Marcio Scarpellini é Pastor, Administrador de Empresas, Pedagogo, Cientista Social, Pós-Graduado em Educação, Política e Sociedade, Antropologia, Neurologia Aplicada à Aprendizagem, Psicanálise e Ciências da Religião. Diretor Escolar, professor e palestra

Marcio Scarpellini

Em tempos de constante tens&atilde;o entre f&eacute; e ci&ecirc;ncia, surgem momentos em que o mundo acad&ecirc;mico e os livros sagrados parecem finalmente apertar as m&atilde;os e serem conciliadas diante da realidade inexor&aacute;vel. A B&iacute;blia, que h&aacute; mil&ecirc;nios fundamenta a f&eacute; de milh&otilde;es de pessoas ao redor do globo, tamb&eacute;m guarda em suas p&aacute;ginas princ&iacute;pios e fatos que s&oacute; muito recentemente a ci&ecirc;ncia conseguiu comprovar.
Seria isso coincid&ecirc;ncia? Seria apenas poesia antiga? Ou haveria nas Escrituras uma sabedoria que ultrapassa os s&eacute;culos e desafia os paradigmas cient&iacute;ficos? Hoje, vamos explorar descobertas cient&iacute;ficas contempor&acirc;neas que a B&iacute;blia j&aacute; havia declarado com mil&ecirc;nios de anteced&ecirc;ncia. Prepare-se para se surpreender com o que a Palavra j&aacute; sabia antes dos telesc&oacute;pios, microsc&oacute;pios e laborat&oacute;rios conseguirem enxergar.
1. O Universo Teve um Come&ccedil;o (G&ecirc;nesis 1:1)
A ci&ecirc;ncia moderna sustenta que o universo n&atilde;o &eacute; eterno, mas teve um in&iacute;cio dram&aacute;tico &ndash; talvez, tenha sido o Big Bang, talvez n&atilde;o! A Teoria da Expans&atilde;o do Universo, formulada por Edwin Hubble em 1929, e confirmada pela Radia&ccedil;&atilde;o C&oacute;smica de Fundo em Micro-ondas (1965), oferece uma narrativa cient&iacute;fica curiosamente compat&iacute;vel com G&ecirc;nesis 1:1: "No princ&iacute;pio, Deus criou os c&eacute;us e a terra."
F&iacute;sicos renomados como Arno Penzias, ganhador do Nobel de F&iacute;sica em 1978, chegaram a afirmar que as evid&ecirc;ncias do Big Bang est&atilde;o em harmonia com o relato b&iacute;blico da cria&ccedil;&atilde;o. Outra vis&atilde;o sobre o in&iacute;cio do universo, defende que Deus criou o universo com apar&ecirc;ncia antiga e j&aacute; em expans&atilde;o, assim como criou Ad&atilde;o e Eva aparentemente adultos.
2. Um Universo Ajustado Para a Vida (Isa&iacute;as 45:18)
Se os valores fundamentais do universo fossem alterados minimamente, a vida seria imposs&iacute;vel. A f&iacute;sica moderna chama isso de &ldquo;ajuste fino&rdquo;. Isa&iacute;as j&aacute; dizia que Deus &ldquo;formou a terra para ser habitada&rdquo;.
O f&iacute;sico Roger Penrose, Nobel de F&iacute;sica em 2020, calculou que as chances de um universo surgir por acaso, com condi&ccedil;&otilde;es adequadas &agrave; vida, s&atilde;o de 1 em 10^10^123 &ndash; algo inimagin&aacute;vel. O princ&iacute;pio antr&oacute;pico1 aponta para uma realidade: as constantes universais foram precisamente calibradas. Coincid&ecirc;ncia? Ou design inteligente?
Existem ao menos vinte e seis constantes universais2 que, segundo o pensamento geral da tese do Design Inteligente3 caso fossem minimamente alteradas, n&atilde;o existiria a vida no planeta Terra, e o equil&iacute;brio no Universo seria drasticamente afetado, talvez colapsando e deixando de existir. A esta caracter&iacute;stica d&aacute;-se o nome de &ldquo;Ajuste fino do universo&rdquo;.
3. O Ciclo da &Aacute;gua (J&oacute; 36:27-28; Eclesiastes 1:7)
Muito antes da meteorologia moderna, a B&iacute;blia descrevia com precis&atilde;o o ciclo hidrol&oacute;gico. J&oacute; fala de evapora&ccedil;&atilde;o, condensa&ccedil;&atilde;o e precipita&ccedil;&atilde;o de forma surpreendentemente t&eacute;cnica para sua &eacute;poca. Voc&ecirc; deve saber que o livro de J&oacute; e reconhecido como o livro mais antigo da B&iacute;blia, sendo escrito em um contexto sociocultural pr&eacute;-hebraico. Hoje, a ci&ecirc;ncia apenas confirma o que j&aacute; estava registrado: as &aacute;guas evaporam, formam nuvens e retornam como chuva.
4. A Expans&atilde;o Cont&iacute;nua do Universo (Isa&iacute;as 40:22)
Isa&iacute;as escreveu que Deus "estende os c&eacute;us como uma cortina", linguagem po&eacute;tica que ecoa perfeitamente com a observa&ccedil;&atilde;o cient&iacute;fica de que o universo est&aacute; se expandindo constantemente. A descoberta de Edwin Hubble e as medi&ccedil;&otilde;es da NASA (projetos WMAP e Planck) confirmaram o que se l&ecirc; nos escritos do profeta que viveu sete s&eacute;culos antes Cristo.
5. Leis Diet&eacute;ticas e Sa&uacute;de P&uacute;blica (Lev&iacute;tico 11; Deuteron&ocirc;mio 14)
As orienta&ccedil;&otilde;es alimentares b&iacute;blicas n&atilde;o eram apenas rituais espirituais &ndash; elas protegiam a sa&uacute;de. O porco, por exemplo, pode carregar parasitas como a triquinose, e frutos do mar acumulam metais pesados e toxinas. Al&eacute;m disso, a circuncis&atilde;o, ordenada em G&ecirc;nesis 17, &eacute; hoje reconhecida por reduzir infec&ccedil;&otilde;es e certas doen&ccedil;as sexualmente transmiss&iacute;veis.
A B&iacute;blia n&atilde;o apenas alimentava o esp&iacute;rito &ndash; tamb&eacute;m protegia o corpo, principalmente em uma &eacute;poca de escassas condi&ccedil;&otilde;es higi&ecirc;nicas de uma na&ccedil;&atilde;o que se restringia a alguns milhares de indiv&iacute;duos, que seriam facilmente dizimados diante de uma crise sanit&aacute;ria como um surto de diarreia causada por uma parasitose, por exemplo.
6. A Terra Suspensa no Espa&ccedil;o (J&oacute; 26:7)
Mais uma vez o relato de J&oacute; surpreende quanto ao conhecimento de caracter&iacute;sticas e fen&ocirc;menos que fogem &agrave; maioria dos relatos anteriores aos descobrimentos cient&iacute;ficos modernos. Enquanto mitologias antigas imaginavam a Terra repousando sobre animais gigantes ou pilares m&aacute;gicos, a B&iacute;blia afirmava que Deus &ldquo;suspende a Terra sobre o nada&rdquo;. Hoje, imagens da NASA e leis da f&iacute;sica confirmam que nosso planeta &ldquo;flutua&rdquo; no v&aacute;cuo, sem qualquer apoio f&iacute;sico, equilibrada perfeitamente pelas for&ccedil;as f&iacute;sicas da gravidade e da in&eacute;rcia. J&oacute; j&aacute; sabia.
7. Correntes Oce&acirc;nicas e "Caminhos do Mar" (Salmo 8:8)
O Salmo 8 fala dos &ldquo;caminhos do mar&rdquo; &ndash; algo que inspirou o cientista Matthew Maury4, pai da oceanografia, a estudar e mapear as correntes mar&iacute;timas. Suas descobertas confirmaram que os mares t&ecirc;m trilhas invis&iacute;veis, essenciais para a regula&ccedil;&atilde;o clim&aacute;tica e a vida marinha.
8. DNA e a "Eva Mitocondrial"
O estudo "DNA Mitocondrial e Evolu&ccedil;&atilde;o Humana" de 1987 liderado por Rebecca Louise Cann, Mark Stoneking e Allan Charles Wilson e publicados na revista Nature, revelaram que todos os humanos vivos descendem de uma &uacute;nica mulher ancestral, chamada de "Eva mitocondrial". Da mesma forma, pesquisas gen&eacute;ticas sobre o cromossomo Y apontam para um ancestral masculino comum. A ci&ecirc;ncia est&aacute; lentamente, e por vezes relutantemente, reconhecendo o que est&aacute; escrito no primeiro livro do Pentateuco.
A Palavra &eacute; a luz e a l&acirc;mpada
Enquanto o mundo se curva &agrave; luz das descobertas dos telesc&oacute;pios e microsc&oacute;pios, os que creem sabem: a verdadeira luz j&aacute; brilhava muito antes &ndash; nas p&aacute;ginas sagradas das Escrituras. A B&iacute;blia n&atilde;o &eacute; um manual de ci&ecirc;ncia, mas sempre que toca em assuntos cient&iacute;ficos, o faz com uma precis&atilde;o que assombra at&eacute; os mais c&eacute;ticos. Evidentemente n&atilde;o o faz com linguagem cient&iacute;fica, visto que a ci&ecirc;ncia moderna e seus m&eacute;todos n&atilde;o estavam dispon&iacute;veis quando o texto b&iacute;blico foi escrito.
Quando a ci&ecirc;ncia finalmente chega a conclus&otilde;es que a B&iacute;blia j&aacute; havia revelado, n&atilde;o &eacute; apenas um reencontro entre f&eacute; e raz&atilde;o &ndash; &eacute; um lembrete de que o Autor da vida tamb&eacute;m &eacute; o Autor da verdade. E a verdade nunca se contradiz. Apenas se confirma. A grande quest&atilde;o &eacute; que a verdade em muitos aspectos parece distante e, dadas nossas caracter&iacute;sticas humanas, temporais e tecnol&oacute;gicas limitadas, fazemos muitas aproxima&ccedil;&otilde;es em rela&ccedil;&atilde;o &agrave; verdade n&atilde;o conseguindo muitas vezes chegarmos ao seu conhecimento pleno.
