Cristãos fazem cultos nas casas durante a madrugada, devido à perseguição na Nicarágua

Após serem vigiados e reprimidos, congregações trocaram os templos pelas casas, se reunindo de madrugada secretamente.

Fonte: Guiame, com informações de Baptist Press e AP NewsAtualizado: sexta-feira, 27 de setembro de 2024 às 13:41
Cristãos na Nicarágua. (Foto: Imagem ilustrativa/Open Doors).
Cristãos na Nicarágua. (Foto: Imagem ilustrativa/Open Doors).

Em meio a perseguição crescente na Nicarágua, cristãos estão se reunindo nas casas para poder cultuar a Deus sem chamar a atenção das autoridades.

Desde o início dos protestos populares em 2018, o governo autoritário de Daniel Ortega já dissolveu mais de 3.550 ONGs, sendo que várias delas eram evangélicas.

A Nicarágua enfrenta uma crise política, social e de liberdades que se agravou após as polêmicas eleições gerais realizadas em 7 de novembro de 2021, quando Daniel Ortega foi reeleito para um quinto mandato.

Desde então, mais de 256 igrejas evangélicas foram fechadas pelo governo nos últimos quatro anos, segundo a organização de direitos humanos Nicarágua Nunca Más.

Pelo menos 200 líderes religiosos fugiram do país. Mais de 20 foram destituídos de sua cidadania e 65 foram indiciados por conspiração e outras acusações.

Segundo o diretor do ministério Mountain Gateway, John Britton Hancock, que também foi alvo do governo Ortega, há 100 pastores presos neste momento.

Em um ambiente de insegurança, o diácono Francisco Alvicio e sua congregação – uma das centenas da Igreja da Morávia – foram obrigados a se reunirem nas casas, depois de sofrerem repressão do governo.

"Se eu for perseguido na igreja, ainda tenho minha Bíblia", comentou o líder de 63 anos, em entrevista à AP News.

Agentes infiltrados nos cultos

Nos últimos anos, a denominação formada por mais de 350.000 membros em todo o país, passou a ser vigiada por policiais e agentes infiltrados nos cultos. 

"Chegar com uma arma não é bondoso. Se alguém entra em uma igreja vestindo um uniforme, falando alto, é para intimidar”, enfatizou Francisco.

Além disso, o governo impôs impostos aos membros e novas regras para a igreja, incluindo a troca do logotipo da Igreja da Moldávia.

"Não aceitamos", contou o líder. "Não podemos mudar algo só porque o governo quer. O único caminho que seguimos é o de Deus”.

Cultos domésticos na madrugada

Com o tempo, os membros pararam de comparecer aos cultos com medo de represálias e começaram a se reunir nas casas.

Os membros realizam os cultos às 4h da madrugada, em voz baixa e sempre mudam o local dos encontros, com o objetivo de não serem descobertos pelas autoridades.

Depois de denunciar, junto com outros pastores, a vigilância, o assédio e a prisão de líderes, Francisco decidiu fugir para a Costa Rica, por sua segurança.

Apesar da perseguição, o líder permanece firme em sua fé. "Nós, os morávios, acreditamos que onde quer que estejamos, podemos orar a Deus. Então eu posso andar, falar e pensar com esse poder, sabendo que, mesmo que eu esteja sozinho, Ele estará comigo”, declarou.

Jurado de morte

Outro pastor da Igreja da Moldávia, que não teve o nome revelado por motivos de segurança, também saiu da Nicarágua após descobrir que o governo estava “atrás de sua cabeça”.

Agora, sua congregação cultua a Deus nas casas e ele se reúne com os membros à distância. 

“O governo quer controlar tudo. Eles temem que, se alguém falar contra o governo, o povo se levante”, denunciou ele.

Conforme Anna Lee Stangl, chefe de defesa da CSW, organização cristã que defende a liberdade religiosa, nas igrejas católicas e protestantes, as ações de perseguição são semelhantes.

Restrições à duração, localização e frequência dos cultos; proibição de procissões; invasão de homens mascarados em igrejas; roubo ou destruição de objetos religiosos e infiltração de informantes nas igrejas.

A organização Portas Abertas, que incluiu a Nicarágua no 30º lugar em sua Lista Mundial de Observação de 2024, destaca que "a hostilidade para com os cristãos na Nicarágua continua a se intensificar, sendo aqueles que se manifestam contra o presidente Ortega e o seu governo vistos como agentes desestabilizadores".

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