Amados irmãos, a paz do Senhor. O artigo de hoje vai trabalhar uma polêmica que está incendiando as redes sociais. Apesar de não ser meu estilo questionar tais polêmicas efêmeras que envolvem a igreja, não dá para fechar os olhos diante dos últimos acontecimentos que daqui a pouco, todos nós já esquecemos.
Posto isso, vamos ao artigo. Hoje quero falar sobre o “polêmico Miguel Oliveira”. Um garoto de 15 anos que se tornou viral nas redes sociais por causa das suas pregações e profecias. Não é uma questão de tecer juízo, mas qualquer cristão com o mínimo de frequência à Escola Dominical, sabe que há distorções graves do Evangelho. Igualmente a essa gravidade, o garoto vem sendo ameaçado de morte. E é aqui que mora nossa preocupação!
Eu sou professor de teologia, desde 2013, e posso afirmar com muita responsabilidade sobre o que mais ouço nas aulas: “Eu vou ter que voltar em algumas igrejas que preguei para pedir perdão” – desabafam alguns alunos. Amados, até o mundo sabe que para falar, primeiro eu preciso me sentar e ouvir, aprender, ser avaliado e aprovado.
Infelizmente, a Igreja está cheia de celebridades – pessoas que têm muita influência no meio – mas que nunca aprenderam o saber doutrinário, completamente despreparadas, nunca sequer cogitaram entender o porquê de “quatro evangelhos”. É preocupante, mas creio que isso todos nós sabemos. E não vejo muitos interessados em mudar essa situação. Talvez, por causa da velha frase: “A ignorância gera lucros”. Pode ser. Quem não se lembra quando “um certo” pastor disse: “Abra a Bíblia na sua igreja que ela fecha as portas!”
Eu não preciso ser teólogo para perceber “a marra” do Miguel Oliveira nos vídeos em que ele defende as “línguas estrangeiras” faladas por ele durante a pregação. – E nem vou perder meu tempo tentando traduzir aquilo! – Não tem nada a ver com glossolalia. A glossolalia, do grego “glossa” (língua) e “lalein” (falar), refere-se ao fenômeno de falar em línguas desconhecidas, geralmente associado a estados de fervor religioso. É caracterizada pela emissão de sons que se assemelham à fala, mas que não são inteligíveis para o falante ou para os ouvintes, a menos que haja o dom da interpretação (1 Coríntios 12-14).
A glossolalia é comum nas igrejas de hermenêutica pentecostal, apesar de muito rechaçada pelos irmãos tradicionais. E não tem nada a ver com línguas estrangeiras. Por aí, pode-se perceber problemas intensos. Pois quando o garoto é exortado sobre esse comportamento, nunca se vê no mesmo, humildade de quem realmente é cheio do Espírito Santo e está apto a aprender para ser a Igreja. Repito: cheio de marra, ele insiste que pode falar qualquer língua que quiser.
As línguas são inspiradas pelo Espírito Santo e não podemos manipulá-las. Da mesma forma que não se trata de o Espírito Santo falar em línguas na minha boca. Também não! O Espírito Santo inspira, mas quem fala somos nós. Não é possessão, mas inspiração. De sorte que estamos conscientes quando falamos em línguas estranhas (a razão). E ainda não se deve mudar a terminologia como dizer que é “línguas de anjos”. Pois a própria Bíblia afirma que falamos diretamente a Deus. Satanás, sendo anjo caído, não compreende as “línguas estranhas” (1 Coríntios 12:10). E além disso, o espírito do profeta é sujeito ao profeta (1 Coríntios 14:32). Essa última referência é quanto ao espírito humano e não ao divino. O Espírito Santo é Deus e não se sujeita a ninguém!
Quanto ao servo do Senhor, deve antes de tudo ter a marca do Senhor Jesus, a humildade, que mesmo a caminho da cruz, foi como Cordeiro Mudo, e ainda rogou ao Pai pelos seus algozes. Romanos 5:3-5 diz que a tribulação produz a paciência. E nesse sentido, o garoto Miguel é “marrento” ao estilo de um “funkeiro empoderado”. Não é essa a imagem de um servo do Senhor. E por isso, meu artigo não se trata de perseguição – e muito menos de endossar ameaças – esse não é o papel da Igreja do Deus Vivo. Não é assim que se resolvem as coisas. Falsos profetas sempre teremos.
