
Quem nunca evitou se olhar no espelho depois de ter ganhado alguns (muitos) quilinhos? Conheço gente que não gosta de tirar fotos, pra não ter que ver o “estrago”. Também tem quem tenha medo de mexer no celular do cônjuge, com receio do que possa encontrar lá; que não faz perguntas porque suspeita das respostas; que não faz consultoria empresarial, pra não ter que admitir a falência; que evita tirar extrato, pra não ver a conta no cheque especial; que não vai ao médico e evita fazer exames... E por aí vai.
Toda vez que você se omite diante de algo que revelaria a verdadeira face de uma determinada situação, você está tendo medo da verdade, e é fato que isso pode te fazer “feliz” ou te dar relativa paz por um tempo, mas a verdade é como a velhice, você pode ignorá-la o quanto quiser, um dia ela irá se apresentar e você terá que lidar com ela (no caso da primeira, nem sempre de forma gradativa).
Ter medo da verdade é sabotar a si mesmo, porque não importa o quanto você finja não vê-la, ela está lá e vai afetar a sua vida de algum modo, a despeito de quanto tempo leve para acontecer.
Ao contrário do que o pensamento progressista vem pregando, ela não é, de nenhum modo, relativa. De maneira prática, isso equivale dizer que não existe essa tolice de “o que é verdade pra mim, pode não ser pra você”, pois não importa se eu acredito na força gravitacional e você não, ao pularmos do topo de um edifício, ambos ficaremos estatelados no chão como ovos fritos! A verdade, portanto, é fato irrefutável que independe da nossa vontade e opinião.
A questão é que enquanto ignoramos a verdade, estamos evitando lidar com os problemas que ela revela, e isso é de certo modo confortável para a alma. Mas para onde vamos nós, no estado lastimável de cegos que não querem enxergar? Certamente seremos encontrados na vala mais próxima – da depressão, da solidão, da falência, do engano, da apostasia, da incredulidade...
Porque você sabe, esse é um comportamento natural que revela uma atitude espiritual, e é por esse motivo que existe esse sofisma de que “religião não se discute”. Ledo engano.
Religião não somente se discute, como se investiga. Afinal, se Deus existe (e ele o faz maravilhosamente), certamente não é uma fraude que teme ser desmascarada a qualquer momento, mas um criador sábio que deixou vestígios e marcas que apontam para si mesmo em tudo que fez, desde que haja neutralidade e desejo sincero pelo que é verdadeiro.
Mas esse medo existe dentro da Igreja também. Tem muita gente que não quer enxergar a verdade da Palavra, por exemplo, e faz com Deus exatamente o mesmo que faz com a conta bancária: faz de conta que eu tenho crédito e o cheque vai compensar. (Mas não compensa, infelizmente.)
É por isso que muita gente morre de medo de orar, de pedir direções, de encará-lo. Que evita ir a cultos e ler a Palavra. Se “a quem muito é dado, muito é cobrado”, eu não tendo nada, ninguém me cobra coisa nenhuma.
É por isso também que tem tantos crentes sofrendo “pela fé”. Eles estão fingindo e declarando que a montanha não existe, quando o que Jesus ensinou foi encará-la e ordenar que se retire. É mais fácil “se fazer de doido” do que lidar com a questão.
É por essa razão que tanta gente tem receio de estudar as Escrituras e encontrar o Cristo agindo de um jeito diferente do que se costuma ouvir falar, estimulando-lhe a ser um crente diferente do que se tem pregado. Afinal, quando Jesus é o protagonista de todas as histórias, acomodo-me no meu papel de simples espectador, e posso vê-lo acalmar mares, andar sobre águas, multiplicar pães e ressuscitar mortos, sentada na confortável (e medíocre) poltrona da covardia.
Ter medo da verdade é, predominantemente, ter medo de MUDAR. De sair da zona de conforto, de tomar atitudes inéditas e ousadas, de se ver “nu e cru”, sem máscaras, de reinventar a si mesmo, de sofrer abstinências, de fazer esforço para adquirir o conhecimento necessário para se adaptar à realidade oculta sob o tapete da ilusão (ou da ignorância).
Quem tem medo da verdade teme deixar tradições vazias que não acrescentam nada a não ser adereços sociais. Tem medo de deixar tradições pessoais também, costumes arraigados e vidas sem graça, sem cor, sem plenitude. Essas pessoas estão vivendo dentro de castelos de areia que podem ruir a qualquer momento.
A verdade é a maior bênção que Deus nos deu, e só ela LIBERTA!
A verdade te dá a mão. Ela mostra o real panorama, ela te dá a base sobre a qual você pode fundamentar uma edificação segura. Ela aponta o caminho e o ilumina.
É olhando para o que é verdadeiro que dispensamos o que é falso, endireitamos a nossa vida, nossos valores e pensamentos, e podemos viver a totalidade do que é são, divino e perfeito.
Eu já vivi atemorizada, fingindo não ver, com medo de enxergar, cheia de ilusões e enganos. Hoje eu sei que a verdade é para os fortes. Aos fracos, restam as mentiras e as ilusões, seus castelos e suas ruínas.
- Luciana Honorata