“Caiu, caiu, a grande babilônia...”, ah que dia aguardado por todos que prezam minimamente pela ordem. Ouvir esse brado profético rasgando os céus numa cena apocalíptica nos enche de esperança. Ainda mais quando fazemos parte de uma geração sufocada por tanta desordem política, bagunça moral, caos social, abismos espirituais, enfim, uma geração diariamente pressionada por filosofias que atendem pelo nome de babilônia, o ápice da confusão.
Tal cenário macro também é percebido nas microrrealidades. Aquelas nas quais mortais como nós transitamos tentando fazer nosso melhor e, com pontadas de decepção, somos constantemente frustrados por relações que visam apenas levar vantagem, marcar posição de superioridade em relação aos demais, dando uma banana pra ética e uma gargalhada de desprezo para tudo que represente hierarquia.
Ética é o ramo da filosofia dedicado aos assuntos morais. Ser ético ou ter um comportamento ético tem a ver com um comportamento moralmente aprovado baseado em valores morais. Ser antiético é agir de forma contrária a esses valores. Como exemplo basta olharmos para a ética social, a vida em sociedade tem suas regras, respeitá-las são práticas éticas para o bem comum, como não parar nas vagas reservadas para idosos e cadeirantes, parar no sinal vermelho, não furar fila, priorizar mulheres, crianças e idosos, etc.
Hierarquia é a ordenada distribuição de poderes com subordinação sucessiva de uns aos outros. É interessante destacar que o termo, originalmente, possuía um significado religioso, onde a organização social das igrejas necessitou se organizar hierarquicamente. Guilherme Machado tem uma definição que explica bem a importância da hierarquia: “Quem não sabe trabalhar em equipe e se relacionar com a hierarquia, não sabe viver em uma democracia.”
Agora, como numa receita com ingredientes que deixam uma comida deliciosa, tipo aquele prato especial que somente nossas avós sabiam fazer, junte estes dois ingredientes: ética e hierarquia. Juntou? Agora, siga a dica do título deste texto, respeite os valores da primeira e as posições da segunda. Este simples ato, de respeitar o que se estabeleceu e foi combinado, já garantiria paz e harmonia na maioria dos ambientes sociais, ou seja, ajudaria bastante!
Mas não, algumas pessoas querem porque querem que suas opiniões e gostos pessoais prevaleçam e, sedentas por posições que efetivamente não lhes pertencem, saem atravessando posições e agindo totalmente contra a ética que foi um dia aceita e aprovada pela maioria. E isso tudo ainda vem com a bela embalagem do “estou tentando apenas ajudar...”. Mas acredite, não ajuda.
As igrejas não estão imunes. Sofrem frequentemente por falta de respeito a ética e a hierarquia. Assistimos isso entre consagrados, ministérios, músicos, grupos de oração. Das vaidades e orgulhos, os mais terríveis são a vaidade e o orgulho gospel. Coloquei propositalmente a palavra “gospel”, pois é no caldo deste conceito que mais vemos aflorar insubmissões e insubordinações que tentam fazer colar um rótulo de “espirituais”, quando na verdade não passam de atitudes carnais.
Tais comportamentos produzem apenas ressentimentos, mágoas, feridas, traições, tristezas, desapontamentos, divisões e, consequentemente, enfraquecimento do corpo de Cristo, enquanto num canto da congregação quase que se pode ouvir os gemidos do Espírito por ver a mão querendo ser pé, o olho querendo ser ouvido, o nariz querendo ser pescoço, enfim, cada membro querendo ser aquilo que não foi chamado para ser justamente por não ter qualificação para desempenhar um papel que não é seu.
Tente imaginar os anjos querendo desrespeitar a ética e a hierarquia que os guia: serafins, querubins, arcanjos, anjos. Aqui o espaço não permite, mas cada categoria de anjos tem sua função e papel, a harmonia que sonhamos um dia viver na eternidade tem sua beleza exatamente na ética e na hierarquia que são obedecidas e respeitadas para a glória de Deus.
Disse pra você tentar imaginar como seria se os anjos desobedecessem, não precisa imaginar, basta olhar como anda o nosso mundo, houve um dia quando a terça parte dos anjos se rebelou no céu, de lá esses anjos foram expulsos, em seguida, totalmente avessos a tudo que represente ética e hierarquia, estabeleceram por essas terras as filosofias que caracterizam babilônia entre nós.
Esta é a decisão que precisamos tomar a cada dia, se somos cidadãos dos céus ou representantes da babilônia que reina por aqui? Embaixadores de Cristo são cidadãos dos céus, portanto escolhem o respeito a ética e a hierarquia, e assim dão sua parcela de ajuda para tornar o reino de Deus uma realidade desejável entre nós, afinal, sempre que alguém que ainda não se rendeu a Cristo tenta se aproximar de uma comunidade cristã e vê nela mais babilônia do que cristianismo, se afasta automaticamente.
Termino com Davi. Mesmo tendo recebido a unção e a garantia de que foi Deus quem o escolheu para rei de Israel, soube ficar mais de dez anos na fila esperando a hora certa para ocupar o trono. E o fez por respeito a ética e a hierarquia, ele simplesmente decidiu não atravessar a soberania de Deus. Por pior que fosse Saul, Davi soube esperar. Por isso até hoje ele figura como o grande rei da história de Israel, apesar de erros e quedas, soube se humilhar em momento oportuno na presença do Rei e, na perspectiva ética e hierárquica do céu, ser chamado de um homem segundo o coração de Deus.
Como seremos chamados por Deus? Como seremos lembrados por aqueles que convivem com a gente? O valor e o respeito que damos a ética e a hierarquia poderão definir nosso testemunho e ajudar a formar a melhor resposta para tais perguntas.
Edmilson Ferreira Mendes é teólogo. Atua profissionalmente há mais de 20 anos na área de Propaganda e Marketing. Voluntariamente, exerce o pastorado há mais de dez anos. Além de conferencista e preletor em vários eventos, também é escritor, autor de quatro livros: '"Adolescência Virtual", "Por que esta geração não acorda?", "Caminhos" e "Aliança".
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