Irã prende 54 cristãos por ‘espionagem’ e os rotula como traidores

Os cristãos de língua persa não têm igrejas reconhecidas e são forçados a realizar reuniões fora do país.

Fonte: Guiame, com informações da Portas AbertasAtualizado: terça-feira, 2 de setembro de 2025 às 12:46
Os cristãos iranianos detidos recentemente foram acusados de espionagem. (Foto ilustrativa: Portas Abertas)
Os cristãos iranianos detidos recentemente foram acusados de espionagem. (Foto ilustrativa: Portas Abertas)

O Ministério da Inteligência do Irã acusou 54 cristãos de espionagem e atividades contra a segurança nacional após prendê-los nas últimas semanas.

Segundo a organização cristã Portas Abertas, as acusações foram divulgadas em rede nacional antes mesmo da realização de qualquer julgamento, o que gerou preocupações quanto ao respeito ao devido processo legal e ao direito dos cidadãos de se defenderem perante o tribunal.

A reportagem insinuou conexões entre cristãos evangélicos e serviços de inteligência estrangeiros, promovendo uma narrativa que retrata toda uma comunidade religiosa como uma ameaça à segurança nacional.

A mídia estatal exibiu vídeos com confissões forçadas e literatura cristã confiscada, incluindo Bíblias, alegando que os detidos foram treinados no exterior e fazem parte de uma rede evangélica ligada a serviços de inteligência estrangeiros.

Segundo o grupo britânico de defesa da liberdade religiosa Article18, essas acusações são infundadas e representam discurso de ódio contra a comunidade cristã evangélica iraniana.

Confissões forçadas

O diretor do grupo, Mansour Borji, criticou a falta de provas e o uso de confissões forçadas, além de destacar que os cristãos convertidos no Irã não têm igrejas reconhecidas e são obrigados a se reunir fora do país.

“A mensagem implícita é que todos os cristãos evangélicos estão sendo associados ao Mossad”, afirmou Borji. Ele destacou ainda que as acusações divulgadas pela televisão estatal não foram comprovadas judicialmente e que tais transmissões violam os direitos fundamentais dos acusados.

Borji condenou o uso de confissões forçadas na transmissão, ressaltando que esse tipo de conteúdo raramente é exibido pela televisão estatal.

Segundo ele, se as autoridades iranianas realmente estivessem seguras de suas alegações, permitiriam que uma delegação internacional tivesse acesso aos detidos para verificar os fatos de forma independente.

Borji também questionou por que os cristãos de língua persa não têm igrejas reconhecidas e são forçados a realizar reuniões fora do país.

Literatura cristã confiscada

Imagens extraídas do vídeo exibiam exemplares do Novo Testamento, literatura cristã e manuais dos Alcoólicos Anônimos, materiais que, segundo as autoridades, estavam sendo distribuídos de forma clandestina.

Essa abordagem se insere em um padrão mais amplo no qual práticas cristãs comuns – como oração, culto, batismo e posse de Bíblias – são tratadas como atividades criminosas.

Ao retratar os cristãos evangélicos como “traidores”, a transmissão estatal contribui para intensificar a hostilidade social contra essa comunidade religiosa dentro da sociedade iraniana, diz a PA.

Essa situação evidencia os desafios enfrentados pelos cristãos de língua persa no Irã – país que ocupa a 9ª posição na Lista Mundial de Perseguição – onde o culto público continua severamente restrito, obrigando muitos fiéis a se reunir em segredo para praticar sua fé.

Para a Portas Abertas, este é um apelo à igreja global para que esteja atenta, ore pela perseverança e proteção desses cristãos, e demonstre solidariedade com aqueles que são perseguidos simplesmente por viverem sua fé em Jesus.

 

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