso.
O P&atilde;o da Vida
&ldquo;Eu sou o p&atilde;o da vida. Os seus antepassados comeram o man&aacute; no deserto, mas morreram. Todavia, aqui est&aacute; o p&atilde;o que desce do c&eacute;u, para que n&atilde;o morra quem dele comer. Eu sou o p&atilde;o vivo que desceu do c&eacute;u. Se algu&eacute;m comer deste p&atilde;o, viver&aacute; para sempre. Este p&atilde;o &eacute; a minha carne, que eu darei pela vida do mundo" (Jo. 6:48-51).
Em seu &uacute;ltimo seder, certamente seus disc&iacute;pulos que estiveram com Ele naquela ocasi&atilde;o lembraram-se dessas palavras. Estavam diante de algu&eacute;m que era muito maior que o man&aacute; comido por seus antepassados no Sinai. Estavam diante de algu&eacute;m que vivera uma vida inteira sem o fermento do orgulho do pecado que infla o ego e ocupa os rec&ocirc;nditos da alma, sem deixar qualquer espa&ccedil;o para a habita&ccedil;&atilde;o do Esp&iacute;rito Santo.
Estavam diante do Asmo da Verdade e da Vida que, embora sendo Senhor e Rei, lavara seus p&eacute;s naquele mesmo seder e os ensinara, por todos os dias em que conviveram, como ser manso e humilde de cora&ccedil;&atilde;o, esvaziado de si mesmo como vazio &eacute; o matzah sem resqu&iacute;cio de fermenta&ccedil;&atilde;o.
Yeshua &eacute; o pr&oacute;prio matzah especial da P&aacute;scoa do Senhor; sem fermento, sem pecado; com listras marcantes (como o matzah moderno) representando suas feridas que nos trazem cura; perfurado, trespassado para nos redimir e salvar. Muito mais que o man&aacute; que ca&iacute;a do c&eacute;u para alimentar o povo, Ele &eacute; o P&atilde;o vivo que desceu do c&eacute;u para alimentar nosso esp&iacute;rito e nos trazer a vida eterna.
Para saber mais, acesse: https://www.aoliveiranatural.com.br/2021/04/08/yeshua-o-pao-vivo-que-desceu-do-ceu/
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Get&uacute;lio Cidade &eacute; escritor, tradutor e hebra&iacute;sta, autor de A Oliveira Natural: As Ra&iacute;zes Judaicas do Cristianismo e do blog www.aoliveiranatural.com.br.
* O conte&uacute;do do texto acima &eacute; uma colabora&ccedil;&atilde;o volunt&aacute;ria, de total responsabilidade do autor e n&atilde;o reflete necessariamente a opini&atilde;o do Portal Guiame.
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Getúlio Cidade

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