O ponto mais valioso dessas descobertas &eacute; que elas enfraquecem a caricatura de que f&eacute; e ci&ecirc;ncia s&atilde;o inimigas. Mostram que &eacute; poss&iacute;vel um di&aacute;logo honesto, respeitoso e profundo entre teologia e ci&ecirc;ncia, quando ambas se disp&otilde;em a buscar a verdade.
Cada novo avan&ccedil;o cient&iacute;fico que ecoa algo j&aacute; revelado nas Escrituras n&atilde;o precisa ser uma arma contra a ci&ecirc;ncia, mas sim uma ponte de reconcilia&ccedil;&atilde;o entre dois mundos que deveriam, idealmente, caminhar juntos.
Neste sentido, talvez o maior erro seja acreditar que precisamos escolher entre f&eacute; e raz&atilde;o. Quando bem conduzidas, ambas apontam para o mesmo autor: Deus, o Criador e Sustentador de todas as coisas. Costumo dizer que na caminha da f&eacute;, devemos deixar os nossos pecados para tr&aacute;s, n&atilde;o o nosso c&eacute;rebro!
Um outro ponto importante &eacute; que n&atilde;o devemos precisar de confirma&ccedil;&otilde;es cient&iacute;ficas para validar a nossa f&eacute; no que a B&iacute;blia diz. N&atilde;o deve ser esta a busca pois, se assim for, na verdade n&atilde;o se tratar&aacute; de f&eacute;, mas de uma curiosidade puramente aleg&oacute;rica e fantasiosa.
Por fim, a ci&ecirc;ncia continua descobrindo&hellip; o que o Eterno coautor b&iacute;blico, o Esp&iacute;rito Santo j&aacute; sabia!
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Notas:
1. O princ&iacute;pio antr&oacute;pico&nbsp;&eacute; uma hip&oacute;tese que considera a rela&ccedil;&atilde;o entre a exist&ecirc;ncia da vida e a estrutura do universo.&nbsp;Ele &eacute; usado na cosmologia para guiar a busca por vida inteligente.
2. Constantes Universais: S&atilde;o as 26 a seguir:
1 &ndash; Velocidade da luz no v&aacute;cuo
2 &ndash; Constante de Planck
3 &ndash; Constante reduzida de Planck
4 &ndash; Constante de Boltzmann
5 &ndash; Temperatura do fundo c&oacute;smico de micro-ondas
6 &ndash; Constante de gravita&ccedil;&atilde;o universal
7 &ndash; Massa do el&eacute;tron
8 &ndash; Carga do el&eacute;tron
9 &ndash; Massa do pr&oacute;ton
10 &ndash; Constante de estrutura fina
11 &ndash; Raio de Bohr
12 &ndash; Constante de Rydberg
13 &ndash; Massa de Planck
14 &ndash; Comprimento de Planck
15 &ndash; Tempo de Planck
16 &ndash; Temperatura de Planck
17 &ndash; Entropia de Bekenstein-Hawking
18 &ndash; Constante cosmol&oacute;gica
19 &ndash; Densidade cr&iacute;tica
20 &ndash; Constante de Hubble
21 &ndash; Indice espectral de densidade de energia primordial
22 &ndash; Amplitude de flutua&ccedil;&atilde;o primordial
23 &ndash; N&uacute;mero de Nusselt
24 &ndash; N&uacute;mero de Prandtl
25 &ndash; N&uacute;mero de Reynolds
26 &ndash;&nbsp;N&uacute;mero&nbsp;de&nbsp;Mach
3. Design Inteligente, Intelligent Design, (DI) &eacute; uma proposta que defende que a exist&ecirc;ncia de seres vivos e do universo &eacute; obra de uma causa inteligente, e n&atilde;o de processos aleat&oacute;rios.&nbsp;Al&eacute;m da mat&eacute;ria e da energia, a informa&ccedil;&atilde;o &eacute; pe&ccedil;a chave e componente essencial para o surgimento do universo como o vemos e, principalmente da vida. A complexidade do universo &eacute; raz&atilde;o e ind&iacute;cio de uma intelig&ecirc;ncia necess&aacute;ria, pr&eacute;-existente e n&atilde;o dependente para a pr&oacute;pria exist&ecirc;ncia de tudo o que existe.
4. Matthew Fontaine Maury (1806 &ndash; 1873) foi um astr&ocirc;nomo, historiador, ocean&oacute;grafo, meteorologista, cart&oacute;grafo, autor, ge&oacute;logo e educador norte-americano, al&eacute;m de oficial da Marinha dos Estados Unidos. De fam&iacute;lia huguenote, foi apelidado como o "Descobridor dos Mares" e o "Pai da Oceanografia Moderna e Meteorologia Naval" e depois ainda, de o "Cientista dos Mares". Conta-se que Matthew dedicou a vida procurando as "Veredas dos Mares" mencionadas em Salmos 8.8 ("As&nbsp;aves do c&eacute;u, e os peixes do mar, e tudo que passa pelas veredas dos mares") que havia aprendido desde crian&ccedil;a com seu pai.
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Marcio Scarpellini &eacute; Pastor, Administrador de Empresas, Pedagogo, Cientista Social, P&oacute;s-Graduado em Educa&ccedil;&atilde;o, Pol&iacute;tica e Sociedade, Antropologia, Neurologia Aplicada &agrave; Aprendizagem, Psican&aacute;lise e Ci&ecirc;ncias da Religi&atilde;o. Diretor Escolar, professor e palestrante, &eacute; casado h&aacute; 20 anos com a Patr&iacute;cia e pai do Jo&atilde;o Pedro e da Manuella.
* O conte&uacute;do do texto acima &eacute; uma colabora&ccedil;&atilde;o volunt&aacute;ria, de total responsabilidade do autor e n&atilde;o reflete necessariamente a opini&atilde;o do Portal Guiame.
Leia o artigo anterior: <a style="color: #800000;" href="https://guiame.com.br/colunistas/marcio-scarpellini/reconfigurando-estruturas-humanistas-de-pensamento.html">Reconfigurando estruturas humanistas de pensamento</a>

Vamos explorar descobertas científicas contemporâneas que a Bíblia já havia declarado com milênios de antecedência.

Quando a ciência chega atrasada: Verdades bíblicas são confirmadas milênios depois

O modelo de pensamento dos seres humanos em geral neste primeiro quarto de s&eacute;culo XXI &eacute; profundamente impactado por um tipo de pensamento oriundo do contexto humanista, herdado do ambiente p&oacute;s-revolu&ccedil;&atilde;o francesa, com influ&ecirc;ncias extremamente diversas, por&eacute;m com uma converg&ecirc;ncia: a centralidade nas experi&ecirc;ncias individuais. N&atilde;o importa se estamos falando sobre trabalho, lazer ou religi&atilde;o, a experi&ecirc;ncia do indiv&iacute;duo &eacute; uma preocupa&ccedil;&atilde;o prevalente neste tempo.
Entretanto, humanismo e cristianismo carregam sistemas de valores e cren&ccedil;as que se diferenciam em muitos pontos, sendo que, em alguns deles s&atilde;o expressamente antag&ocirc;nicos. De modo abrangente, os sistemas de valores e cren&ccedil;as s&atilde;o firmados na centralidade da adora&ccedil;&atilde;o, ou seja, quem est&aacute; sendo adorado! Sim, tanto humanistas, como crist&atilde;os e at&eacute; os ateus adoram com muita intensidade, sendo que ateus podem ser mais fervorosos do que a maioria dos crist&atilde;os!
Vamos ver algumas distin&ccedil;&otilde;es entre ambos os pensamentos (b&iacute;blicos/crist&atilde;os e humanistas), depois vamos explorar as caracter&iacute;sticas do pensamento deste in&iacute;cio de s&eacute;culo e, por fim, vamos verificar em quais medidas essas estruturas humanistas rivalizam com o que a B&iacute;blia nos diz.
Rela&ccedil;&atilde;o com a religi&atilde;o ou com a f&eacute;:
Os humanistas seculares dizem n&atilde;o se apoiar em deuses ou for&ccedil;as sobrenaturais, e consideram a religi&atilde;o algo opcional e criada pelos homens como subterf&uacute;gio &agrave;s suas demandas, incompet&ecirc;ncias, obriga&ccedil;&otilde;es ou indecis&otilde;es.&nbsp;Os crist&atilde;os, por outro lado, consideram a f&eacute; em Deus como um valor central.&nbsp;Entretanto, como j&aacute; vimos, humanistas seculares apoiam-se em estruturas de valores r&iacute;gidas tais como a centralidade da raz&atilde;o pr&eacute;-concebida em determinadas e bem espec&iacute;ficas estruturas filos&oacute;ficas, em detrimento de percep&ccedil;&otilde;es sobre as quais acreditam n&atilde;o haver qualquer possibilidade de desenvolvimento de um conhecimento cr&iacute;tico ou cient&iacute;fico. Ali&aacute;s, a vis&atilde;o sobre o que &eacute; ci&ecirc;ncia talvez seja uma das principais diferen&ccedil;as entre o pensamento humanista secular e o pensamento crist&atilde;o, principalmente ap&oacute;s a crise intelectual causada pela pandemia de COVID-19.
