Como evangelizar um muçulmano? Professor mostra principais pontos teológicos

O Dr. Winfried Corduan faz uma análise abrangente da fé islâmica e do Cristianismo, destacando como evangelistas podem agir efetivamente em suas interações com muçulmanos.

Fonte: Guiame, com informações do Christian PostAtualizado: terça-feira, 24 de setembro de 2024 às 16:03
Egípcios participam da oração do meio-dia na Mesquita Amr ibn Al-Aas, no Antigo Cairo, Egito. (Foto ilustrativa: IMB)
Egípcios participam da oração do meio-dia na Mesquita Amr ibn Al-Aas, no Antigo Cairo, Egito. (Foto ilustrativa: IMB)

O Dr. Winfried Corduan, professor emérito de filosofia e religião na Taylor University, em Upland, Indiana, publicou um artigo que aborda a difícil tarefa de evangelizar muçulmanos.

Com um doutorado pela Rice University, Corduan enfatiza que "evangelizar muçulmanos é uma tarefa notoriamente difícil, principalmente porque o islamismo também é uma religião missionária".

Ele alerta para o fato de que nem todo muçulmano que você conhece está tentando convertê-lo, mas destaca a importância de estar preparado para um debate acirrado, caso o assunto religião surja na conversa.

"Em sua forma mais básica, o islamismo é uma religião muito racional, e não é fácil rebater alguns argumentos em seu próprio terreno", afirma o professor. Além disso, ele ressalta que a maioria dos muçulmanos que vivem em países ocidentais é treinada para explicar sua rejeição à Trindade e à divindade de Cristo.

“Há quatro pontos básicos na apologética muçulmana. Primeiro, Deus é um. A Trindade constitui um politeísmo velado, e é blasfêmia pensar que Deus pode ter um Filho”, explica.

E continua sobre os demais pontos: “Segundo, Cristo não pode ser Deus. É contraditório pensar que qualquer ser humano pode ser Deus. Terceiro, a Bíblia é demonstravelmente cheia de erros, enquanto o Alcorão é uma revelação direta de Deus, transmitida em sua forma original e pura. Quarto, em vez de se apegar a tais crenças absurdas, faz sentido aceitar a fé muito simples do Islã: submeter-se ao Deus único e guardar Seus mandamentos.”

Responder às argumentações muçulmanas

O Dr. Corduan oferece orientações sobre como os cristãos devem responder às argumentações muçulmanas.

"Primeiro, deixe-me enfatizar o mais fortemente possível que os cristãos precisam conhecer os fundamentos de sua própria fé", afirma.

Ele destaca que a interpretação muçulmana da Trindade é frequentemente vista como uma forma de politeísmo, com a ideia de que os cristãos adoram três deuses. Portanto, os cristãos devem estar preparados para esclarecer que não praticam o politeísmo.

"O Cristianismo é uma religião monoteísta; os cristãos adoram um Deus em três pessoas – nunca três deuses", explica Corduan.

Idealmente, ele acredita que os cristãos deveriam também ser capazes de explicar as razões pelas quais esse modelo foi escolhido para representar a imagem bíblica de Deus. Essa abordagem, segundo ele, visa preservar a crença na unidade essencial de Deus, um aspecto central na teologia cristã que deve ser claramente compreendido e defendido ao se dialogar com muçulmanos.

O Dr. Corduan também observa que, ao discutir a Trindade, é provável que um muçulmano responda que essa doutrina não faz sentido racional.

Ele lamenta que, infelizmente, muitos cristãos também compartilham dessa visão, acreditando que a Trindade foi elaborada como um teste de fé, exigindo que os crentes aceitem algo ilógico. No entanto, o professor enfatiza que "a doutrina da Trindade é um modelo muito razoável para dar sentido aos dados das Escrituras".

Ele ressalta que essa discussão sobre a racionalidade da Trindade é um ponto totalmente diferente do que está em jogo na argumentação inicial. "Mesmo que a doutrina da Trindade fosse irracional, isso não a tornaria ipso facto politeísta", afirma Corduan.

