Cristãos russos que se opõem à guerra na Ucrânia colocam em risco sua liberdade, segurança pessoal e até a custódia de seus filhos. A Anistia Internacional estima que 20.000 russos enfrentaram represálias por terem protestado contra o conflito.
Entre eles está o casal Zhanna e Sergey Kosiak, que fugiu da Rússia com seus dois filhos no início deste ano, temendo pela segurança de sua família.
Addie Offereins, repórter da Compassion do WORLD, conversou com o casal algumas semanas atrás e descobriu que o governo os perseguiu, assim como a outros membros de sua igreja, por se manifestarem contra a guerra.
Os Kosiaks agora esperam chegar aos Estados Unidos por meio do México.
Zhanna e Sergey estão reunidos com um pequeno grupo de russos ao redor de uma mesa de jantar de madeira em Tijuana, México, cantando canções de louvor na casa de um pastor mexicano, relata a repórter.
Quando o casal fugiu da Rússia no início deste ano, não sabiam se teriam um teto sobre suas cabeças, muito menos uma comunidade acolhedora.
Zhanna e Sergey se conheceram em 2010 em uma escola bíblica na Ucrânia. Sergey é russo e Zhanna é ucraniana. O casal se casou e se estabeleceu em uma cidade russa próxima à fronteira entre a Rússia e o Cazaquistão, onde vivem com seus dois filhos.
“Estou na Rússia há 14 anos”, diz Zhanna que fala pela família. Seu marido Sergey não fala muito inglês. Ela conta que há dois anos tudo mudou para a família de quatro pessoas.
Contrários à guerra
Quando a guerra começou, em fevereiro de 2022, o casal decidiu que Zhanna se manifestaria contrária ao conflito.
“Não posso ficar quieta porque muitos dos meus amigos e meus pais estão na Ucrânia. Preciso apoiá-los”, explica ela.
“Então decidimos que só eu postaria no YouTube ou no Facebook, e estávamos pensando que se algo acontecesse, talvez eles não levassem uma mãe de duas crianças”.
Pensando assim, Zhanna fez postagens no Facebook e vídeos no YouTube, explicando por que acreditava que a guerra era errada e descrevendo como ela estava devastando sua terra natal.
O pastor da igreja deles também se manifestou abertamente contra a guerra.
“Na Rússia, as igrejas não dizem nada sobre a guerra. Assim, em nossa cidade, apenas a nossa igreja tem uma posição anti-guerra”, relata Zhanna.
As crianças da igreja fizeram pulseiras, produtos de panificação ou pintaram quadros para arrecadar dinheiro em apoio à Ucrânia.
“Para nós, uma posição cristã é uma posição anti-guerra neste momento, e se você chamar as coisas pelos seus devidos nomes, que guerra é guerra, será perseguido em todos os lugares”, diz.
'Pecado matar irmão'
Os homens da igreja distribuíram folhetos se opondo ao papel da Rússia na guerra.
“Era um pecado diante de Deus matar um povo irmão”, diziam.
Por causa disso, a polícia os prendeu.
“Um deles foi mantido na delegacia por quase dois dias. Foi espancado e humilhado”, relata Zhanna.
As autoridades fizeram uma busca em sua casa e confiscou informações sobre os outros membros da igreja.
Zhanna disse que se eles descobrem que você postou algo, você vai para a prisão, e eles podem levar seus filhos para um abrigo do governo para crianças.
A maioria dos membros da igreja decidiu fugir em direção à fronteira dos Estados Unidos com o México e solicitar asilo.
“Nós, na Federação Russa, somos privados da oportunidade de nos proteger. Somos privados da oportunidade de expressar nossa posição cristã. Somos privados da oportunidade de falar a verdade”, explica Zhanna.
A família Koziak deixou a Rússia em fevereiro deste ano. As autoridades interrogaram Zhanna por duas horas na fronteira russa. No entanto, o casal conseguiu embarcar em um avião na Turquia com destino ao México.
“Estamos orando e pedindo a ajuda de Deus, porque só temos dinheiro para viver no México por dois meses. Oramos, oramos e oramos. Então, nossos pastores nos ligam e dizem: ‘Oh, há um lugar para sua família em Tijuana’."
Juvenal González é pastor de uma igreja em Tijuana, logo do outro lado da fronteira de San Diego, Califórnia. Sua igreja distribui café da manhã em um abrigo na fronteira, e ele e sua esposa também abriram sua casa.
“Decidimos há cerca de dois anos permitir que as pessoas ficassem em nossa casa, especialmente aquelas vindas do Afeganistão. Eles são cristãos e têm sido perseguidos por causa de suas crenças cristãs. E também pessoas da Rússia”, explicou o pastor Juvenal González.
Refúgio no México
O pastor e sua esposa estão atualmente acolhendo cinco famílias russas, algumas das quais também eram membros da igreja dos Kosiak na Rússia.
“A casa do pastor Juvenal é como um refúgio, e para nós, é um milagre de Deus”, afirma Zhanna.
Os Kosiaks esperam solicitar asilo nos Estados Unidos – um status concedido a indivíduos que temem perseguição por causa de sua raça, religião ou opinião política.
Colleen Putzel-Cavanaugh, uma analista associada de políticas no Migration Policy Institute, diz que pessoas nessa condição fazem um registro no aplicativo e, todos os dias, precisam solicitar um agendamento.
“E a forma como essas nomeações são atribuídas, há 1450 distribuídas por toda a fronteira, em oito portos de entrada”, explica.
O tempo médio de espera para um agendamento é de cerca de seis meses. Os Kosiaks estão esperando há mais de sete meses.
“Nós apenas esperamos, esperamos, esperamos, esperamos. Muitas pessoas só querem ir para os Estados Unidos. Elas não têm perseguição ou algo assim”, diz Zhanna, que reenvia sua solicitação de agendamento todos os dias.
Frequentemente, os Kosiaks e as outras famílias se reúnem ao redor da mesa de jantar com o pastor González e sua esposa para cantar e orar.
“Oramos pelas necessidades, pelas famílias e até mesmo por seus empregos e futuro aqui nos Estados Unidos”, diz o pastor.
Ele sabe que a espera pode ser desanimadora.
“Milhares de pessoas estão se inscrevendo todos os dias. Às vezes, eles dizem: ‘Desculpe, pastor, não conseguimos hoje.’ Eles se preocupam que, um dia, eu vou acordar de manhã e dizer: ‘Todo mundo precisa sair da minha casa.’ Eu digo: ‘Não, isso não vai acontecer. Enquanto Deus for fiel e nos fornecer, continuaremos a apoiá-los.’”
Os Kosiaks não têm certeza de quanto tempo mais ficarão esperando em Tijuana. Mas estão gratos pela família que encontraram nesse meio tempo.
“Entendemos que o tempo de Deus é o melhor... Então, todos os dias, oramos apenas por isso, para que a vontade de Deus se cumpra em nossas vidas”, diz Zhanna.