Durante a pandemia, e em decorr&ecirc;ncia dela, &ldquo;a ci&ecirc;ncia&rdquo; foi amplamente citada como uma entidade homog&ecirc;ncia, aut&ocirc;noma e herm&eacute;tica, talvez at&eacute; aut&ocirc;mata, com &ldquo;opini&atilde;o&rdquo; pr&oacute;pria (sim, opini&atilde;o!!!) sem a necessidade de comprovar empiricamente as conclus&otilde;es apresentadas por esta tal &ldquo;ci&ecirc;ncia&rdquo;. Neste tipo de pensamento, as observa&ccedil;&otilde;es da realidade s&atilde;o colocadas em segundo plano, preteridas diante das escolhas feitas por esta entidade: &ldquo;A Ci&ecirc;ncia&rdquo;. Ela &eacute; colocada como um or&aacute;culo sob o qual, qualquer observa&ccedil;&atilde;o ou constata&ccedil;&atilde;o deve se render, mesmo que n&atilde;o fa&ccedil;a sentido aos fen&ocirc;menos observados no universo da realidade.
A ci&ecirc;ncia, como complexo de conhecimentos nunca foi e n&atilde;o deve se portar como &ldquo;irrefut&aacute;vel&rdquo;, pelo contr&aacute;rio, sempre deve estar aberta a ser questionada e, eventualmente refutada para que possa progredir em amplitude, abrang&ecirc;ncia e profundidade. Uma ci&ecirc;ncia feita sobre fundamentos crist&atilde;os, deve julgar a si mesma, submeter-se ao julgamento da verdade e da prova. Ao contr&aacute;rio da pecha que foi impingido &agrave; f&eacute; e ao pensamento crist&atilde;o, estes devem ser, por natureza, postos &agrave; prova. A d&uacute;vida sadia, propositiva, sempre levar&aacute; a novos conhecimentos. O pr&oacute;prio Cristo utilizava-se de perguntas propositivas e questionamentos intelectuais, para levar seus interlocutores a um aprendizado mais profundo.
Vis&atilde;o sobre o ser humano
O humanismo considera o ser humano como centro das aten&ccedil;&otilde;es, em um caminho que podemos denominar de hedonismo moderno, cultuando a autoimagem, quer seja do corpo f&iacute;sico, quer seja do intecto. O objetivo da vida em geral &eacute; a pr&oacute;pria vida, preferencialemente com atributos de conforto e seguran&ccedil;a. Antropologicamente, esta &eacute; uma consequencia natural do processo de sedentariza&ccedil;&atilde;o, em que a humanidade busca permanecer em uma condi&ccedil;&atilde;o tal, que lhe seja favor&aacute;vel uma exist&ecirc;ncia cada vez menos desafiadora, em contraponto &agrave;s condi&ccedil;&otilde;es adversas de uma vida n&ocirc;made. O pensamento humanista, como j&aacute; abordamos, pretende valorizar a raz&atilde;o e a ci&ecirc;ncia, apoiadas na experi&ecirc;ncia da exist&ecirc;ncia enquanto corpo biol&oacute;gico dotado de raz&atilde;o, sem uma exist&ecirc;ncia posterior &agrave; morte. As consequencias para este pensamento s&atilde;o altamente dr&aacute;sticas sobre o modelo que se vive uma vida que findar&aacute; definitivamente com a morte do corpo f&iacute;sico. Temos ent&atilde;o um misto de vis&atilde;o utilitarista da pr&oacute;pria vida, com a busca de um fim nela mesma. O pensamento crist&atilde;o sobre o ser humano, por outro lado, considera o homem como sendo a obra-prima da cria&ccedil;&atilde;o divina, dotada de atributos &uacute;nicos dentre todos os outros seres criados. Entre estes atributos, podemos citar a vida eterna e a filia&ccedil;&atilde;o a um Deus que ama a humanidade de tal forma que n&atilde;o se poupou em conceder-se a si mesmo para salvar a pr&oacute;pria humanidade. Replicar os atributos divinos deve ser ent&atilde;o uma busca constante do crist&atilde;o.
Valores centrais
Os valores centrais do cristianismo incluem o amor ao pr&oacute;ximo, a compaix&atilde;o, a caridade, a justi&ccedil;a, a paz, o perd&atilde;o, a humildade, a honestidade, a virtude, a esperan&ccedil;a, a bondade, a miseric&oacute;rdia, a solidariedade, a compreens&atilde;o, a fraternidade e, acrescento um valor important&iacute;ssimo para os dias atuais e para os pr&oacute;ximos dias: a excel&ecirc;ncia. Estes valores, para o pensamento crist&atilde;o, n&atilde;o s&atilde;o um fim em si mesmo, mas tem origem e finalidade no princ&iacute;pio da filia&ccedil;&atilde;o, ou seja, deve-se portar estes valores &lsquo;por&rsquo; ser filho de Deus, e n&atilde;o &lsquo;para&rsquo; ser filho de Deus; e mais, &eacute; necess&aacute;rio que, antes de olhar as pr&oacute;prias necessidades, &eacute; necess&aacute;rio atentar para a necessidades dos outros, considerando n&atilde;o apenas as necessidades materiais, mas tamb&eacute;m as emocionais e f&iacute;sicas.&nbsp;Os humanistas por sua vez, tendem a defender os direitos humanos, ainda que sejam desprovedores de deveres, a liberdade de express&atilde;o com um controle de &lsquo;moralidade&rsquo; com base no pr&oacute;prio humanismo, as pol&iacute;ticas progressistas e uma democracia centrada na garantia dos direitos humanos. A grande oposi&ccedil;&atilde;o entre uma vis&atilde;o e outra talvez seja a pr&oacute;pria quest&atilde;o do &ldquo;direito humano&rdquo;. Para o pensamento crist&atilde;o tradicional, a humanidade deca&iacute;da n&atilde;o tem direito algum, e mesmo assim, Cristo morreu por ela, concedendo-lhe ent&atilde;o o direito de ser chamada de &ldquo;filhos de Deus&rdquo;.
&Eacute; muito importante refletirmos e conhecermos as caracter&iacute;stas do pensamento humano deste primeiro quarto de s&eacute;culo, caracterizado por v&aacute;rias tend&ecirc;ncias marcantes, influenciadas por avan&ccedil;os tecnol&oacute;gicos, transforma&ccedil;&otilde;es sociais e desafios globais.
1. Complexidade e Fragmenta&ccedil;&atilde;o
- Hiperconex&atilde;o: A era digital trouxe um fluxo incessante de informa&ccedil;&otilde;es, resultando em mentes mais conectadas, mas frequentemente sobrecarregadas.
- Polariza&ccedil;&atilde;o: O debate p&uacute;blico tornou-se mais fragmentado, com ideologias e opini&otilde;es extremadas dominando as discuss&otilde;es. Este fen&ocirc;meno traz consigo a possibilidade de uma clareza cada vez mais evidente de defini&ccedil;&otilde;es, por&eacute;m cada vez mais complexa pela diversidade de pensamentos
2. Individualismo e Autenticidade
- Busca por identidade: H&aacute; uma &ecirc;nfase crescente na valoriza&ccedil;&atilde;o da experi&ecirc;ncia pessoal, autenticidade e express&atilde;o individual, ainda que em detrimento do outro.
- Relativismo moral: Vivemos em um tempo p&oacute;s-moderno, e uma das principais caracter&iacute;sticas &eacute; efetivamente a relativiza&ccedil;&atilde;o da verdade e da moral. Cresceu a ideia de que valores e verdades s&atilde;o subjetivos e dependem da perspectiva de cada indiv&iacute;duo.
3. Tecnocentrismo
- Depend&ecirc;ncia tecnol&oacute;gica: O pensamento humano est&aacute; cada vez mais moldado pela intelig&ecirc;ncia artificial, redes sociais e algoritmos. Uma busca identica em uma intelig&ecirc;ncia artificial, rede social ou buscar de internet poder&aacute; trazer resultados diversos para indiv&iacute;duos diferentes, pois foram treinadas pelos h&aacute;bitos de buscas detes indiv&iacute;duos.
- Automatiza&ccedil;&atilde;o da cogni&ccedil;&atilde;o: Ferramentas digitais influenciam como as pessoas aprendem, se comunicam e tomam decis&otilde;es, alterando seus h&aacute;bitos e sua pr&oacute;pria hist&oacute;ria, perspectiva e expectativa de vida.
4. Preocupa&ccedil;&otilde;es Existenciais
- Sustentabilidade e crise clim&aacute;tica: O pensamento global reflete um senso de urg&ecirc;ncia para resolver problemas ambientais e sociais, colocando o ser humano como v&iacute;tima e causador de danos &agrave; natureza e ao equil&iacute;brio do funcionamento do planeta. O pensamento crist&atilde;o diverge desta causalidade, na medida em que compreende que, atrav&eacute;s do pecado, toda a natureza (inclusive a pr&oacute;pria humanidade) est&aacute; comprometida desde a queda.
- Ansiedade pelo futuro: A inseguran&ccedil;a econ&ocirc;mica, as mudan&ccedil;as r&aacute;pidas, os avan&ccedil;os em biotecnologia e intelig&ecirc;ncias artificiais, al&eacute;m das graves amea&ccedil;as de guerras levantam quest&otilde;es &eacute;ticas e existenciais profundas, trazendo incertezas e crises de ansiedade generalizadas.
5. Espiritualidade Pluralista
- Reconfigura&ccedil;&atilde;o religiosa: H&aacute; uma busca por espiritualidade fora dos moldes tradicionais, muitas vezes misturando cren&ccedil;as e pr&aacute;ticas em um sincretismo que tamb&eacute;m foge da l&oacute;gica das religi&otilde;es tal qual suas teologias as definem tradicionalmente. Assim prop&otilde;e-se a pr&aacute;tica e cren&ccedil;a concomitantes de conjuntos teol&oacute;gicos completamente antag&ocirc;nicos, tais como um protestantismo-m&iacute;stico-espiritualista, um catolicismo-esp&iacute;rita, ou um cristianismo-busdista.
- Seculariza&ccedil;&atilde;o: Ao mesmo tempo, cresce a influ&ecirc;ncia do pensamento secular e materialista em muitas sociedades e comunidades de f&eacute;. Podemos falar no desenvolvimento de uma f&eacute; secularizada, fen&ocirc;meno que foi amplamente observado no norte europeu durante a segunda metade do s&eacute;culo XX.
