Na reserva Uaçá, em Oiapoque, a aldeia Kumenê hoje vive uma realidade diferente do que se imagina em uma tribo indígena.
“Somos evangélicos. A maioria da aldeia é crente”, disse o cacique Azarias Ioio Iaparrá. Ele fala da influência do homem branco e da chegada do protestantismo ao meio da selva amazônica.
Antes adeptos da cultura em que o Deus era a natureza, os índios da aldeia Kumenê passaram a acreditar em Jesus Cristo. A consolidação da religião protestante na tribo não é recente.
Segundo os indígenas, a 'catequização evangélica' começou em 1965 com um casal de missionários norte-americanos que investiu mais de uma década nesse processo. Eles teriam usado o argumento de que somente na crença em Jesus poderiam obter salvação divina.
“Os missionários explicaram pra gente que Jesus era o único salvador e que Deus fez o céu e a terra. Primeiro não acreditamos muito, mas depois começamos a aceita a palavra e fomos nos batizando nas águas”, contou o pastor indígena Florêncio Felício, de 55 anos, que desde os 25 anos segue o protestantismo. A aldeia tem apenas uma igreja evangélica, construída em alvenaria por missionários na década de 1990.
Após a aceitação do evangelho e do batismo nas águas algumas coisas começaram a mudar na aldeia. Uma das primeiras mudanças tratou do espaço da comunidade. Antes as casas dos índios eram afastadas umas das outras e então passaram a ser construídas em distâncias menores.
“Cada família tinha a própria aldeia, mas depois dos missionários passamos a viver mais próximos, como se fosse uma única família”, relatou o cacique Iaparrá.
Eles também aprenderam a falar português por influência dos missionários, mas, apesar disso, a comunicação nos cultos e em dialeto nativo, o palikur. Apenas as palavras ‘Jesus’, ‘Aleluia’ e ‘Amém’ não tem tradução para a língua indígena usada na aldeia.
O pastor indígena da tribo lembra que entre as práticas culturais combatidas pela religião protestante, três foram extintas: a circulação de pessoas nuas na aldeia, danças típicas, feitiçaria de pajés e o caxixi, bebida com teor alcoólico a base de mandioca fermentada com saliva. As tradições foram trocadas pelos pastores.
Zila Santos, de 47 anos, foi uma das índias que deixou de realizar os costumes tradicionais. “Eu não bebo e nem fumo mais. Isso melhorou a minha vida porque antes, quando os índios bebiam, tinham muitas brigas na aldeia. Depois da igreja, isso não aconteceu mais”, frisou.
Atualmente os índios participam de três cultos por semana com duração de três horas.
Diversas bandas participam dos louvores nos cultos, entra elas a 'Missão de Gideão', formada apenas por indígenas. A banda existe há 20 anos e tem mais de 100 músicas compostas ne língua nativa. Sofonias Hipólito, um dos membros da banda, fala do sonho de gravar um CD. “Temos um material autoral que precisamos colocar em um CD. Mas por causa da dificuldade financeira e distância, ainda não conseguirmos viajar”, disse.
com informações do G1