A jornalista cristã Zhang Zhan, presa na China por reportar o início da pandemia no país comunista, foi internada no hospital recentemente, após recorrentes greves de fome.
Desde que foi condenada a 4 anos de prisão pelo Tribunal Popular do Distrito de Pudong, em Xangai, em dezembro de 2020, Zhang tem se alimentado muito pouco, em um gesto de protesto.
De acordo com a Radio Free Asia, a cristã de 39 anos foi internada no hospital da Prisão Feminina de Xangai por doenças digestivas devido à desnutrição, conforme relatos de ativistas dos direitos humanos.
“A saúde física de Zhang Zhan está muito debilitada porque ela se recusa a comer há muito tempo. Esta semi-greve de fome já dura há mais de dois anos. A situação não parece estar melhorando, mas ela ainda tem mais de oito meses de pena para cumprir", afirmou o ativista Wang Jianhong, que fundou o Zhang Zhan Concern Group.
Correndo risco de morte
Wang pediu a libertação da jornalista para salvar sua vida. “Se as autoridades não oferecerem tratamento humanitário e suplementos nutricionais, ela não sobreviverá à sentença”, ressaltou.
Li Dawei, outro ativista, relatou que conversou com a mãe de Zhang, que visitou a filha na prisão no mês passado. Ela disse que Zhang estava “quase pele e ossos”. Hoje, a cristã está pesando 37 quilos; a metade de seu peso normal.
“O principal problema são os distúrbios do sistema digestivo. Ela também tem baixa contagem de glóbulos brancos e marcadores tumorais excessivos”, observou Li, à Radio Free Asia.
Zhang chegou a ser alimentada à força por oficiais, ao fazer greve de fome na prisão. Ela também foi acorrentada e teve as mãos amarradas durante 24 horas por mais de três meses.
Lutando por liberdade
Em uma reunião anterior com seu advogado, a jornalista declarou que a greve de fome era uma forma dela lutar pela liberdade de maneira cristã.
Hoje, Zhang come a metade ou um terço da comida que recebe, a fim de evitar a alimentação forçada.
“Ela está a usar isto como uma forma de reagir e mostrar a sua inocência, e que o seu julgamento e detenção pelas autoridades foram injustos. Sua mentalidade é a de uma prisioneira política exibindo resistência”, explicou Li.
Para o ativista, é provável que Zhang não seja libertada ao fim do cumprimento de sua pena, que termina em maio de 2024.
“Há um ponto de interrogação sobre se ela estará ou não em liberdade após a sua libertação. Olhe para mim – não recuperei minha liberdade desde que fui libertado”, comentou Li.
E acrescentou: “Hoje em dia, sempre que saio, a polícia de segurança do Estado me segue onde quer que eu vá, e o meu passaporte [e outros documentos de viagem] foram todos declarados inválidos sem motivo”.
Detida por criticar o governo comunista
Zhan foi acusada de “provocar distúrbios da ordem pública”, uma expressão frequentemente usada para silenciar cidadãos chineses que se opõem ao Partido Comunista da China.
Em sua reportagem, Zhan criticou o governo de silenciar denunciantes sobre o coronavírus e alertando que o bloqueio de Wuhan havia sido decretado de maneira muito dura.
Num de seus vídeos publicados, Zhang afirmou: “A maneira do governo administrar esta cidade tem sido apenas intimidação e ameaças. Esta é realmente a tragédia deste país”.
Depois desse vídeo a jornalista parou de responder às mensagens e seus amigos souberam mais tarde que ela havia sido presa e levada de volta a Xangai, acusada de “espalhar mentiras e inventar informações falsas”.