Refém do Hamas revela condição em Gaza: ‘Fome, abusos e medo de estupro’

Mia Schem ficou 54 dias em poder dos terroristas, após ser ferida a tiros e levada à força para um cativeiro dentro de uma casa em Gaza.

Fonte: GuiameAtualizado: quinta-feira, 4 de janeiro de 2024 às 13:43
Mia Schem, de 21 anos, estava entre os mais de 200 reféns feitos pelo Hamas em 7 de outubro. (Captura de tela/Video/Canal 12)
Mia Schem, de 21 anos, estava entre os mais de 200 reféns feitos pelo Hamas em 7 de outubro. (Captura de tela/Video/Canal 12)

“Eles olham para você como se você fosse uma espécie de animal”, diz Mia Schem, uma das reféns entre as mais de 200 pessoas – israelenses e de várias outras nacionalidades – capturadas durante o ataque terrorista do Hamas em 7 de outubro, que matou mais de 1.200 na invasão que o grupo fez a Israel.

Em novembro, a jovem de 21 anos, que tem cidadania israelense e francesa, foi uma das primeiras reféns libertadas durante um breve cessar-fogo. Agora, em uma entrevista que concedeu ao Canal 12, de Israel, ela conta alguns detalhes de seu cativeiro, considerado infernal.

Em um trecho do vídeo abaixo, obtido exclusivamente pelo Guiame, Mia conta sobre os medos que sentiu e o que foi obrigada a falar durante o cativeiro, quando, inclusive, foi forçada a gravar uma mensagem escrita pelos terroristas para ser divulgada sobre as condições em que estavam os reféns.

No vídeo, Mia apela para que seja libertada o mais rápido possível e conta que recebeu tratamento em um hospital em Gaza depois de ser ferida na mão.

Após ser levada pelos terroristas enquanto voltada de uma festa em Sderot, a jovem foi mantida refém em um quarto escuro sob vigilância constante em Gaza.

‘Pesadelo’

Na entrevista que foi liberada recentemente, Mia diz estar convencida de que só há uma razão para ela não ter sido estuprada pelo terrorista que a manteve sequestrada durante 54 dias angustiantes em cativeiro.

“Sua esposa estava fora do quarto com as crianças”, disse durante a entrevista recém-divulgada na TV israelense. “Essa foi a única razão pela qual ele não me estuprou.”

Mia conta que ainda carrega as cicatrizes do seu pesadelo e desprezo por aqueles que lhe tiraram a liberdade.

Ela diz que passou fome e foi insultada pela família do terrorista, enquanto se perguntava se seria morta a qualquer momento ou estuprada por ele.

“Ele começou a tocar em mim, no meu corpo, enquanto eu estava ensanguentada [pela ferida na mão provocada por tiro durante sua captura]”, conta Mia.

Até mesmo as crianças da família tinham acesso a ela.

“As crianças abrem a porta, falam de você, riem de você. Houve uma vez que uma garotinha, de mais ou menos da idade da minha irmã mais nova, entrou na sala ... ela veio até mim, abriu minha bolsa, fechou e saiu”.

E continua: “Há medo de ser estuprada, há medo de morrer”.

Enquanto contava parte de sua provação, Mia chegou a chorar.

“A esposa dele odiava o fato de ele e eu estarmos na mesma sala. Você sente vontade de um abraço, sabe, de mulher para mulher, para desmoronar um pouco.”

“[Eu estava] fechada em um quarto escuro, sem permissão para falar, sem permissão para ser vista, ouvida, escondida”, diz Mia ao Canal 12 de Israel. “Há um terrorista olhando para você 24 horas por dia, 7 dias por semana, olhando, estuprando você com os olhos dele.

“Isso é tudo que você tinha lá. Mas ela era tão má, ela tinha olhos tão maus.”

‘Passei por um holocausto’

Mia era uma das centenas de jovens que estava participando do festival de música eletrônica, perto da fronteira com a Faixa de Gaza, quando terroristas violentos chegaram e começaram a perseguir as pessoas que estavam no festival.

Mia diz que tentou correr e foi baleada no braço durante a invasão. Na sequência, os terroristas atiraram em seu carro e o incendiaram, deixando-a com apenas duas opções no momento.

“Foi uma decisão de uma fração de segundo: ficar onde estava e morrer queimada ou ir com eles”, diz a jovem.

Ela foi arrastada para uma caminhonete e levada para Gaza, onde ficou refém em uma casa palestina após receber uma tala improvisada no braço ferido.

Às vezes, as bombas israelenses de uma contraofensiva de Israel abalavam a casa e até quebravam as janelas em determinado momento, disse ela na entrevista à televisão.

“Pensei: 'Se não morri no dia 7 [de outubro], vou morrer agora'”, diz Mia, mas acrescenta: “Confiei nos militares”.

“Foi importante para mim transmitir a verdade sobre a natureza das pessoas que vivem em Gaza, quem elas realmente são e o que vivi lá”, diz ela na entrevista.

“É importante para você que o mundo entenda, o quê? Que passei por um holocausto”, acrescenta Mia. “Todo mundo ali é terrorista.”

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