Portanto, mesmo que os cristãos insistam em sua crença monoteísta e os muçulmanos achem essa afirmação confusa, isso não transforma os cristãos em politeístas automaticamente.

"Não há critério intelectual para o efeito de que todas as crenças que são difíceis de entender são, por padrão, politeístas", conclui o professor.

Encarnação de Cristo

O Dr. Corduan aplica a mesma lógica à crença cristã na encarnação, destacando um ponto crucial nas discussões inter-religiosas. Ele explica que os muçulmanos frequentemente acusam os cristãos de praticar idolatria ao adorar qualquer ser humano como Deus, o que é parcialmente verdadeiro.

No entanto, os cristãos não adoram um homem como Deus; em vez disso, afirmam que "Deus, a segunda pessoa da Trindade, se uniu inextricavelmente ao homem Jesus". Assim, a adoração dos cristãos é direcionada ao Deus que se faz presente na única pessoa de Cristo.

O professor continua a argumentar que, desde o quinto século, com base na definição do Concílio de Calcedônia, o entendimento aceito de Cristo é que ele é uma única pessoa com duas naturezas: uma humana e uma divina.

"Novamente, a questão que estou abordando aqui não é se a doutrina é imediatamente compreensível, mas se os cristãos cometem idolatria ao adorar a Cristo", ressalta Corduan.

Ele conclui que os ensinamentos centrais do cristianismo não promovem a idolatria.

Crenças Cristãs

Um desafio significativo surge nesse contexto, uma vez que o próprio Alcorão nega a Trindade e a encarnação. Portanto, para que o diálogo entre cristãos e muçulmanos prossiga de forma construtiva, é fundamental que os participantes se concentrem no que os cristãos realmente acreditam, ao invés de se deter na falsidade do que os muçulmanos entendem e no que o Alcorão afirma sobre o Cristianismo.

O Dr. Corduan observa que um muçulmano pode reconhecer por si mesmo que, se você representa suas crenças de forma precisa e respeitosa, isso demonstra que o Alcorão distorce flagrantemente a fé cristã.

Ainda assim, ele diz que a discussão não pode parar por aí. O muçulmano, invariavelmente, responderá que, mesmo em sua melhor versão, a compreensão cristã é um horrendo tour de force, que tenta conciliar conceitos altamente improváveis em argumentações bastante questionáveis.

E diz: "Quão mais simples, quão mais racional, acreditar que há apenas um Deus sem mais diferenciações, e que os profetas eram apenas seres humanos e nada mais!".

“Não tenho problema em admitir a força desse ponto. Mas, a simplicidade dificilmente pode ser o único ou mesmo o principal critério para determinar a verdade”, pondera.

“Meus pensamentos isolados não podem decidir como a realidade deve ser. Por exemplo, seria muito mais fácil aceitar o mundo simplificado da física newtoniana do que a complexidade da mecânica quântica e da teoria da relatividade. Mas os cientistas devem se curvar às realidades que encontram, independentemente de quão complexas suas teorias precisem ser para descrever essas realidades”, justifica.

Doutrinas simples

O professor dia que de maneira semelhante, os pensadores no campo da religião não podem simplesmente escolher as doutrinas mais simples. Eles devem aceitar as realidades que foram reveladas por Deus e expressá-las da forma mais clara possível, a fim de fazer justiça a essas verdades.

“Em suma, os cristãos não aceitam a doutrina da Trindade ou o status de Cristo como o Deus-homem porque essas ideias são as mais simples – como poderiam? – mas porque elas expressam a realidade revelada”, diz.

A consideração anterior levanta a questão de onde a revelação autêntica de Deus pode ser encontrada. Para o cristão, a Bíblia é a fonte primária de revelação; para o muçulmano, a superioridade do Alcorão é inquestionável.

“Meu ponto aqui não é defender a inspiração da Bíblia em si, mas identificar uma possível resposta ao menosprezo muçulmano por ela”, diz o professor.

Ele explica que os muçulmanos frequentemente apontam para supostas falhas tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, muitas vezes influenciados por obras de críticos que se autodenominam cristãos e que aplicam análises críticas negativas à Bíblia.

