Pare de espiritualizar tudo!

“A arte é consolar aqueles que são quebrados pela vida” (van Gogh).

Fonte: Guiame, Daniel RamosAtualizado: quinta-feira, 8 de maio de 2025 às 19:05
(Imagem ilustrativa gerada por IA)
(Imagem ilustrativa gerada por IA)

Amados irmãos, a paz do Senhor. Desde sempre sou cristão pentecostal. Só consigo viver o cristianismo de dentro da hermenêutica pentecostal. Essa coisa do “Evangelho inflamado no poder do Espírito Santo” me fascina. Jamais seria cristão de outra forma. É o mesmo que provar as delícias da culinária mineira e depois aceitar qualquer prato. É complicado!

Sempre servi ao Senhor Jesus Cristo, de dentro da Assembleia de Deus, e, pretendo entrar no céu, de dentro da AD. E por isso, ao longo dessa minha curta vida — pouco mais de quarenta anos — vi coisas que são pra lá de bizarras. Ensinos que nunca tiveram compromisso com as Escrituras, muito menos com as Doutrinas Fundamentais. Esse artigo não tem a finalidade de maldizer a AD, jamais o faria! Eu amo a AD.

Mas não posso fechar os olhos para coisas bizarras que vêm acontecendo no nosso meio – e posso incluir as adjacências pentecostais nesse pacote de loucuras – aliás, quem nunca ouviu nos anos 1990 que a Xuxa tinha um pacto com o demônio? Quem nunca viu nada bizarro do boneco Fofão? Aquele bochechudo, quem se lembra? E a televisão que era do Diabo? Quanta perseguição interna tiveram os chamados “atletas de Cristo” pois até o esporte era demonizado. Tudo era do demônio!

Mas isso não mudou. Eu pensava que essas chocarrices iam ficar para trás, mas o tempo passa e o povo continua idiotizado. Não melhora, não cresce, não abre os olhos… Vive num mundinho se comportando como “Zé Povinho”. E nada me intriga mais do que gente com mente pequena.

Nos últimos dois anos (2024-2025), duas cantoras norte-americanas estiveram no Brasil para um megashow na icônica praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. Aliás, esse é o evento: “Todo mundo no Rio”. Bastou anunciar o nome da primeira cantora para as redes sociais virarem de cabeça para baixo!

A Igreja, com baixo teor bíblico, foi inundada de sofisma a respeito de um tal de “portal que seria aberto invocando demônios no show da Madonna”. “Endemoninhada e escrota” foram as palavras mais brandas para se referirem à cantora que se apresentou em 2024 (reunindo 1,6 milhão de pessoas no encerramento da Celebration Tour).

Em 2025, a coisa se repetiu, a endemoniada da vez é a multiartista Lady Gaga. Pronto! A internet bugou novamente com um tanto de post sobre o “culto invocando demônios que Gaga faria no Rio”.

Será que a Igreja Brasileira se esqueceu que não precisamos de nenhum artista gringo vir ao Brasil para invocar demônios? Basta ir em algumas igrejas para ver que se o demônio for embora, aqueles lugares vão falir. Basta ir nas favelas do Rio, São Paulo ou Minas, nos chamados “bailes” — e você vai ver o que é a operação do maligno.

Não precisa invocar demônios quando a carnalidade governa a grande maioria dos púlpitos que se dizem cristãos no Brasil. Já diziam os padres medievais, o demônio está na porta das igrejas impedindo o povo adentrar para a presença de Deus: com tantos empecilhos, tantos costumes, tanto legalismo…

A última que vimos é a obrigatoriedade do “não uso de barbas para pastores da AD” — é isso não foi dito por uma pessoa qualquer.

É verdade que o meu artigo não quer sair em defesa das cantoras citadas. Independente de suas condutas pessoais, é inegável que são grandes nomes da arte mundial, e é histórico para o país, recebê-las. A Igreja, por sua vez — por não apreciar a arte pop — não necessariamente precisa demonizá-la. Se não canta para Jesus, está cantando para o diabo…

Irmão, em nome de Jesus, qual o registro bíblico de Paulo e seus amigos repreendendo a cultura greco-romana de seu tempo? Onde nas Escrituras, a Bíblia nos ensina a ser “sem cultura”. Evidentemente, ninguém é obrigado a gostar deste ou daquele artista, mas demonizá-lo, já é demais. Fica feio! Mostra uma igreja empobrecida do amor de Deus. Essa pressa em dizer que fulano ou beltrano vai para o inferno?! Onde está a ordem bíblica para fazer tal coisa? A Igreja de Cristo é a enunciadora do “amor de Deus revelado em Jesus Cristo”. Sim, Jesus nunca repreendeu a arte.

A missão de Jesus Cristo tem a ver com uma vida transformada — de dentro para fora. Não apenas de vestimentas, estilo ou cultura. Mas de atitudes, tão profundas quanto verdadeiras. Sem máscaras, sem fachada, em Espírito e verdade. Não precisamos forçar o Livro do Apocalipse a cumprir com interpretações equivocadas, atribuindo o simbolismo daquele livro a este ou aquele. Basta! Toda a Palavra está se cumprindo. Se acalma, deixa a Palavra fazer o seu papel, ela não precisa de ajuda.

É tempo de voltar à essência do Evangelho, pois essas meninices já deram, né? Com tanto conhecimento disponível a Igreja, porque voltarmos às idiotices que sempre nos expõem ao ridículo. Tanta teologia, centenas de modelos de Bíblias de Estudos… e o povo, que gasta milhões com aquisição destes materiais, continua com uma espiritualidade pobre, amargurada, e… que condena! Não vejo o Senhor Jesus preocupado com os artistas, mas com a hipocrisia vinda de dentro do Templo. Não seria esse o modelo que devíamos imitar?

Que Deus nos ajude!

 

Daniel Santos Ramos (@profdanielramos) é professor, possui Licenciatura em Letras Português-Inglês (UNICV, 2024) e bacharelado em Teologia (PUC MINAS, 2013). Pós-graduado em Docência em Letras e Práticas Pedagógicas (FACULESTE, 2023). Mestre em Teologia (FAJE, 2015). Atualmente é colunista do Portal Guia-me, professor de Língua Portuguesa no Ensino de Jovens e Adultos (EJA) e Ensino Médio e de Língua Inglesa no Ensino Fundamental (ll) da SEE-MG, professor de Teologia no IETEB e professor de Português Instrumental do IE São Camilo. Escreveu dois livros, "Curso de Teologia: Vida com Propósito" (AMOB, 2023) e "Novo Curso de Teologia: Vida com Propósito (IETEB, 2025). Além de possuir mais de 20 anos de experiência na ministração da Palavra. É membro da Assembleia de Deus em Belo Horizonte (desde sempre), congrega no Templo Central.

* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

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