A Reforma Protestante foi o maior acontecimento na igreja cristã depois do Pentecostes. No dia 31 de outubro de 1517, o monge agostiniano, Martinho Lutero, fixou nas portas da Igreja de Wittenberg as noventa e cinco teses contra as indulgências. Estava deflagrado esse poderoso movimento de retorno ao Cristianismo primitivo. A Reforma não foi uma inovação, mas uma volta à doutrina dos apóstolos. A Reforma foi erigida sobre cinco pilares doutrinários:
Em primeiro lugar, Sola Scriptura. A Bíblia é a Palavra de Deus inspirada, inerrante, infalível e suficiente. É nossa única regra de fé e prática. É composta de sessenta e seis livros, escritos por homens santos de Deus. A Bíblia não é julgada pela cultura nem mesmo validada pelos concílios. A Palavra de Deus está acima da tradição, das confissões, dos catecismos, das decisões conciliares. Sua mensagem não precisa ser atualizada nem ressignificada. Ela é sempre atual, sempre viva, sempre poderosa, sempre eficaz. Ela é eterna. A Palavra Deus restaura a alma, ilumina os olhos e dá sabedoria aos simples. Por meio dela nascemos, crescemos e somos fortalecidos. Pela sua instrumentalidade somos santificados, exortados e consolados. Ela é leite para os infantes e carne para os experimentados. É mais preciosa do que ouro e mais doce que o mel. Ela é pão que alimenta, água que dessedenta, martelo que debulha, fogo que aquece e espada que defende.
Em segundo lugar, Sola Gratia. A salvação é totalmente pela graça. Não somos salvos por aquilo que fazemos para Deus, mas pelo que Deus fez por nós, em Cristo Jesus. Não são nossas obras que nos levam para o céu, mas a obra de Cristo na cruz. Ele morreu pelos nossos pecados e pagou o preço da nossa redenção. A vida eterna não é uma conquista do mérito humano, mas uma oferta da graça de Deus. A vida eterna não é uma medalha de honra ao mérito que ostentamos, mas o presente do Rei recebido por um mendigo. Somos salvos totalmente pela graça para que toda a glória seja dada a Deus.
Em terceiro lugar, Sola Fide. A salvação não é pelas obras nem pela fé mais as obras, mas pela graça, mediante a fé, para as obras. Somos salvos não pelas obras, mas para as obras. As boas obras não são a causa da nossa salvação, mas a sua evidência. Não fazemos boas obras para sermos salvos, mas porque fomos salvos pela fé em Cristo Jesus. Fé e obras não estão em conflito. Uma é causa, a outra a consequência. Onde tem fé como raiz, há obras como fruto. Mas não é fé nos ídolos nem fé na fé, mas fé em Cristo Jesus. A fé não é causa meritória da nossa salvação; é a causa instrumental.
Em quarto lugar, Solus Christus. Somos salvos por Cristo Jesus e apenas por ele. Não é Jesus mais Maria, é só Jesus. Não é Jesus mais nosso mérito, é só Jesus. Não é Jesus mais a igreja, é só Jesus. Não há nenhum outro nome dado entre os homens pelo qual importa que sejamos salvos. Ele é o único Mediador entre Deus e os homens. Ele é a porta do céu e o caminho para Deus. Ele morreu pelos nossos pecados e ressuscitou para a nossa justificação. Só ele tem as palavras de vida eterna. Só nele temos copiosa redenção.
Em quinto lugar, Soli Deo Gloria. A salvação foi planejada por Deus, é executada por Deus e será consumada por Deus para que toda a glória seja dada a ele. Tudo provém dele, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo. Fomos salvos pela graça, para a glória e, do começo ao fim, nossa salvação é obra dele. Porque dele, por meio dele e para ele são todas as coisas. Não há espaço para o homem vangloriar-se. Deus não divide sua glória com ninguém. Que o nosso coração se renda a ele, para dar-lhe todo o louvor e render-lhe toda a glória devida ao seu nome.
Hernandes Dias Lopes é pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, escritor, membro da Academia Evangélica de Letras do Brasil e diretor executivo da Editora Luz para o Caminho.
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