6. Pragmatismo e Inova&ccedil;&atilde;o
- Solu&ccedil;&otilde;es pr&aacute;ticas: O foco em inova&ccedil;&atilde;o e progresso orientado a resultados est&aacute; no centro das prioridades.
Esse panorama reflete um pensamento humano em transi&ccedil;&atilde;o, buscando equil&iacute;brio entre a rapidez das mudan&ccedil;as e a necessidade de valores duradouros e conex&otilde;es significativas. Entretanto, essas conex&otilde;es e valores vem apoiando-se me princ&iacute;pios humanos, em sua pr&oacute;pria exist&ecirc;ncia.
Cada vez mais observa-se um aumento significativo de doen&ccedil;as cognitivas, muitas vezes potencializadas por uma busca desenfreada de compensa&ccedil;&otilde;es dopam&iacute;nicas, que acabam causando vazios existencias graves que, somados a ansiedade e incertezas em rela&ccedil;&atilde;o ao futuro, acabam trazendo consequencias como aumento de suic&iacute;dios, transtornos como automutila&ccedil;&atilde;o f&iacute;sica e intelectual.
Para todas estas quest&otilde;es o cristianismo traz uma proposta de mudan&ccedil;a de pensamento radical, reposicionando a centralidade da f&eacute; e das esperan&ccedil;as n&atilde;o na pr&oacute;pria exist&ecirc;ncia fisiol&oacute;gica, mas em uma exist&ecirc;ncia transcendente que perpassa esta exist&ecirc;ncia f&iacute;sica.
&Eacute; necess&aacute;rio compreender que a proposta de vida crist&atilde; n&atilde;o &eacute; (ou ao menos n&atilde;o deve ser) uma proposta &ldquo;templ&aacute;ria&rdquo;, de uma religiosidade praticada apenas em um ambiente lit&uacute;rgico. Ao contr&aacute;rio, deve ser a transforma&ccedil;&atilde;o profunda das estruturas mentais, processuais e declarat&oacute;rias, que trar&atilde;o uma consequente transforma&ccedil;&atilde;o profunda no modo de viver e de contemplar a vida.
Veja a proposta do ap&oacute;stolo Paulo na carta aos Romanos, cap&iacute;tulo 12, verso 2: &ldquo;N&atilde;o se amoldem ao padr&atilde;o deste mundo, mas transformem-se pela renova&ccedil;&atilde;o da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agrad&aacute;vel e perfeita vontade de Deus.&rdquo;
Perceba a constru&ccedil;&atilde;o reflexiva do verbo &ldquo;transformar&rdquo;. Ou seja, a proposta &eacute; que somos respons&aacute;veis por transformar a nossa pr&oacute;pria forma atrav&eacute;s da renova&ccedil;&atilde;o da nossa mente. Precisamos pedir gra&ccedil;a e entendimento a Deus para sejamos capazes de enfrentar as nossas pr&oacute;prias estruturas mentais, para que de fato n&atilde;o assumamos a forma, o molde da mente deste mundo, mas a responsabilidade de fato &eacute; nossa!
Assim, transforme-se!!!
&nbsp;
Marcio Scarpellini &eacute; Pastor, Administrador de Empresas, Pedagogo, Cientista Social, P&oacute;s-Graduado em Educa&ccedil;&atilde;o, Pol&iacute;tica e Sociedade, Antropologia, Neurologia Aplicada &agrave; Aprendizagem, Psican&aacute;lise e Ci&ecirc;ncias da Religi&atilde;o. Diretor Escolar, professor e palestrante, &eacute; casado h&aacute; 20 anos com a Patr&iacute;cia e pai do Jo&atilde;o Pedro e da Manuella.
* O conte&uacute;do do texto acima &eacute; uma colabora&ccedil;&atilde;o volunt&aacute;ria, de total responsabilidade do autor e n&atilde;o reflete necessariamente a opini&atilde;o do Portal Guiame.
Leia o artigo anterior: <a style="color: #800000;" href="https://guiame.com.br/colunistas/marcio-scarpellini/cosmovisao-crista-e-ensino-escolar.html">Cosmovis&atilde;o crist&atilde; e ensino escolar</a>

Humanismo e cristianismo carregam sistemas de valores e crenças que se diferenciam em muitos pontos, sendo que, em alguns deles são expressamente antagônicos.

Reconfigurando estruturas humanistas de pensamento

A instru&ccedil;&atilde;o formal &eacute; um dos pilares mais importantes de qualquer sociedade, pois molda o entendimento, o car&aacute;ter e o futuro das pr&oacute;ximas gera&ccedil;&otilde;es, al&eacute;m de solidificar os conhecimentos cient&iacute;ficos j&aacute; conhecidos, pretendendo perpetu&aacute;-los para que as gera&ccedil;&otilde;es futuras possam aproveit&aacute;-los, continuando a desenvolver conhecimentos tecn&oacute;logicos e cient&iacute;ficos nas mais diversas &aacute;reas do conhecimento. No entanto, o modo como se ensina e os valores que orientam esse ensino s&atilde;o t&atilde;o ou mais importantes do que o pr&oacute;prio conte&uacute;do.
Dentro da tradi&ccedil;&atilde;o crist&atilde;, a educa&ccedil;&atilde;o &eacute; considerada uma ferramenta de transforma&ccedil;&atilde;o e desenvolvimento humano que vai al&eacute;m do conte&uacute;do acad&ecirc;mico. O que chamo de "cosmovis&atilde;o crist&atilde;" ou, ainda melhor, uma &ldquo;cosmovis&atilde;o b&iacute;blica&rdquo;, trata-se das pr&oacute;prias estruturas mentais necess&aacute;rias para que o indiv&iacute;duo interprete e &ldquo;leia&rdquo; o mundo que o cerca, as pessoas, as coisas, as ideias.
&Eacute;, portanto, mais do que uma &ldquo;maneira de ver e entender o mundo&rdquo;, mas os pilares para a experi&ecirc;ncia da pr&oacute;pria vida. Em uma analogia, n&atilde;o se trata apenas dos &ldquo;&oacute;culos&rdquo; com os quais vemos o mundo, pois podemos trocar de &oacute;culos. Trata-se, ent&atilde;o, dos pr&oacute;prios olhos, com suas caracter&iacute;sticas, forma e conex&otilde;es neurais que transmitem ao c&eacute;rebro as imagens visualizadas.
Uma cosmovis&atilde;o b&iacute;blica, portanto, oferecer&aacute; base nos ensinamentos e valores b&iacute;blicos, proporcionando uma contribui&ccedil;&atilde;o fundamental para o ambiente escolar, para os conte&uacute;dos propostos para o ensino regular, pretendendo ent&atilde;o formar indiv&iacute;duos que de fato venham contribuir para a forma&ccedil;&atilde;o de fam&iacute;lias equilibradas, e uma sociedade de fato melhor.
O que &eacute; a cosmovis&atilde;o crist&atilde;?
Podemos definir o termo &ldquo;cosmovis&atilde;o&rdquo; como um conjunto de ideias e cren&ccedil;as que orientam a maneira como uma pessoa compreende o mundo, defini&ccedil;&atilde;o simples e vis&iacute;vel na pr&oacute;pria ascep&ccedil;&atilde;o do termo. Uma cosmovis&atilde;o crist&atilde;, portanto, baseia-se em princ&iacute;pios b&iacute;blicos e v&ecirc; o homem e o mundo como cria&ccedil;&atilde;o de Deus, com prop&oacute;sitos, fun&ccedil;&otilde;es e significados dados pelo pr&oacute;prio Criador.
Esse entendimento influencia diretamente a vis&atilde;o que o crist&atilde;o tem sobre todas as dimens&otilde;es da vida, inclusive sobre o papel da escola, que deve ser ent&atilde;o, n&atilde;o apenas instruir, mas contribuir para a forma&ccedil;&atilde;o de seres humanos completos, que amam a Deus e ao pr&oacute;ximo, agindo para o bem comum, em vistas &agrave; vida eterna. Esta contribui&ccedil;&atilde;o da escola, se d&aacute; na medida de que, biblicamente, a fun&ccedil;&atilde;o prec&iacute;pua de formar a pr&oacute;xima gera&ccedil;&atilde;o &eacute; dos pais.
Vemos esta determina&ccedil;&atilde;o de forma expressa no texto do livro de Deuteron&ocirc;mio 6, onde percebemos a fun&ccedil;&atilde;o de ensinadores dos princ&iacute;pios e estatutos eternos ordenadas de fato aos pais. Assim, a fam&iacute;lia deve ter esta consci&ecirc;ncia de forma absolutamente clara em mente e, apenas a partir desta consci&ecirc;cia, lan&ccedil;ar-se a estabelecer uma parceria com uma institui&ccedil;&atilde;o escolar que reforce os princ&iacute;pios que foram ensinados em casa, aprofundando-os e aplicando-os nas &aacute;reas de conhecimento a serem exploradas.
Um ensino escolar submetido &agrave; cosmovis&atilde;o crist&atilde; deve propiciar um ambiente em que o aluno desenvolva uma vida &eacute;tica, respons&aacute;vel e comprometida com a verdade. Aqui cabe lembrar que trato sempre da Verdade como um conceito universal, &uacute;nico, inabal&aacute;vel, e capaz de manter-se por si mesma, em oposi&ccedil;&atilde;o &agrave; ideia de p&oacute;s-verdade, verdades plurais ou, ainda, verdades relativas.
O processo de escolariza&ccedil;&atilde;o crist&atilde; deve ir al&eacute;m da ideia de que o conhecimento se basta por si mesmo ou de que a devemos &lsquo;conhecer por conhecer&rsquo; ou ainda, que seja um conhecimento para aquisi&ccedil;&atilde;o de habilidades t&eacute;cnicas. Em vez disso, o processo de escolariza&ccedil;&atilde;o crist&atilde; deve propor que todas as coisas foram feitas por Deus e para Deus, para sua gl&oacute;ria, e conhec&ecirc;-las deve ser visto como um ato de adora&ccedil;&atilde;o e glorifica&ccedil;&atilde;o a Deus, pois poderemos testificar as maravilhas feitas pelas suas m&atilde;os.