Ele argumenta que se esses chamados cristãos não acreditam que sua própria Escritura seja impecável, por que alguém haveria de aceitá-la como uma revelação divina ou basear suas crenças nela?

Além disso, os manuscritos antigos da Bíblia exibem variações textuais significativas e são frequentemente citados como contendo muitas contradições aparentes.

“Em contraste, os muçulmanos afirmam que o Alcorão foi preservado em uma forma idêntica à sua versão original, e está livre de erros”.

Veracidade da Bíblia

Em resposta à questão da preservação da Bíblia por Deus, o professor diz que é importante observar que, se todas as variantes textuais da Bíblia tivessem sido queimadas, como Uthman ibn ʿAffān fez com as variantes do Alcorão, teria surgido uma única versão da Bíblia.

Um homem lê o Alcorão enquanto outros rezam na Mesquita Central de Londres. (Foto ilustrativa: IMB)

No entanto, a realidade é que a existência de diversas leituras variantes nos oferece uma oportunidade valiosa de recuperar com um alto grau de confiança o que o texto original da Bíblia deve ter dito, explica.

“Além disso, a própria existência de tantas leituras variantes nos permite recuperar o que o original deve ter dito com um grande grau de confiança. Por outro lado, é impossível restaurar o Alcorão ao que existia antes de Uthman, já que agora temos apenas uma versão do Alcorão – aquela que Uthman queria que tivéssemos. Descobertas recentes mostraram que há variações textuais reais no Alcorão, mesmo após a tentativa de Uthman de erradicá-las todas”, escreve.

Discrepâncias refutadas

Em relação às muitas supostas discrepâncias na Bíblia, os cristãos evangélicos precisam se preparar e abordar as passagens problemáticas com diligência e integridade, diz o Dr. Corduan.

“O Alcorão é essencialmente o produto de um homem. Seu conteúdo abrange um pouco mais de vinte anos dentro de um único contexto cultural. Em contraste, a Bíblia abrange cerca de 1.500 anos em várias línguas diferentes e culturas altamente divergentes”, diz.

“Este fato torna muito mais difícil interpretar e correlacionar informações bíblicas corretamente, um ponto às vezes esquecido por críticos e defensores. Os cristãos que querem defender a inerrância da Bíblia incorrem na responsabilidade de conhecer os dois lados da moeda: o caso dos críticos, bem como os dados que apoiam o caso do crente.”

Ele diz que se um muçulmano aponta para uma possível passagem problemática na Bíblia, o cristão precisa ter estudado as questões envolvidas.

“Tendo dito isso, posso me apressar em acrescentar que, de fato, há todas as boas razões para acreditar que a Bíblia não está cheia de erros ou contradições. Estudos adequados produziram e continuarão a produzir resultados tranquilizadores”, afirma o Dr. Corduan.

Salvação

O professor escreve ainda que nem é preciso dizer que tais discussões religiosas com um muçulmano nunca são um fim em si mesmas, nem para o cristão nem para o muçulmano.

“Ambos os lados estão preocupados com a salvação do outro – para o muçulmano, submetendo-se a Alá, para o cristão, recebendo Cristo com fé”, explica.

“Nesse sentido, vencer um debate intelectual é em si infrutífero para ambos. A intenção do cristão deve ser mostrar ao muçulmano 1. quais são as realidades da cruz e da salvação e 2. que as realidades são graciosamente fornecidas por Deus para nos dar a salvação”, pontua o Dr. Corduan.

“Como o islamismo depende de um padrão inatingível de perfeição, ele nunca pode, em última análise, fornecer certeza de salvação”, explica.

“Os cristãos têm permissão para dizer que nossa salvação está garantida, não por causa de nossa retidão, mas porque podemos confiar que Deus cumprirá suas promessas (por exemplo, João 1:12; 3:16). É com base em Cristo e em Sua obra somente que podemos ter certeza de que somos salvos. Os cristãos devem demonstrar essa verdade aos muçulmanos por meio de suas vidas, bem como de suas palavras”, finaliza.

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