O Papa Francisco deu uma declaração que acabou soando como uma resposta à ideologia, em sua exortação apostólica recente "Amoris Laetitia". No discurso, ele afirmou que as escolas precisam ensinar as crianças a "aceitarem" seus corpos da forma natural, "como eles foram criados", ou seja como "homem e mulher".
Enquanto a luta para permitir a auto-identificação de estudantes transexuais e o acesso destes a vestiários e banheiros públicos (conforme sua identidade de gênero) se espalha pelos distritos escolares em todo o Reino Unido e nos EUA, o pontífice falou contra estudantes encorajadores "que optam por se identificar com o sexo biológico oposto".
Em seu documento, "Amoris Laetitia" ("A Alegria do Amor"), de 225 páginas, o líder maior da igreja católica - já com 79 anos de idade - focou uma seção aproximadamente cinco páginas sobre "a importância da educação sexual".
A seção afirmou que as crianças precisam ser ensinadas moderadamente na área sexual e sustentou que as aulas de educação sexual precisam se concentrar principalmente sobre o o fato de que o uso da contracepção está promovendo um "narcisismo". Francisco também escreveu que as aulas de educação sexual precisam ensinar aos alunos que eles não possuem um "poder absolut sobre a Criação".
"A educação sexual deve incluir também o respeito e a valorização das diferenças, como forma de ajudar os jovens a superar a sua auto-absorção e de ser aberta e aceitar os outros", escreveu o Papa Francis. "Além das compreensíveis dificuldades que os indivíduos podem enfrentar, os jovens precisam ser ajudados a aceitar seu próprio corpo como ele foi criado, a pensar que nós apreciamos o poder absoluto sobre nossos próprios corpos que se transformam, muitas vezes sutilmente, pensamos que podemos desfrutar de um poder absoluto sobre a Criação".
O papa continuou afirmando que "valorização do nosso corpo como macho ou fêmea também é necessária para a nossa própria auto-consciência em um encontro com outras pessoas diferentes de nós mesmos".
"Desta forma, podemos alegremente aceitar os dons específicos dados a homens ou mulheres, o trabalho de Deus, o Criador, e encontrar o enriquecimento mútuo", acrescentou. "Só perdendo o medo de sermos diferentes, podemos ser libertos do egocentrismo e da auto-absorção. A educação sexual deve ajudar os jovens a aceitar seus próprios corpos e evitar a pretensão de 'anular a diferença sexual, porque alguém não sabe mais como lidar com ela".
O pontífice reconhece que a educação sexual não vai privar alguns homens e mulheres de serem mais masculinos e femininos do que outros, mas afirmou que a masculinidade e a feminilidade não são "categorias rígidas" e não podem ser usadas apenas para definir uma pessoa e sua sexualidade.
"Uma abordagem rígida se transforma em um excesso de acentuação do masculino ou feminino e não ajuda as crianças e jovens a apreciar a encarnar verdadeiraramente a reciprocidade nas condições reais do matrimônio", Francis argumentou. "Essa rigidez, por sua vez, pode dificultar o desenvolvimento das habilidades de um indivíduo, a ponto de levar-lhe a pensar, por exemplo, que cultivar a arte ou a dança não é algo realmente masculino ou que não é muito feminino exercer a liderança".
As afirmações do papa vêm depois do alerta feito pela Faculdade Americana de Pediatria no mês passado. A instituição apontou com um estudo, que o ensino da ideologia de gênero às crianças configura um "abuso infantil".
"Condicionar crianças a acreditarem que uma vida de representação química e cirúrgica do sexo oposto é normal e saudável configura um abuso infantil", a organização afirmou. "Endossar a discordância de gênero como normal através da educação pública e políticas legais irá confundir as crianças e os pais, levando cada vez mais crianças a se apresentarem a 'clínicas de gênero', onde receberão medicamentos bloqueadores de puberdade. Estas clínicas, por sua vez, praticamente garantem que as crianças vão 'escolher uma vida de hormônios do sexo oposto'. Estes bloqueadores são cancerígenos tóxicos. Estas clínicas também consideram a mutilação cirúrgica desnecessária de suas partes do corpo como algo saudável até mesmo em jovens / adultos".
A exortação do Papa Francisco também criticou escolas que adotam uma abordagem de promoção do "sexo seguro" para a educação sexual que lida principalmente com o estímulo ao uso da "proteção" (preservativos).
"Tais expressões transmitem uma atitude negativa com relação à finalidade de procriação natural da sexualidade, como se se eventualmente um bebê fosse um inimigo do qual devemos nos proteger. Esta maneira de pensar promove o narcisismo e a agressividade", Francisco alertou. "É sempre uma irresponsabilidade convidar adolescentes para brincar com seus corpos e seus desejos, como se possuíssem a maturidade, os valores, o compromisso mútuo e as metas próprias do matrimônio. Eles acabam sendo alegremente incentivados a usar outras pessoas como um meio de 'suprir suas necessidades".
Francisco acrescentou que os alunos precisam ser ensinados sobre conceitos sexuais mais avançados quando eles estiverem maduros o suficiente para lidar com tais informações.
"A educação sexual deve fornecer informações, mantendo em mente que as crianças e jovens ainda não atingiram a plena maturidade", afirmou. "A informação tem que vir em um momento adequado e de uma forma adequada à sua idade. Não é útil oprimí-los com os dados sem também ajudá-los a desenvolver um senso crítico para lidar com as investidas de novas ideias e sugestões, a inundação da pornografia e da sobrecarga de estímulos que podem deformar a sexualidade".
Combate à ideologia de gênero
No Brasil, a ideologia de gênero também está gerando diversos debates e profissionais das mais diversas áreas têm alertado para os malefícios deste ensino. Nomes como Marisa Lobo, Guilherme Schelb, Damares Alves e Claudemiro Ferreira estão entre os que se opõem fortemente à inclusão deste ensino nas escolas públicas.
"[A ideologia de gênero] está desautorizando e criando um conflito de gerações. É isto que nós questionamos. De forma alguma um professor pode impor isso [ensinamentos sobre questões de gênero] aos alunos", alertou Marisa Lobo, em uma entrevista concedida para o programa "Sem Tabus", da Rede Novo Tempo.