Ao estudar a obra de um autor, o quadro de um pintor ou a m&uacute;sica de um compositor, nos aproximamos do car&aacute;ter deste artista, de suas predile&ccedil;&otilde;es, das formas com as quais ele cria. Assim tamb&eacute;m, deve-se pretender que ao estudar os aspectos f&iacute;sicos da natureza, fenomenol&oacute;gicos das linguagens, das artes, do homem em todas as dimens&otilde;es de sua exist&ecirc;ncia, estaremos nos aproximando do conhecimento da sabedoria e do car&aacute;ter do pr&oacute;prio Deus. A partir deste conhecimeento e experi&ecirc;ncia, o aluno deve ser levado ent&atilde;o ao passo de n&atilde;o apenas saber sobre a cria&ccedil;&atilde;o ou as coisas feitas por Deus, mas deve ent&atilde;o passar a caminhar com o pr&oacute;prio Deus, aprendendo dEle, diretamente dEle, sobre como deve se portar nas diversas &aacute;reas da vida, inclusive da ci&ecirc;ncia, mas tamb&eacute;m da &eacute;tica e das virtudes.
Assim, um col&eacute;gio crist&atilde;o n&atilde;o deve apenas ter os aspectos est&eacute;ticos ou lit&uacute;rgicos como caracteriza&ccedil;&atilde;o de sua &ldquo;cristianicidade&rdquo;, mas deve principalmente e profundamente, avaliar o que ensina e como ensina, passando por quem ensina, submetendo todos estes fatores ao que diz a B&iacute;blia sobre os conte&uacute;dos e a forma de fazer um ensino correto &agrave; luz da pr&oacute;pria B&iacute;blia.
Contribui&ccedil;&otilde;es hist&oacute;ricas do Cristianismo para a educa&ccedil;&atilde;o
O Cristianismo, em sua longa hist&oacute;ria de mais de 2.000 anos, sempre foi um dos maiores incentivadores da educa&ccedil;&atilde;o. A Reforma Protestante transformou profundamente o papel da escola na sociedade. Lutero acreditava que todos deveriam ter acesso &agrave; leitura da B&iacute;blia em seu pr&oacute;prio idioma e, para isso, promovia a alfabetiza&ccedil;&atilde;o e a tradu&ccedil;&atilde;o de textos sagrados. Esse movimento deu origem &agrave; ideia de educa&ccedil;&atilde;o universal, um princ&iacute;pio fundamental das sociedades modernas.
Os reformadores tamb&eacute;m fundaram institui&ccedil;&otilde;es de ensino que refletiam o desejo de uma educa&ccedil;&atilde;o que promovesse o desenvolvimento integral das pessoas. Nas col&ocirc;nias norte-americanas, por exemplo, os protestantes puritanos fundaram escolas e universidades, como Harvard, para educar l&iacute;deres com valores &eacute;ticos e espirituais s&oacute;lidos. No Brasil, a tradi&ccedil;&atilde;o protestante trouxe institui&ccedil;&otilde;es de ensino de qualidade, como os col&eacute;gios Mackenzie, Batista e Presbiteriano, todos fundamentados em uma educa&ccedil;&atilde;o baseada em princ&iacute;pios crist&atilde;os.
Essas escolas n&atilde;o s&oacute; visavam &agrave; instru&ccedil;&atilde;o acad&ecirc;mica profunda e consistente, mas buscavam formar o car&aacute;ter do aluno, refor&ccedil;ando virtudes como honestidade, responsabilidade e solidariedade. Esse modelo educativo inspira muitas escolas confessionais at&eacute; hoje e refor&ccedil;a a import&acirc;ncia de valores s&oacute;lidos para a constru&ccedil;&atilde;o de uma sociedade &eacute;tica e justa.
A educa&ccedil;&atilde;o crist&atilde; hoje: desafios e relev&acirc;ncia
No contexto contempor&acirc;neo, a cosmovis&atilde;o crist&atilde; no ensino escolar enfrenta novos e complexos desafios. Em um ambiente cada vez mais plural e secularizado, muitas vezes o professor e a escola deparam-se com dificuldades em afirmar valores absolutos ou defender uma vis&atilde;o crist&atilde; da verdade e da moralidade. No entanto, se os princ&iacute;pios crist&atilde;os estiverem enraizados nos profissionais respons&aacute;veis por este processo, a perspectiva crist&atilde; de mundo jamais ser&aacute; uma barreira para o respeito aos diferentes; ao contr&aacute;rio, uma educa&ccedil;&atilde;o baseada em valores crist&atilde;os tamb&eacute;m ensina o respeito ao pr&oacute;ximo, a dignidade de cada ser humano e a compaix&atilde;o, dedicada com mais profundidade &agrave;queles que ainda n&atilde;o compreendem ou n&atilde;o aceitam a f&eacute; crist&atilde;.
Atrav&eacute;s do estudo de boa ci&ecirc;ncia, de boa filosofia, de bons conhecimentos, a cosmovis&atilde;o crist&atilde; deve pretender um ambiente de ensino que explore as dimens&otilde;es da exist&ecirc;ncia de forma profunda e completa, estudando, por exemplo, a vida humana n&atilde;o apenas na dimens&atilde;o f&iacute;sica, mas tamb&eacute;m na dimens&atilde;o das emo&ccedil;&otilde;es (da psiqu&ecirc;) e tamb&eacute;m na dimens&atilde;o espiritual. Compreender a vida de uma maneira mais ampla, far&aacute; com que o professor veja o aluno n&atilde;o apenas como algu&eacute;m &ldquo;sem a luz do conhecimento&rdquo;, mas como algu&eacute;m em forma&ccedil;&atilde;o, caminhando para alcan&ccedil;ar a completude da vis&atilde;o&nbsp; de um Deus eterno que viu essa crian&ccedil;a ser formada desde ventre de sua m&atilde;e, de um Deus que ama essa crian&ccedil;a de maneira &uacute;nica e especial, e deseja fazer nela e atrav&eacute;s dela, prop&oacute;sitos que podem mudar a hist&oacute;ria de uma fam&iacute;lia, de uma cidade, de uma na&ccedil;&atilde;o ou at&eacute; de toda a humanidade.
O aluno de uma escola crist&atilde; deve ter um senso cr&iacute;tico apurado, ser um perseguidor da verdade, questionador dos modismos culturais, que muitas vezes promovem ideias prejudiciais ao bem-estar individual e coletivo. Al&eacute;m disso, em tempos de alta competitividade e busca de resultados, um ensino de fato crist&atilde;o deve refor&ccedil;ar a import&acirc;ncia do servi&ccedil;o e da colabora&ccedil;&atilde;o, entendendo que o conhecimento que serve (ao outro) de fato n&atilde;o serve para nada.
A educa&ccedil;&atilde;o como miss&atilde;o
A escola crist&atilde; deve ter como miss&atilde;o n&atilde;o apenas formar profissionais, mas formar cidad&atilde;os que vejam seu trabalho e sua vida como uma voca&ccedil;&atilde;o ao servi&ccedil;o e a uma vida relevante. Ao compreender esses valores, o ensino regular transcende sua vis&atilde;o costumeira e ganha um prop&oacute;sito maior: formar seres humanos que impactem positivamente o mundo ao seu redor e glorifiquem o nome do Criador em todas as &aacute;reas de suas vidas.
Em tempos de r&aacute;pidas transforma&ccedil;&otilde;es, &eacute; essencial que pais, professores e a sociedade como um todo reconhe&ccedil;am o valor de um ensino formal que v&aacute; al&eacute;m do curr&iacute;culo e dos objetivos de ensino-aprendizagem. As escolas crist&atilde;s t&ecirc;m muito a oferecer ao fortalecer valores &eacute;ticos e espirituais, formando indiv&iacute;duos que, com fundamentos crist&atilde;os s&oacute;lidos, estar&atilde;o preparados para viver e atuar em um mundo complexo e que certamente continuar&aacute; alterando-se fren&eacute;ticamente. Um ensino bem fundamentado e integral no sentido da completude da vida &eacute; um legado que beneficia n&atilde;o s&oacute; o indiv&iacute;duo, mas toda a sociedade. Indiv&iacute;duos sadios podem de fato contribuir para a cura da sociedade.
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Marcio Scarpellini &eacute; Pastor, Administrador de Empresas, Pedagogo, Cientista Social, P&oacute;s-Graduado em Educa&ccedil;&atilde;o, Pol&iacute;tica e Sociedade, Antropologia, Neurologia Aplicada &agrave; Aprendizagem, Psican&aacute;lise e Ci&ecirc;ncias da Religi&atilde;o. Diretor Escolar, professor e palestrante, &eacute; casado h&aacute; 20 anos com a Patr&iacute;cia e pai do Jo&atilde;o Pedro e da Manuella.
* O conte&uacute;do do texto acima &eacute; uma colabora&ccedil;&atilde;o volunt&aacute;ria, de total responsabilidade do autor e n&atilde;o reflete necessariamente a opini&atilde;o do Portal Guiame.
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Dentro da tradição cristã, a educação é considerada uma ferramenta de transformação e desenvolvimento humano que vai além do conteúdo acadêmico.

Cosmovisão cristã e ensino escolar

Em julho de 2023, o neuropsic&oacute;logo e professor da Faculdade de Medicina da Northwestern University, Jordan Grafman, detentor do pr&ecirc;mio Humboldt Research Award de 2011 publicou um artigo na renomada revista Nature, sob o t&iacute;tulo "Os neurocientistas n&atilde;o devem ter medo de estudar religi&atilde;o". Neste artigo, Grafman afirma que muitos neurocientistas evitam investigar religi&atilde;o e espiritualidade por receio de serem considerados n&atilde;o cient&iacute;ficos, e defende que o foco da pesquisa deve ser a an&aacute;lise de como a religi&atilde;o se manifesta no c&eacute;rebro e seus efeitos, sem a inten&ccedil;&atilde;o de detratar ou promover cren&ccedil;as.
