EUA propõe fim da guerra em Gaza tendo Trump como líder do “Conselho da Paz”

A proposta apresenta 20 pontos, incluindo cessar-fogo imediato, retirada de Israel de Gaza e plano de reconstrução.

Fonte: Guiame, com informações do Jerusalem Post e APAtualizado: terça-feira, 30 de setembro de 2025 às 11:29
Presidente Trump participa de uma coletiva de imprensa com o Primeiro-Ministro do Estado de Israel. (Captura de tela/YouTube/White House)
Presidente Trump participa de uma coletiva de imprensa com o Primeiro-Ministro do Estado de Israel. (Captura de tela/YouTube/White House)

O presidente dos EUA, Donald Trump, e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, anunciaram nesta segunda-feira (29), na Casa Branca, um plano de paz para encerrar a guerra em Gaza.

Netanyahu declarou apoio formal ao plano, afirmando que ele “responde às preocupações de segurança de Israel”. O premiê ressaltou, no entanto, que Israel manterá presença militar em pontos estratégicos da Faixa de Gaza, de forma a “garantir que Gaza nunca mais represente uma ameaça”.

O acordo, apresentado como um roteiro de 20 pontos, prevê cessar-fogo imediato, reconstrução da Faixa de Gaza, a criação de uma autoridade de transição internacional, mas ainda enfrenta incertezas, sobretudo pela ausência de anuência do grupo Hamas.

O plano também propõe um “diálogo inter-religioso para promover tolerância, paz e mudança nas narrativas entre palestinos e israelenses, destacando os benefícios da convivência pacífica”.

Segundo Trump, que assumiria a liderança de um “Conselho da Paz” responsável por supervisionar a implementação, a proposta é “a única chance real de encerrar décadas de violência”.

O órgão, que contará com líderes como o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, será responsável por coordenar a reconstrução de Gaza e a transição política, com apoio internacional e foco na estabilidade e atração de investimentos.

Paz abrangente

Entre as medidas imediatas estão a devolução dos reféns israelenses em até 72 horas, o desarmamento do Hamas e a instalação de um governo tecnocrático temporário em Gaza, sob supervisão externa.

Ao lado de Netanyahu, Trump afirmou que o acordo incluiria países árabes e contribuiria para a construção de uma paz mais abrangente no Oriente Médio.

“Pelo menos estamos, no mínimo, muito, muito perto. E acho que estamos mais do que muito perto”, disse Trump aos repórteres. “E quero agradecer a Bibi por realmente se esforçar e fazer um trabalho.”

Trump afirmou que os israelenses querem o retorno da paz e querem os reféns de volta para casa. Ele também acrescentou que havia “muitos palestinos que desejam viver em paz”, acrescentando que eles tiveram uma “vida difícil sob o comando do Hamas”.

Trump declarou acreditar que, em algum momento, o Irã se juntará aos Acordos de Abraão.

Ele encerrou sua fala renovando o apelo para que o Hamas aceite sua proposta, que classificou como “extremamente justa.”

Trump observou ainda que se o Hamas rejeitar o acordo firmado por Israel, ele daria ao Estado judeu o apoio para destruir o grupo terrorista palestino.

“E se o Hamas rejeitar o acordo, o que sempre é possível, eles serão os únicos que restarão. Todos os outros aceitaram, mas tenho a sensação de que teremos uma resposta positiva”, disse o presidente americano. “Mas se não, como você sabe, Bibi, você tem todo o nosso apoio para fazer o que quiser.”

Israel

Steve  Witkoff, enviado de Trump para o Oriente Médio, demonstrou otimismo após o apoio de várias nações árabes, muçulmanas e europeias ao plano de paz dos EUA para Gaza.

“Temos muito apoio generalizado de todos os países árabes da costa do Golfo, temos muito apoio dos europeus”, disse Witkoff a Bret Baier, da Fox News, depois que a Casa Branca lançou sua proposta.

“Temos muito apoio ao plano, muita adesão”, disse Witkoff, acrescentando que, embora “tenhamos alguns detalhes para resolver”, ele acreditava que Trump conseguiria finalizar o acordo dos reféns.

“Os israelenses acreditaram nisso. Como disse o primeiro-ministro, eles querem fazer as coisas da maneira mais fácil primeiro. Então, sem ameaças, vamos ver se conseguimos levar todos para casa pacificamente — de ambos os lados, aliás, do lado palestino, assim como do lado israelense”, continuou o enviado.

O ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, criticou o plano de paz de Trump, chamando-o de “fracasso diplomático”, após Netanyahu declarar apoio à proposta em Washington.