E falando em falso profeta, lembro da frase atribuída a John Piper “Deus dá falsos pastores como punição a falsos crentes”. Como Jeremias sempre alertou na sua mensagem: “Ainda que o profeta fale algo de Deus, mas não vive conforme a palavra que prega, deve ser rejeitado, pois é falso profeta”.
Os fins não justificam os meios. 2 Coríntios 11:13-15 diz que os falsos pastores distorcem a Palavra de Deus. Quando Samuel ungiu Saul rei de Israel, ele usou um vaso de barro (1 Samuel 10), mas quando o mesmo profeta foi ungir a Davi, o Senhor lhe ordenou que levasse à casa de Jessé, um chifre cheio de azeite (1 Samuel 16). Respeitando as simbologias presentes nos dois textos, é visível que o vaso é obra das mãos humanas, já o chifre requer sacrifício. Alguém teve que morrer. Isso sem falar que “chifre” nas Escrituras fala de “poder”.
Saul foi levantado por Deus por causa da reclamação dos filhos de Israel: “todas as nações tinham um rei”, mas Israel era governado pelo próprio Senhor. É um perigo quando o povo de Deus quer se parecer com outros povos. Deus ouviu o lamento de Israel, e deu a eles um rei segundo a obstinação daquele povo. Um rei egoísta, rejeitado por Deus.
Cair nas graças do povo, pode ser o sintoma mais preocupante de uma Igreja que desagrada a Deus. Ser pregador de multidões não necessariamente legitima o meu ministério. Pode ser um engano terrível, achar que multidões me ouvem, por Deus estar comigo. Nem sempre! Muitas dessas vezes, estamos apenas entretendo bodes. Ou, como disse outro pastor, “estamos dando palha ao povo”.
Mas uma coisa é certa: a gente colhe o que planta. Quem planta engano, nunca colherá a verdade ou fidelidade. Conquanto que “os passos de um homem bom são confirmados pelo Senhor” (Salmos 37:23). Mas “não vos enganeis, Deus não se deixa escarnecer” (Gálatas 6:7). É lícito que todas essas coisas aconteçam, para que observemos se é joio ou trigo. E não venha com essa conversa fiada de “não julgueis”, pois quem se cala, consente. Silenciar-se diante do engano é ter comunhão com ele. E vai receber recompensa de engano! O próprio Senhor Jesus orientou-nos a julgar uma árvore pelos frutos (Mateus 7:16-20).
Concluo com a orientação do Senhor Jesus em João 16:14: “O Espírito me glorificará, pois vai receber o que é meu”. Ainda resta alguma dúvida, amado irmão. Se isso não é a base para o discernimento de Espírito, qual seria? O Espírito Santo glorifica a Cristo, nunca a homem nem mesmo a instituições. Abra os olhos! Além do mais, quem ousa seguir um caminho, seja do bem ou do mal, deve estar preparado para as críticas.
Daniel Santos Ramos (@profdanielramos) é professor, possui Licenciatura em Letras Português-Inglês (UNICV, 2024) e bacharelado em Teologia (PUC MINAS, 2013). Pós-graduado em Docência em Letras e Práticas Pedagógicas (FACULESTE, 2023). Mestre em Teologia (FAJE, 2015). Atualmente é colunista do Portal Guia-me, professor de Língua Portuguesa no Ensino de Jovens e Adultos (EJA) e Ensino Médio e de Língua Inglesa no Ensino Fundamental (ll) da SEE-MG, professor de Teologia no IETEB e professor de Português Instrumental do IE São Camilo. Escreveu dois livros, "Curso de Teologia: Vida com Propósito" (AMOB, 2023) e "Novo Curso de Teologia: Vida com Propósito (IETEB, 2025). Além de possuir mais de 20 anos de experiência na ministração da Palavra. É membro da Assembleia de Deus em Belo Horizonte (desde sempre), congrega no Templo Central.
* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.
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