Com o intuito de avan&ccedil;ar nessa pesquisa, Grafman firmou uma parceria com a Ci&ecirc;ncia Pioneira, uma institui&ccedil;&atilde;o do Instituto D'Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) dedicada a pesquisas inovadoras, para criar um centro virtual dedicado &agrave; "neuroci&ecirc;ncia das cren&ccedil;as". Essa iniciativa contar&aacute; com a colabora&ccedil;&atilde;o de pesquisadores brasileiros e internacionais, incluindo o King&rsquo;s College London e o Shirley Ryan AbilityLab. O professor coordenar&aacute; estudos sobre temas como cogni&ccedil;&atilde;o religiosa e as bases cerebrais das cren&ccedil;as, explorando a rela&ccedil;&atilde;o entre cren&ccedil;as religiosas e n&atilde;o-religiosas, entre outros t&oacute;picos.
Em entrevista ao GLOBO, Grafman abordou a forma&ccedil;&atilde;o das cren&ccedil;as, argumentando que a escolha de cren&ccedil;as pode ser tanto uma adapta&ccedil;&atilde;o ao contexto social e cultural, quanto uma decis&atilde;o consciente, e que at&eacute; mesmo os ateus possuem representa&ccedil;&otilde;es de Deus em seu sistema cognitivo.
O professor tamb&eacute;m aborda a rela&ccedil;&atilde;o entre f&eacute; e ci&ecirc;ncia, discorrendo que, embora a ci&ecirc;ncia tenha avan&ccedil;ado na explica&ccedil;&atilde;o de muitos fen&ocirc;menos, ainda existem quest&otilde;es que permitem espa&ccedil;o para a busca de respostas a partir da f&eacute;. Ele prop&otilde;e que ci&ecirc;ncia e religi&atilde;o podem coexistir, com a ci&ecirc;ncia buscando explicar o que j&aacute; &eacute; conhecido, por&eacute;m reconhecendo que os campos de conhecimento que ainda n&atilde;o compreende. Grafman prop&otilde;e mapear as redes cerebrais associadas &agrave;s estruturas de cren&ccedil;a, buscando entender como elas se interconectam e influenciam comportamentos nas mais diversas &aacute;reas de cren&ccedil;as.
Grafman tamb&eacute;m aponta que existe uma resist&ecirc;ncia dos cientistas em estudar e publicar estudos sobre o tema &ldquo;espiritualidade&rdquo;, e esta resist&ecirc;ncia pode ser atribu&iacute;da a um dilema social, onde acad&ecirc;micos que n&atilde;o acreditam em Deus podem ridicularizar pesquisas sobre o tema. Em oposi&ccedil;&atilde;o a esta posi&ccedil;&atilde;o, ele prop&otilde;e que essa avers&atilde;o &eacute; um preconceito que deve ser superado, especialmente considerando a import&acirc;ncia da religi&atilde;o na sociedade. O professor defende que a pesquisa cient&iacute;fica sobre este tema deve focar os efeitos da religi&atilde;o na vida dos indiv&iacute;duos, buscando explorar as origens e consequencias que tornam a religi&atilde;o um sistema de cren&ccedil;as espec&iacute;fico.
Por fim, Grafman destaca que a f&eacute; pode ter diversos efeitos positivos, como a diminui&ccedil;&atilde;o do estresse e o aumento das sensa&ccedil;&otilde;es de bem-estar, e sugere ainda que a cren&ccedil;a pode ativar mecanismos cerebrais que ajudam a controlar a ansiedade. A parceria com o instituto brasileiro IDOR &eacute; vista como uma oportunidade &uacute;nica de estudar a rela&ccedil;&atilde;o entre cren&ccedil;as, sa&uacute;de e comportamento, com potencial impacto para a amplica&ccedil;&atilde;o do conhecimento nesta &aacute;rea.
Abaixo seguem alguns trechos importantes da entrevista:
Pergunta: Escolhemos acreditar em algo ou a f&eacute; &eacute; algo irracional?
Resposta: Aprendemos a acreditar. Muitas pessoas est&atilde;o em fam&iacute;lias onde uma cren&ccedil;a existia antes de nascerem, assim as crian&ccedil;as s&atilde;o expostas a essas cren&ccedil;as em casa ou em difernetes locais de culto. Ent&atilde;o, trata-se de absorver o mundo que est&aacute; ao seu redor. Voc&ecirc; adapta ou adota essa cren&ccedil;a por uma variedade de raz&otilde;es. Mas, sim, &agrave;s vezes as pessoas realmente escolhem seu sistema de cren&ccedil;as. Elas analisam ou t&ecirc;m uma experi&ecirc;ncia emocional dram&aacute;tica e dizem: vou acreditar dessa forma por causa disso.
P.: Mesmo quem vem de uma fam&iacute;lia ateia, por exemplo, pode optar por acreditar?
R.: N&atilde;o acreditar em Deus tamb&eacute;m &eacute; uma cren&ccedil;a. Mas certamente &eacute; poss&iacute;vel escolher suas cren&ccedil;as ou influenciado atrav&eacute;s da sua exposi&ccedil;&atilde;o. Uma vez que voc&ecirc; foi exposto &agrave; ideia de Deus ou religi&atilde;o, adivinhe onde est&aacute;? No seu c&eacute;rebro. Ent&atilde;o, at&eacute; mesmo ateus t&ecirc;m uma representa&ccedil;&atilde;o de Deus em seus c&eacute;rebros. N&atilde;o podem escapar dEle. Por causa disso, isso pode soar radical, mas eu digo: Deus existe. Tenho confian&ccedil;a de que Deus existe no c&eacute;rebro. Ent&atilde;o podemos estudar Deus com seguran&ccedil;a e em grande quantidade de detalhes estudando como o c&eacute;rebro processa, representa e permite nossos comportamentos associados &agrave; religi&atilde;o.
P.: Nosso c&eacute;rebro &eacute; projetado para a cren&ccedil;a?
R.: Sim, com certeza. O que n&oacute;s tentamos fazer, como humanos, &eacute; tentar explicar os eventos que vemos. Nos tempos amuito antigos, quando um vulc&atilde;o entrava em erup&ccedil;&atilde;o ou um terremoto ocorria, por exemplo, questionavam: &lsquo;o que causou isso?&rsquo; &lsquo;Quem causou isso?&rsquo; Bem, &eacute; mais poderoso do que n&oacute;s humanos, deve ser algum outro ser. Ent&atilde;o, muitas das primeiras explica&ccedil;&otilde;es de eventos naturais eram agentes sobrenaturais. Esse foi o come&ccedil;o. Mas depois evoluiu para uma quest&atilde;o social. Cren&ccedil;as frequentemente ajudam a organizar sociedades, seja uma fam&iacute;lia, uma tribo ou um pa&iacute;s. Se voc&ecirc; acreditasse de uma certa forma, poderia pensar que seu grupo &eacute; forte e, se houvesse uma batalha, iria venc&ecirc;-la. Se houvesse uma cren&ccedil;a ligada &agrave; agricultura, creditaria a ela os frutos de seu trabalho. Isso &eacute; parte da evolu&ccedil;&atilde;o humana.
P.: Essas cren&ccedil;as s&atilde;o frequentemente questionadas?
R.: Uma vez que voc&ecirc; estabelece uma cren&ccedil;a, n&atilde;o precisa se preocupar com certas coisas. Est&aacute; estabelecido. No entanto, se voc&ecirc; n&atilde;o acredita em muita coisa, sua vida pode ser movida pela ansiedade. E quase todo mundo quer reduzir a ansiedade. Nosso c&eacute;rebro acha muito importante ter essas cren&ccedil;as. Se eu quiser conhecer algu&eacute;m, quero saber o que essa pessoa pensa e em que acredita. Ent&atilde;o, as cren&ccedil;as s&atilde;o uma assinatura para nossas identidades como indiv&iacute;duos e como grupos.
P.: Muitas quest&otilde;es que dependiam de cren&ccedil;as a ci&ecirc;ncia explicou. &Eacute; mais dif&iacute;cil hoje acreditar em coisas sobrenaturais, j&aacute; que temos a ci&ecirc;ncia explicando as coisas?
R.: Sabemos muito mais, mas n&atilde;o sabemos tudo. Sim, eu acho que para muitas pessoas, elas t&ecirc;m, por um lado, sua f&eacute;. E do outro lado, a ci&ecirc;ncia e os fatos. Fatos verdadeiros s&atilde;o muito importantes, mas eles n&atilde;o cobrem tudo. Se a sociedade fizer o trabalho certo, espero que fa&ccedil;amos, ent&atilde;o, enquanto tivermos fatos, podemos dizer que &ldquo;sabemos disso e n&atilde;o sabemos daquilo&rdquo;. E ent&atilde;o, ainda h&aacute; espa&ccedil;o para a f&eacute;. Por exemplo, n&atilde;o sabermos o que acontece antes da vida. E, em certo sentido, ningu&eacute;m sabe o que acontece depois.
P.: Como a f&eacute; se relaciona com a neurologia?
R.: O primeiro passo &eacute; desenvolver conhecimento sobre redes cerebrais relacionadas a diferentes aspectos da cren&ccedil;a e pr&aacute;tica religiosa. &Eacute; mapear a religi&atilde;o no c&eacute;rebro. O segundo &eacute; ver a que essas redes est&atilde;o relacionadas al&eacute;m da religi&atilde;o.
P.: Por que os cientistas evitam estudar espiritualidade?