Smotrich afirmou que a concordância com o plano é “um ato de cegueira deliberada que ignora todas as lições de 7 de outubro”.

“Na minha opinião, isso vai acabar em lágrimas”, acrescentou. “Uma tragédia de liderança que foge da dura verdade.”

Reações

O Hamas ainda não aceitou a proposta e resistiu a medidas específicas que são delineadas na proposta.

O anúncio foi recebido com reações mistas no cenário internacional. O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, elogiou a iniciativa de Trump, classificando-a como “um passo histórico”.

Já líderes palestinos expressaram reservas, destacando que o Hamas ainda não aceitou as condições impostas e que o plano ignora, neste momento, a criação de um Estado palestino independente.

Analistas apontam que o envolvimento de figuras como o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair na administração provisória pode gerar controvérsias, dado o histórico de sua atuação no Oriente Médio. Além disso, críticos alertam que a viabilidade do acordo dependerá do cumprimento por todas as partes e do apoio efetivo da comunidade internacional.

Apesar do otimismo demonstrado por Trump e Netanyahu, especialistas lembram que a ausência de Hamas na mesa de negociações representa o maior obstáculo à concretização do acordo.

Caso o grupo rejeite ou atrase a implementação, Israel poderá aplicar unilateralmente algumas cláusulas do plano, segundo fontes próximas às negociações.

O anúncio marca mais um capítulo de uma longa série de tentativas de mediação para o conflito, que já deixou milhares de mortos e uma crise humanitária de grandes proporções. Agora, o mundo observa com cautela se o plano de Washington terá força suficiente para transformar promessas em realidade.

Os 20 prontos da proposta de Trump:

1. Gaza será uma zona livre de terror desradicalizada que não representa uma ameaça para seus vizinhos.

2. Gaza será reconstruída em benefício do povo de Gaza, que sofreu mais do que o suficiente.

3. Se ambos os lados concordarem com esta proposta, a guerra terminará imediatamente. As forças israelenses se retirarão para a linha acordada para se preparar para uma libertação de reféns. Durante este tempo, todas as operações militares, incluindo bombardeios aéreos e de artilharia, serão suspensas, e as linhas de batalha permanecerão congeladas até que as condições sejam atendidas para a retirada completa.

4. Dentro de 72 horas após Israel aceitar publicamente este acordo, todos os reféns, vivos e mortos, serão devolvidos.

5. Uma vez que todos os reféns sejam libertados, Israel libertará 250 prisioneiros da sentença de prisão perpétua mais 1700 habitantes de Gaza que foram detidos após 7 de outubro de 2023, incluindo todas as mulheres e crianças detidas nesse contexto. Para cada refém israelense cujos restos mortais são libertados, Israel libertará os restos mortais de 15 mortos de Gaza.

6. Uma vez que todos os reféns sejam devolvidos, os membros do Hamas que se comprometem com a coexistência pacífica e a desativar suas armas receberão anistia. Membros do Hamas que desejam deixar Gaza receberão passagem segura para os países receptores.

7. Após a aceitação deste acordo, a ajuda total será imediatamente enviada para a Faixa de Gaza. No mínimo, as quantidades de ajuda serão consistentes com o que foi incluído no dia 19 de janeiro de 2025, com acordo relativo à ajuda humanitária, incluindo a reabilitação de infraestruturas (água, eletricidade, esgoto), reabilitação de hospitais e padarias e a entrada de equipamentos necessários para remover escombros e estradas abertas.

8. A entrada de suprimentos e ajuda na Faixa de Gaza ocorrerá sem interferência das duas partes, por meio das Nações Unidas e suas agências, do Crescente Vermelho, além de outras instituições internacionais que não tenham qualquer vínculo com nenhuma das partes. A abertura da passagem de Rafah, em ambos os sentidos, estará sujeita ao mesmo mecanismo implementado no acordo de 19 de janeiro de 2025.

9. Gaza será administrada sob uma governança transitória temporária por um comitê palestino tecnocrático e apolítico, responsável pela gestão cotidiana dos serviços públicos e das municipalidades para a população local. Esse comitê será composto por palestinos qualificados e especialistas internacionais, sob supervisão de um novo órgão internacional de transição, o “Conselho da Paz”, que será presidido por Donald J. Trump. Outros membros e chefes de Estado serão anunciados, incluindo o ex-primeiro-ministro Tony Blair. Esse órgão estabelecerá o marco regulatório e gerenciará o financiamento para a reconstrução de Gaza até que a Autoridade Palestina conclua seu programa de reformas – conforme proposto em diversos planos, incluindo o plano de paz de Trump de 2020 e a proposta saudita-francesa – e esteja apta a reassumir o controle de Gaza de forma segura e eficaz. O Conselho buscará os melhores padrões internacionais para criar uma governança moderna e eficiente, voltada ao atendimento da população de Gaza e à atração de investimentos.

