Autoridades da China estão fazendo uma verdadeira lavagem cerebral nos cristãos, os mantendo em instalações secretas e campos de “transformação”, de acordo com um novo relatório divulgado pela Radio Free Asia.
O relatório da RFA revelou a história de um homem, identificado pelo pseudônimo de Li Yuese, que foi espancado em uma sala sem janelas por quase 10 meses.
Ele foi detido em uma instalação administrada pelo Departamento de Trabalho da Frente Unida do Partido Comunista Chinês (PCC), que trabalha em conjunto com a polícia de segurança do governo, após uma batida em sua igreja em 2018.
Li disse que a maioria de seus companheiros de prisão também participaram de atividades relacionadas à igreja. Como a maioria não havia feito nada que pudesse desencadear um processo criminal, a polícia os enviou para os campos de “transformação”.
“Eles usavam métodos de lavagem cerebral naqueles que estavam sob fiança do centro de detenção. Era um local secreto, um porão”, disse ele. “Não havia janelas, nem ventilação, nem tempo do lado de fora”.
Os presidiários que se recusavam a “admitir seus erros” eram mantidos em confinamento solitário por períodos prolongados. “Não há limite de tempo para o processo de lavagem cerebral”, disse ele. “Você não pode ver o sol, então você perde todo o conceito de tempo.”
Ele disse que as tentativas de suicídio e a automutilação são comuns. “Eu não conseguia dormir; depois de você estar lá uma semana, a morte começa a parecer melhor do que ficar lá”, disse Li. “Eu me bati contra a parede para me machucar.”
Membros da igreja doméstica Xin Mingling durante culto em Pequim, na China. (Foto: Jonathan Saruk/Getty Images)
O Partido Comunista Chinês, que abraça o ateísmo, exerce um controle rígido sobre qualquer forma de prática religiosa entre seus cidadãos.
Outro cristão, que pediu para permanecer anônimo, disse à RFA que esse tipo de instalação é usada na China não apenas para protestantes, mas também para membros da Igreja Católica clandestina e da prática espiritual chinesa Falun Gong, um alvo das autoridades desde 1999.
“Alguns [bispos e padres] foram mandados de volta para casa depois de cinco ou seis anos, e foi assim que as pessoas souberam dos centros de lavagem cerebral — por meio de seus relatos”, disse o advogado de sobrenome Zhang, da província de Hebei, no norte do país, que representou vários ex-detidos católicos.
De acordo com uma reportagem da revista internacional Bitter Winter, que entrevistou uma ex-vítima de lavagem cerebral em novembro de 2020, os métodos usados nos centros variam de espancamentos a tortura, incluindo chuveiros frios em temperaturas abaixo de zero e exigir que os presos carreguem grandes baldes de água ao redor do pescoço.