Um iraniano precisou fugir de seu país ao receber ameaças de morte de sua família por ter abandonado o Islã e se voltado ao cristianismo.
Ele conta que entregou sua vida a Jesus através de um amigo com quem trabalhava e meses depois se batizou secretamente em uma casa à meia-noite.
“Antes de tudo isso acontecer, eu estava muito doente e não havia recebido um diagnóstico concreto. Perdi muito peso e estava muito frágil”, conta.
Durante a doença, ele diz ter tido um sonho “onde vi Jesus me chamando”.
“Lembro que tudo era branco e parecia que Ele estava esperando por mim. Uma semana depois, no mesmo sonho, ouvi Jesus me dizendo que ainda não era minha hora. Conheci meu amigo logo depois disso, em fevereiro de 2004”, diz.
Devido à sua conversão, Joseph (nome fictício) precisou fugir para a Espanha, onde também tem sido ameaçado pelos seus conterrâneos que vivem naquele país.
A situação de Joseph é crítica, já que as autoridades não lhe concederam asilo, mesmo vivendo há 16 anos na Espanha. Mas o homem diz que continua acreditando que conseguirá regularizar sua vida: “Tenho confiança em Deus”, afirma.
Por causa das ameaças, a tensão ronda a vida de Joseph. Quando está em lugar público, não consegue deixar de olhar para quem passa ou que, ao caminhar, chega um pouco mais perto dele do que deveria.
Ele conta que este cuidado se tornou uma atitude corriqueira em sua vida após 16 anos sofrendo ameaças e hostilidades devido à sua identidade religiosa. Primeiro no Irã, seu país natal, e depois na Espanha, quando chegou a Barcelona.
Ameaças
A nova vida de Joseph, que está com 50 anos, começou em 2004, quando ele deixou o islamismo para se converter ao cristianismo. “Quando minha família descobriu que eu era cristão, eles me disseram que se eu não voltasse ao Islã, eles me matariam”.
A partir de então, Joseph iniciou uma longa jornada que o levou a fugir clandestinamente do Irã para Barcelona, onde passou os primeiros meses na rua até entrar em contato com uma igreja evangélica que o ajudou.
Depois de três pedidos de asilo político rejeitados, Joseph se encontra em uma situação não regulamentada desde 2018, embora nunca tenha recebido qualquer ameaça de deportação. Ele agora trabalha com uma igreja local, embora não tenha esperança de poder processar seus papéis na embaixada iraniana na Espanha.
Riscos
Para sair do Irã, Joseph conta que enfrentou muitas dificuldades e perigos. “Após três dias de espera, embarquei em uma lancha para Dubai. Era perigoso, viajei apenas segurando uma corda”, relata.
Durante parte da viagem o grupo foi perseguido por um barco do governo que, segundo ele, atiraram neles. “Muitas pessoas morreram nesta jornada. Fiquei em uma casa em Dubai por uma semana e depois peguei um avião para a Malásia, de onde finalmente pude chegar a Barcelona”, diz.
Joseph precisou portar documentação falsa. “No Irã, quando um muçulmano se converte a outra religião, ele não tem direito a nada, então eu não tinha passaporte e também não o tenho aqui”, explica.
As dificuldades no Irã levaram Joseph a abandonar o país. “Quando me converti a Cristo, compartilhei isso com meus pais e o resto de minha família. Meus primos trabalharam em um corpo de segurança moral e religiosa. Quando descobriram que eu era cristão, me disseram que, se eu não voltasse ao Islã, eles me matariam. Para salvar minha vida e minha fé, tive que deixar o país. Agora eles não sabem onde estou”, relata.
Desde que deixou o Irã, há mais de dezesseis anos, Joseph não teve contato com nenhum membro da família. “Estou sozinho, mas aqui encontrei uma nova família na igreja. Estou sempre com eles e tenho confiança em Deus”, diz.
Quando chegou na Espanha, Joseph encontrou um emprego em uma loja iraniana que vendia tapetes persas. Como o proprietário era embaixador do Irã na Itália, quando ele descobriu que o conterrâneo havia se convertido ao cristianismo, ele ameaçou matá-lo, conta Joseph.
Em 2011, ele foi trabalhar em um restaurante iraniano, onde também não foi aceito porque souberam que ele era cristão. “Eles sempre me intimidaram e, no final, fui demitido”, conta.
“Além disso, sempre que um iraniano vem à igreja, evito revelar minha identidade e minha origem, porque não os conheço e preciso tomar cuidado”, conta.
Devido à sua situação, Joseph já mudou de advogado mais de oito vezes em 10 anos para tentar resolver seu caso, mas “quando meu pedido de Cartão Vermelho (de asilo político) foi cancelado em 2018, eles me disseram que eu não podia fazer nada, que estava fora do sistema”.
Joseph diz que o governo disse a ele que eu não era a primeira pessoa nessa situação. “É difícil, não posso voltar para o Irã, posso ficar aqui, mas sem me mudar e sem papéis”, lamenta.
Liberdade
Apesar da instabilidade em que vive, Joseph diz que está feliz por morar na Espanha. “Aqui tenho a liberdade de carregar a Bíblia debaixo do braço, ir à igreja e compartilhar minha fé com outras pessoas e ajudá-las”, diz.
Ele diz que está livre para ter uma vida normal, se o governo permitir. “Com Jesus posso viver, até agora estou vivendo. Tenho encontrado muitas pessoas aqui que me ajudaram, mas não meus conterrâneos, porque muitos, mesmo aqui, não aceitam que me converti a Cristo”, conta.
O Irã ocupa o nono lugar na lista Mundial da Perseguição da Portas Abertas. Segundo dados divulgados recentemente por uma organização secular que acompanha a situação social, política e religiosa do país, o cristianismo teria crescido e chegado a 1,5% da população, ou seja, mais de um milhão de pessoas.