Jornalista cristã presa na China envia carta à mãe doente: “Deus tem promessas para nós”

Zhang Zhan está presa desde 2020, por falar a verdade sobre o início da pandemia por Covid-19 na China.

Fonte: Guiame, com informações de China AidAtualizado: segunda-feira, 2 de janeiro de 2023 às 20:11
Zhang Zhan, gravando o último vídeo antes de ser presa. (Foto: Captura de tela/Vídeo Amnistia International)
Zhang Zhan, gravando o último vídeo antes de ser presa. (Foto: Captura de tela/Vídeo Amnistia International)

Zhang Zhan, a jornalista cristã de 39 anos que foi presa por revelar a verdade sobre o início da pandemia por Covid-19 na China, escreveu uma carta encorajadora e comovente para a mãe que enfrenta um câncer e está passando por tratamento de quimioterapia. 

“Mamãe, aos meus olhos a tua vida não tem sido fácil, mas tu és forte. Sei que a minha consolação não está à altura do que tens sofrido”, escreveu ao citar um texto bíblico. 

“Não esmagará a cana quebrada, nem apagará o pavio que fumega, até que faça vencedor o juízo”. (Mateus 12.20 / Versão Nova Almeida Atualizada). 

“Mãe, esta é a promessa de Deus para nós. Que a chama da vida em seu coração fique cada vez mais forte para que você possa escalar uma colina após a outra”, desejou. 

‘Deus acrescentou doçura à minha dor’

Ao pai, a jornalista pediu para que descanse, pois se ele também ficar doente as coisas podem ser ainda mais difíceis. Preocupada com a saúde dos dois, principalmente no aspecto espiritual, Zhan escreveu: “Espero que a mamãe tenha fé em Jesus como eu, pois Ele acrescentou muita doçura à minha dor”.

Além disso, ela disse que aprendeu a reagir com mais calma em determinadas situações e assumiu que o amor é o tema da vida de todo cristão.

Mesmo estando presa e, possivelmente, vivendo em péssimas condições, as palavras da jornalista são de esperança e gratidão. 

Ela revelou que, no dia de seu aniversário, os policiais chegaram a oferecer carne de porco assada e cheesecakes. Contou também que, em 1º de outubro, por ocasião do Dia Nacional da República Popular da China, os prisioneiros tiveram uma refeição mais variada. 

‘A beleza e a esperança de seu coração’

Ao escrever para a mãe sobre o amor, Zhan destacou que “as pessoas que enfrentam dificuldades ainda podem amar”. 

“Este é o tipo de amor que Deus exige de nós e eu estou trabalhando duro para cultivar isso. Vamos encorajar uns aos outros”, disse ao destacar que apesar do caminho difícil pelo qual está seguindo, está tentando ajudar a mãe sobre sua forma de obter alegria. 

Sobre o conteúdo da carta, o irmão da jornalista comentou ao China Aid: “Minha mãe gostou muito, pois minha irmã conseguiu expor a beleza e a esperança de seu coração dentro de cada centímetro daquele envelope. A carta dela, vinda da prisão, é suave e cheia de saudade”. 

Resposta da mãe 

A mãe de Zhan, a Sra. Wang Jianhong, é uma ativista de direitos humanos. Em resposta à carta da filha, ela disse: “Seu amor por sua mãe, pai e irmão está além das palavras e sua liberdade espiritual é mostrada no papel”.

Zhang Zhan foi detida em maio de 2020. Em agosto de 2021, quando o Guiame divulgou sobre a situação da jornalista chinesa, ela estava em prisão preventiva, fazendo greve de fome como forma de protesto.

Ela chegou a ser alimentada à força por oficiais e também foi acorrentada, tendo as mãos amarradas durante 24 horas por mais de três meses.

Mesmo nesta situação, a cristã chinesa declarou: “Vou continuar a lutar de forma cristã, mesmo que custe a minha vida. Vou fazer que eles [as autoridades chinesas] se arrependam, e eu continuarei a orar para que o grande amor de Deus me guie”.

Relembre alguns detalhes do caso

Zhan ficou gravemente desnutrida e teve a saúde muito afetada por ter feito greve de fome durante muitos meses. A jornalista chegou a ser hospitalizada para tratamento. 

Mesmo depois de decidir voltar a se alimentar, seu peso ainda não voltou ao normal, de acordo com informações do China Aid. 

Não há previsão para a liberdade de Zhan, que foi acusada por “provocar distúrbios da ordem pública”, uma expressão frequentemente usada para silenciar cidadãos chineses que se opõem ao Partido Comunista da China.

Em sua reportagem, Zhan criticou o governo de silenciar denunciantes sobre o vírus e alertando que o bloqueio de Wuhan havia sido decretado de maneira muito dura.

Num de seus vídeos publicados, Zhang afirmou: “A maneira do governo administrar esta cidade tem sido apenas intimidação e ameaças. Esta é realmente a tragédia deste país”.

Depois desse vídeo a jornalista parou de responder às mensagens e seus amigos souberam mais tarde que ela havia sido presa e levada de volta a Xangai, acusada de “espalhar mentiras e inventar informações falsas”.

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