R.: Existem dilemas sociais e preconceitos que podem levar os cientistas a evitarem esse tema. Muitos acad&ecirc;micos n&atilde;o acreditam em Deus e podem ser cr&iacute;ticos em rela&ccedil;&atilde;o a pesquisas nesse campo, o que desencoraja investiga&ccedil;&otilde;es mais profundas sobre a espiritualidade.
P.: Como assim?
R.: Fizemos pesquisas sobre cren&ccedil;as e regi&otilde;es no c&eacute;rebro importantes para o fundamentalismo. Talvez essas redes estejam pr&oacute;ximas no c&eacute;rebro e sabemos que a ativa&ccedil;&atilde;o em uma rede cerebral pode afetar o funcionamento da rede vizinha. Ent&atilde;o, se voc&ecirc; for ativo em suas cren&ccedil;as religiosas, isso pode influenciar de uma forma muito sutil suas cren&ccedil;as pol&iacute;ticas e vice-versa. E isso nem sempre est&aacute; na sua consci&ecirc;ncia. J&aacute; sabemos que existe uma rela&ccedil;&atilde;o. Queremos mapear essas redes no c&eacute;rebro para que possamos ver como elas se relacionam entre si.
P.: Por que os cientistas evitam estudar espiritualidade?
R.: A Ci&ecirc;ncia n&atilde;o quer falar sobre isso. Em parte, &eacute; um dilema social Muitos acad&ecirc;micos, n&atilde;o todos, mas muitos, n&atilde;o acreditam em Deus. E eles podem ridicularizar voc&ecirc; se quiser fazer uma pesquisa sobre o assunto. Os peri&oacute;dicos n&atilde;o querem publicar artigos sobre o assunto, hesitam. Agora, lembre-se, h&aacute; mais locais de culto no mundo do que escolas ou prefeituras. N&atilde;o estamos falando de um pequeno subconjunto de pessoas que vivem em algum lugar perdido. Realmente acho que h&aacute; esse preconceito social, e n&atilde;o deveria haver, especialmente por causa da import&acirc;ncia da religi&atilde;o na sociedade.
P.: H&aacute; estudos que apontam que a espiritualidade &eacute; boa para a sa&uacute;de e bem-estar, mas como isso funciona?
R.: De muitas maneiras. Algumas pessoas est&atilde;o procurando cren&ccedil;as que possam adotar porque &eacute; reconfortante, reduz a ansiedade. Mas nem precisamos chegar a isso, considere um placebo. Se voc&ecirc; acredita que o que est&aacute; tomando vai funcionar, geralmente funciona. Esse &eacute; um exemplo perfeito de qu&atilde;o frequentemente, cerca de 30% das pessoas se beneficiam de medicamentes placebo. Como isso acontece? Esse &eacute; o poder da cren&ccedil;a no c&eacute;rebro, ajudando a estimular, por exemplo, mecanismos anti-inflamat&oacute;rios, ou ativando processos cerebrais que ajudam a controlar a ansiedade, reduzir o estresse, etc.
P.: Pode falar mais sobre esse centro de estudos no Rio?
R.: &Eacute; complicado estudar essas coisas no mundo. Ent&atilde;o escolhemos, com a ajuda do Centro de Neuroci&ecirc;ncia e Psicologia de Valores e Cren&ccedil;as, o programa IDOR, olhar para o c&eacute;rebro. Isso elemina muitos dos problemas que v&ecirc;m com o estudo da religi&atilde;o. E a iniciativa no Rio &eacute; muito &uacute;nica e importante, e o impacto vai al&eacute;m do Brasil. &Eacute; internacional. E tamb&eacute;m est&aacute; al&eacute;m da religi&atilde;o. Porque, como falamos, cren&ccedil;as incluem vis&otilde;es pol&iacute;ticas, econ&ocirc;micas, sobre outras pessoas. Cren&ccedil;as d&atilde;o esse repert&oacute;rio.
Minhas observa&ccedil;&otilde;es sobre a entrevista do Dr. Jordan Grafman
A rela&ccedil;&atilde;o entre f&eacute; e ci&ecirc;ncia tem sido tumultuosa e muitas vezes parece ser at&eacute; infrut&iacute;fera, mas eu entendo que ambas, como &aacute;reas de conhecimento distintas podem contribuir profundamentamente para uma compreens&atilde;o mais ampla e profunda sobre a experi&ecirc;ncia da vida humana. Concordo de forma ampla com o pensamento de Lois Pasteur sobre este assunto, quando ele disse que a &ldquo;...boa ci&ecirc;ncia nos aproxima do Criador&rdquo;.
Entendo que, por &ldquo;boa ci&ecirc;ncia&rdquo; devemos considerar aquela que &eacute; feita baseada na pesquisa pura, sem pr&eacute;-defini&ccedil;&otilde;es ou expectativas de encontrar e validar resultados j&aacute; programados e desejados. Por &ldquo;Criador&rdquo;, considero Aquele que cumpra os requisitos necess&aacute;rios pela l&oacute;gica: um ente que seja atemporal, ou seja, que seja anterior e exterior ao tempo, pois j&aacute; sabemos cient&iacute;ficamente que o tempo teve in&iacute;cio e metaf&iacute;sico, pois n&atilde;o pode depender dos compostos f&iacute;sicos existentes e &ldquo;n&atilde;o criado&rdquo;, pois se fosse um ente criado seria cria&ccedil;&atilde;o e n&atilde;o criador. Este ente, n&atilde;o pode ter-se desenvolvido a partir de quaisquer outras condi&ccedil;&otilde;es, visto que estas condi&ccedil;&otilde;es propostas seriam necess&aacute;rias ao ente criador original.
Dito isso, tendo a concordar em diversos pontos com o professor Grafman, mas tamb&eacute;m a discordar em alguns pontos que julgo importantes. Em sua entrevista &eacute; poss&iacute;vel inferir que o fen&ocirc;meno que ele chama de &ldquo;cren&ccedil;a&rdquo; pode ser equiparado ao efeito placebo, dando ent&atilde;o um sentimento de esperan&ccedil;a que, por si s&oacute;, causaria uma melhora em condi&ccedil;&otilde;es de sa&uacute;de f&iacute;sica ou psicol&oacute;gica. Este, parece-me um bom argumento de algu&eacute;m que n&atilde;o cr&ecirc; em um Deus que cumpra os quesitos apresentados acima, mas, de qualquer forma, &eacute; um passo inicial poss&iacute;vel para quem deseja se aproximar do campo de estudos da f&eacute;, principalmente se o fizer de forma cient&iacute;fica, ou seja, a partir da observa&ccedil;&atilde;o fenomenol&oacute;gica.
Outro ponto que &eacute; necess&aacute;rio um pouco mais de cuidado, &eacute; um assunto um tanto complexo at&eacute; para os estudiosos de teologia. Trata-se da confus&atilde;o entre f&eacute; e processos religiosos. Entendo que religiosos podem desenvolverse em suas comunidades e pr&aacute;ticas liturgicas desprovidos de qualquer sentimento de f&eacute;, apenas como fen&ocirc;meno sociocultural. Enquanto outros indiv&iacute;duos podem desenvolver estruturas individuais profundamente calcadas em uma s&oacute;lida e consistente f&eacute;, sem, no entanto, dedicar-se a liturgias religiosas espec&iacute;ficas. N&atilde;o estou defendendo estas posi&ccedil;&otilde;es. Estou apenas colocando-as em campos de exist&ecirc;ncia em que n&atilde;o s&atilde;o mutuamente necess&aacute;rias, ainda que sejam provavelmente consequentes uma da outra.
Por fim, entendo que assim como &eacute; necess&aacute;ria uma &ldquo;boa ci&ecirc;ncia&rdquo; e que esta pode levar o cientista para mais perto do Criador, tamb&eacute;m &eacute; necess&aacute;ria uma &ldquo;boa cren&ccedil;a&rdquo;, pois esta tamb&eacute;m tem a capacidade de aproximar um indiv&iacute;duo ao Criador, enquanto uma &ldquo;cren&ccedil;a ruim&rdquo;, pode afastar indiv&iacute;duos do Criador, fen&ocirc;meno que estamos observando em largu&iacute;ssima escala nos tempos atuais.
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Marcio Scarpellini &eacute; Pastor, Administrador de Empresas, Pedagogo, Cientista Social, P&oacute;s-Graduado em Educa&ccedil;&atilde;o, Pol&iacute;tica e Sociedade, Antropologia, Neurologia Aplicada &agrave; Aprendizagem, Psican&aacute;lise e Ci&ecirc;ncias da Religi&atilde;o. Diretor Escolar, professor e palestrante, &eacute; casado h&aacute; 20 anos com a Patr&iacute;cia e pai do Jo&atilde;o Pedro e da Manuella.
* O conte&uacute;do do texto acima &eacute; uma colabora&ccedil;&atilde;o volunt&aacute;ria, de total responsabilidade do autor e n&atilde;o reflete necessariamente a opini&atilde;o do Portal Guiame.
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Jordan Grafman afirma que muitos neurocientistas evitam investigar religião e espiritualidade por receio de serem considerados não científicos.

‘Deus existe. Deus existe no cérebro’, afirma o neuropsicólogo Jordan Grafman

A Reforma Protestante, iniciada por <a style="color: #800000;" href="https://guiame.com.br/gospel/mundo-cristao/herois-da-fe-martinho-lutero-o-icone-da-reforma-protestante.html">Martinho Lutero</a> em 1517, trouxe diversas mudan&ccedil;as n&atilde;o apenas nos campos teol&oacute;gico, religioso e social, mas tamb&eacute;m influenciou definitivamente a ci&ecirc;ncia tal qual a conhecemos hoje. Vamos explorar alguns pontos principais impactados pela reforma protestante que teve como dia marcante o dia 31 de outubro de 1517, pois foi neste dia que o monge agostiniano Martinho Lutero fixou suas <a style="color: #800000;" href="https://guiame.com.br/gospel/mundo-cristao/reforma-protestante-dez-citacoes-marcantes-das-95-teses-de-lutero.html">95 teses</a> na porta da Abadia de Wittemberg na Alemanha.
