O ensino da Palavra de Deus e as orações de uma avó mudaram o rumo da vida de seu neto, que desistiu de fazer parte das guerrilhas colombianas para se tornar pastor em seu país.
Enrique Machado (nome fictício por razões de segurança) foi criado nas montanhas da Colômbia pela avó materna, que era surda, após o divórcio dos pais. Sem ter o que comer e com a falta de afeto em casa, ele alimentou o desejo de se tornar um rebelde armado.
Enquanto ia amadurecendo a ideia, Machado acompanhava a avó aos cultos. “Quando íamos à igreja ela me dizia: ‘Escuta o que o pastor está ensinando, e quando voltarmos para casa, repita para mim’. No momento que aprendi a ler, minha avó conseguiu uma Bíblia e pedia que eu lesse para ela. Pensei que fosse um exercício de leitura, mas tornou-se um discipulado”, disse à organização Portas Abertas.
Além disso, a avó era mulher de oração: “Eu me lembro que combinava com meus amigos de ir no dia seguinte para a guerrilha, mas parecia que, coincidentemente, minha avó orava: ‘Senhor, guarde o meu filho. Não permita que ele pegue em uma arma, mas que o sirva’”, testemunha. As orações da idosa penetrava no coração do neto e colocava temor nele.
Aos 19 anos, Machado rendeu-se a Jesus e decidiu não entrar para os grupos armados. “Com seis meses de conversão, comecei meu ministério como pregador. Eu era tão apaixonado que ia caminhando pelos povoados falando do Evangelho. Cheguei a caminhar 11 horas em apenas um dia para pregar em uma comunidade”, lembra.
Ele pastoreou a primeira igreja aos 21 anos e, aos 24, se casou. Quando foi cuidar de outra igreja no maior centro de paramilitares da Colômbia, Machado foi ameaçado de morte após restaurar o culto aos domingos, contrariando uma ordem de um líder rebelde.
Mesmo diante dos riscos, ele foi incentivado por sua esposa: “Eu prefiro ser viúva de um pastor, do que mulher de um homem covarde”. Após buscar direção de Deus, o casal decidiu permanecer no local.
Cartas ao inimigo
Diante das ameaças, Machado era movido por uma frase: “A arma que desarma é o amor”.
O pastor descobriu a data de aniversário do homem que pretendia matá-lo, um dos mais poderosos líderes paramilitares. Para expressar o amor de Deus, ele gastou o salário de um mês contratando músicos para fazer uma serenata e escreveu três cartas para o inimigo.
A primeira redigiu como se fosse o pai do aniversariante, a segunda como um irmão e a terceira como um filho. Para entrar no acampamento, reuniu-se ao médico do local às 3h da madrugada. Quando os músicos começaram a tocar, o oficial ascendeu a luz e o pastor iniciou a leitura das cartas. Os resultados da ousadia de Machado foram as lágrimas nos olhos do homem e o nascimento de uma amizade.
Essa coragem veio de ter obedecido a voz de Deus que o mandou simplesmente amar àquele guerrilheiro. “Deus me ordenou: apenas o ame, Enrique, pois a arma que desarma é o amor”.
Nesta época, os conflitos na Colômbia ficaram conhecidos mundialmente, e o fundador da Portas Abertas, o Irmão André, foi até o país. Lá, conheceu o trabalho do pastor Machado. Então, o líder colombiano recebeu acompanhamento, ajuda para terminar os estudos e ganhou uma moto para percorrer mais quilômetros levando as boas-novas de Cristo.
O Irmão André visitou o acampamento dos paramilitares para compartilhar o testemunho dele e fazer uma proposta de desarmamento. Em 2006, o convite se concretizou - 26 mil combatentes entregaram as armas e receberam o mesmo número de Bíblias.
“Eu tenho sido a pessoa que Deus tem usado para treinar mais pastores na distribuição de literatura cristã e acompanhamento”, diz Machado, que hoje coordena o trabalho da Portas Abertas na Colômbia.
Em visita ao Brasil, ele viajou por São Paulo e Araçatuba entre os dias 18 de janeiro e 2 de fevereiro. Na ocasião, compartilhou o testemunho em 18 igrejas e impactou mais de 3.400 pessoas com as histórias de cristãos que vivem no único país da América Latina que está na Lista Mundial da Perseguição 2020, ocupando a 41ª posição.