10. Um plano econômico de Trump para reconstruir e revitalizar Gaza será criado por meio da convocação de um painel de especialistas que ajudaram a dar origem a algumas das prósperas cidades modernas consideradas milagres no Oriente Médio. Muitas propostas de investimento bem elaboradas e ideias empolgantes de desenvolvimento já foram elaboradas por grupos internacionais bem-intencionados e serão consideradas para integrar os marcos de segurança e governança, a fim de atrair e viabilizar esses investimentos que gerarão empregos, oportunidades e esperança para o futuro de Gaza.

11. Uma zona econômica especial será estabelecida com tarifas preferenciais e taxas de acesso a serem negociadas com os países participantes.

12. Ninguém será forçado a deixar Gaza, e aqueles que desejam sair serão livres para fazê-lo e livres para voltar. Vamos incentivar as pessoas a ficar e oferecer-lhes a oportunidade de construir uma Gaza melhor.

13. O Hamas e outras facções concordam em não ter qualquer papel na governança de Gaza, direta, indiretamente ou de qualquer forma. Toda a infraestrutura militar, terrorista e ofensiva, incluindo túneis e instalações de produção de armas, será destruída e não será reconstruída. Haverá um processo de desmilitarização de Gaza sob a supervisão de monitores independentes, que incluirá a colocação de armas permanentemente fora do uso através de um processo acordado de desmantelamento, e apoiada por um programa de recompra e reintegração financiado internacionalmente todos verificados pelos monitores independentes. Nova Gaza estará totalmente comprometida com a construção de uma economia próspera e a coexistência pacífica com seus vizinhos.

14. Uma garantia será fornecida por parceiros regionais para assegurar que o Hamas e as facções cumpram com suas obrigações e que a Nova Gaza não represente ameaça aos seus vizinhos nem à sua própria população.

15. Os Estados Unidos trabalharão com parceiros árabes e internacionais para desenvolver uma Força Internacional de Estabilização (ISF) temporária, que será implantada imediatamente em Gaza. A ISF irá treinar e oferecer suporte às forças policiais palestinas previamente selecionadas em Gaza, em consulta com Jordânia e Egito, que possuem ampla experiência nessa área. Essa força será a solução de segurança interna de longo prazo. A ISF atuará em conjunto com Israel e Egito para ajudar na segurança das áreas de fronteira, juntamente com as novas forças policiais palestinas treinadas. É fundamental impedir a entrada de munições em Gaza e facilitar o fluxo rápido e seguro de bens para sua reconstrução e revitalização. Um mecanismo de prevenção de conflitos será acordado entre as partes.

16. Israel não ocupará nem anexará Gaza. À medida que a Força Internacional de Estabilização (ISF) estabelecer controle e estabilidade, as Forças de Defesa de Israel (IDF) se retirarão com base em padrões, marcos e prazos vinculados ao processo de desmilitarização, conforme acordado entre a IDF, a ISF, os garantidores e os Estados Unidos, com o objetivo de garantir uma Gaza segura, que não represente ameaça a Israel, ao Egito ou à sua população. Na prática, a IDF transferirá progressivamente o território de Gaza sob sua ocupação para a ISF, conforme acordo com a autoridade de transição, até que se retire completamente de Gaza — exceto por uma presença em perímetro de segurança, que permanecerá até que Gaza esteja devidamente protegida contra qualquer ameaça terrorista ressurgente.

17. Caso o Hamas atrase ou rejeite esta proposta, as medidas acima, incluindo a operação ampliada de ajuda humanitária, serão implementadas nas áreas livres de terrorismo que forem transferidas das Forças de Defesa de Israel (IDF) para a Força Internacional de Estabilização (ISF).

18. Será estabelecido um processo de diálogo inter-religioso baseado nos valores da tolerância e da convivência pacífica, com o objetivo de transformar mentalidades e narrativas de palestinos e israelenses, destacando os benefícios que podem ser alcançados por meio da paz.

19. Enquanto o redesenvolvimento de Gaza avança e quando o programa de reforma da AP é fielmente realizado, as condições podem finalmente estar em vigor para um caminho credível para a autodeterminação e o Estado palestino, que reconhecemos como a aspiração do povo palestino.

20. Os Estados Unidos estabelecerão um diálogo entre Israel e os palestinos para definir um horizonte político voltado à convivência pacífica e próspera.

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