Os reformadores protestantes defendiam que todos os fi&eacute;is deveriam ter acesso direto &agrave; B&iacute;blia, o que estimulou e de fato promoveu a alfabetiza&ccedil;&atilde;o de grande parte da popula&ccedil;&atilde;o. O incentivo &agrave; leitura e ao estudo fez com que a educa&ccedil;&atilde;o se expandisse, estabelecendo as bases para um ambiente mais favor&aacute;vel ao desenvolvimento intelectual e cient&iacute;fico. Universidades protestantes, como as fundadas em territ&oacute;rios luteranos, tornaram-se centros de saber, onde o estudo das ci&ecirc;ncias naturais ganhou relev&acirc;ncia. O pr&oacute;prio conceito de escola gratuita e acess&iacute;vel a todos origina-se a partir deste conceito e desta demanda promovida pela igreja reformada. &ldquo;Uma igreja, uma escola&rdquo; tornou-se um lema fundamental na expans&atilde;o da f&eacute; reformada, visto que &agrave; &eacute;poca o ensino para as crian&ccedil;as era neglicenciado pelos pais, por n&atilde;o ter uma fun&ccedil;&atilde;o objetiva e pr&aacute;tica na lida do dia-a-dia e, tampouco, era interessante para o estado e para a igreja que de fato detinha as condi&ccedil;&otilde;es de lev&aacute;-lo a &ecirc;xito. Tamb&eacute;m &eacute; importante levar em considera&ccedil;&atilde;o, que uma popula&ccedil;&atilde;o iletrada e inculta &eacute; mais facilmente dominada pela imposi&ccedil;&atilde;o de ideias e conceitos sobre os quais n&atilde;o tem acesso de forma independente.
Neste mesmo sentido, a Reforma Protestante enfraqueceu a autoridade central da Igreja Cat&oacute;lica, permitindo maior liberdade e autonomia de pensamento. Esse movimento de questionamento tamb&eacute;m afetou a vis&atilde;o de mundo em rela&ccedil;&atilde;o ao conhecimento, pois ao romper com dogmas religiosos que limitavam o estudo cient&iacute;fico, os reformadores criaram um ambiente no qual o questionamento e a investiga&ccedil;&atilde;o cient&iacute;fica podiam prosperar. N&atilde;o podemos negar os avan&ccedil;os cient&iacute;ficos que de fato aconteceram durante a Idade M&eacute;dia, pois este conceito foi desenvolvido pelo Iluminismo franc&ecirc;s, afim de diminuir ainda mais a import&acirc;ncia da Igreja, e valorizar os novos tempos prometidos por este movimento. De qualquer forma, o estudo cient&iacute;fico proposto e poss&iacute;vel sob a cosmovis&atilde;o reformada vem desaraigado de travas dogm&aacute;ticas, propondo que a busca pela verdade n&atilde;o deve estar submetida a pr&eacute;-conceitos (no sentido literal do termo) criados de forma religiosa e baseada em dogmas.
E por falar na quebra de dogmas, o reformador Jo&atilde;o Calvino traz um conceito inovador e tamb&eacute;m transformador, que &eacute; a ideia do "sacerd&oacute;cio de todos os crentes" e a &ecirc;nfase sobre a voca&ccedil;&atilde;o em todas as &aacute;reas da vida, incluindo o trabalho. Este conceito abre as portas para uma vida profundamente crist&atilde; n&atilde;o apenas dentro das quatro paredes do templo, mas dilu&iacute;da em todas as dimens&otilde;es da vida humana. Estamos falando aqui de transforma&ccedil;&atilde;o real de car&aacute;ter e pr&aacute;tica de vida, obedecendo princ&iacute;pios crist&atilde;os n&atilde;o apenas de forma lit&uacute;rgica. Este conceito contribui e incentivou a busca de um aprofundamente no conhecimento em todas as esferas, incluindo a ci&ecirc;ncia. A ideia de que qualquer ocupa&ccedil;&atilde;o honesta poderia glorificar a Deus deu legitimidade &agrave; pesquisa cient&iacute;fica como um chamado digno e divino.
Os reformadores, particularmente os calvinistas, acreditavam que Deus criou o mundo de forma ordenada e racional, o que inspirou uma vis&atilde;o de que a natureza poderia ser estudada e compreendida sistematicamente. Essa perspectiva foi fundamental para o desenvolvimento do m&eacute;todo cient&iacute;fico. Muitos cientistas protestantes, como Johannes Kepler, Robert Boyle, Blaise Pascal, Isaac Newton ou Leonhard Euler &nbsp;viam o estudo da ci&ecirc;ncia como uma maneira de entender melhor a cria&ccedil;&atilde;o divina e seu prop&oacute;sito. De fato podemos observar um avan&ccedil;o impressionante da ci&ecirc;ncia nos pa&iacute;ses de tradi&ccedil;&atilde;o reformada nos s&eacute;culos XVI e XVII, al&eacute;m do avan&ccedil;o nas ci&ecirc;ncias humanas, como o direito e a pol&iacute;tica. &Eacute; importante ressaltar que antes da reforma, estes pa&iacute;ses eram muito menos desenvolvidos que os pa&iacute;ses de forte tradi&ccedil;&atilde;o cat&oacute;lica, como Espanha, Fran&ccedil;a e It&aacute;lia. O homem do norte da Europa era visto como b&aacute;rbado, comedor de carne crua e com h&aacute;bitos totalmente brutais em rela&ccedil;&atilde;o ao homem das cidades de tradi&ccedil;&atilde;o latinizada.
E por falar em Latim, com a tradu&ccedil;&atilde;o da B&iacute;blia e outros textos para l&iacute;nguas vernaculares, a princ&iacute;pio o alem&atilde;o, houve uma amplia&ccedil;&atilde;o dram&aacute;tica no acesso ao conhecimento. Esse movimento tamb&eacute;m se expandiu para outros campos do saber, como a ci&ecirc;ncia, permitindo que um maior n&uacute;mero de pessoas tivesse acesso a ideias cient&iacute;ficas que antes estavam restritas a uma elite acad&ecirc;mica e mesmo religiosa. As missas celebradas em latim, inacess&iacute;vel ao povo, deram lugar a cultos e reuni&otilde;es de ensino no idioma do povo, impactando o desenvolvimento da popula&ccedil;&atilde;o e da cultura. Este resultado da Reforma Protestante &eacute; t&atilde;o importante, que a pr&oacute;pria consolida&ccedil;&atilde;o das estruturas gramaticais do idioma alem&atilde;o adv&eacute;m deste per&iacute;odo.
Em regi&otilde;es protestantes, muitas escolas e universidades foram fundadas para formar pastores e ensinar uma ampla gama de disciplinas, incluindo a matem&aacute;tica, astronomia e f&iacute;sica. Essas institui&ccedil;&otilde;es formaram gera&ccedil;&otilde;es de cientistas que contribu&iacute;ram para o progresso cient&iacute;fico nos s&eacute;culos seguintes.
Apenas como exemplo pr&aacute;tico deste impacto, podemos citar o bispo moraviano, Iohannes Amos Comenius, que produziu o primeiro tratado sistem&aacute;tico de pedagogia, a Did&aacute;tica Magna. Este documento traz o conceito de que a educa&ccedil;&atilde;o deve contemplar tr&ecirc;s &aacute;reas: a &ldquo;instru&ccedil;&atilde;o&rdquo;, que seriam os conte&uacute;dos propriamente ditos, a &ldquo;virtude&rdquo;, que s&atilde;o as habilidades que podem ser desenvolvidas, e a &ldquo;piedade&rdquo;, que s&atilde;o as atitudes baseadas nos princ&iacute;pios crist&atilde;os. Essa vis&atilde;o prega que a educa&ccedil;&atilde;o deve considerar o educando e enxerg&aacute;-lo como um ser integral em todas as suas dimens&otilde;es: intelectual, moral e espiritual.
Estima-se que antes da Reforma existiam cerca de 60 universidades, algumas com mais de 400 anos de exist&ecirc;ncia, e restritas &agrave; forma&ccedil;&atilde;o do clero ou, no m&aacute;ximo, de filhos de governantes. Foi ap&oacute;s o movimento reformista que as portas foram das escolas e universidades foram abertas para a popula&ccedil;&atilde;o, com grandes universidades sendo criadas por crist&atilde;os reformados, como a Universidade de Yale, em 1640; a Universidade de Harvard, em 1643; a Universidade de Princeton, em 1746; e a Universidade Livre de Amsterd&atilde;, em 1881, refor&ccedil;ando o lema &ldquo;uma igreja, uma escola&rdquo;.
A Reforma Protestante teve um impacto significativo ao promover a educa&ccedil;&atilde;o, estimular o pensamento cr&iacute;tico e criar um ambiente prop&iacute;cio &agrave; pesquisa cient&iacute;fica livre, elementos fundamentais para o avan&ccedil;o da ci&ecirc;ncia moderna.
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Marcio Scarpellini &eacute; Pastor, Administrador de Empresas, Pedagogo, Cientista Social, P&oacute;s-Graduado em Educa&ccedil;&atilde;o, Pol&iacute;tica e Sociedade, Antropologia, Neurologia Aplicada &agrave; Aprendizagem, Psican&aacute;lise e Ci&ecirc;ncias da Religi&atilde;o. Diretor Escolar, professor e palestrante, &eacute; casado h&aacute; 20 anos com a Patr&iacute;cia e pai do Jo&atilde;o Pedro e da Manuella.
* O conte&uacute;do do texto acima &eacute; uma colabora&ccedil;&atilde;o volunt&aacute;ria, de total responsabilidade do autor e n&atilde;o reflete necessariamente a opini&atilde;o do Portal Guiame. 
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Os reformadores protestantes defendiam que todos os fiéis deveriam ter acesso direto à Bíblia, o que estimulou e de fato promoveu a alfabetização de grande parte da população.

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