Pawan e Srijana se casaram secretamente num cartório em Katmandu, no Nepal, no dia 8 de novembro de 2019, sem nenhum tipo de comemoração e sem a presença de familiares.
Na ocasião, os pais de Pawan estavam em contato com políticos extremistas hindus, fazendo planos para surpreender o casal. “Nós decidimos nos casar e nos mudar para o Nepal”, ele conta.
Depois de alguns meses, Srijana engravidou. “Tivemos que permanecer escondidos por um ano. Não havia ninguém por perto durante o nascimento do nosso filho. Passamos por muitas lutas, e Deus trouxe alegria em nossas vidas através de nosso filho”, lembra.
Tentativa de unir a família
Morar com os pais de Pawan parecia uma boa ideia, até eles serem expulsos por causa da fé em Jesus. Mas, viver um tempo com eles fez com que o irmão de Pawan também se convertesse.
Seus pais insistiram que, se fossem participar de cultos cristãos, também deveriam participar de rituais e comer alimentos oferecidos aos muitos deuses do hinduísmo. Eles se recusaram a comer tal comida e estavam se alimentando mal.
“Quando nos recusávamos a aceitar comida oferecida às divindades, meus pais nos insultavam, dizendo: 'O que esse Jesus está fazendo por vocês?’. E depois, as tensões pioraram quando meu irmão mais novo se converteu”, disse.
“Tanto minha mãe quanto meu pai me acusaram falsamente de feitiçaria para atrair meu irmão à minha fé. Eu apenas compartilhei o Evangelho com ele e nunca o forcei. Ele mesmo tomou a decisão”, explicou.
Pawan e Srijana foram expulsos e impedidos de levar o próprio filho. Com a ajuda de amigos, se refugiaram numa igreja de uma cidade próxima. “Depois de uma grande luta, conseguimos recuperar nosso filho e o trouxemos para ficar conosco”, disse Pawan.
Perseguição religiosa
O casal enfrentou a perseguição por parte dos hindus extremistas no Nepal, país onde o número de cristãos não pára de crescer nos últimos anos.
Quando os dois se conheceram, Srijana já era cristã. Embora fizesse parte de uma família de casta superior da classe sacerdotal hindu, ela se converteu ao cristianismo de forma secreta ainda na adolescência.
Antes de revelar sua nova fé aos pais, ela saiu de casa para estudar enfermagem. No dia que decidiu ligar para contar sobre sua nova crença, eles tiraram o nome dela da lista de bolsa de estudos, de forma que foi obrigada a interromper o curso e voltar para casa.
A família planejou um casamento forçado com um parente bem mais velho e queria enviá-los para outro país. “Seus pais a humilhavam em linguagem extremamente vulgar e, às vezes, também a espancavam”, revelou Pawan.
Como o casal se conheceu
Ele conta que o futuro noivo tinha pressa de casar. Na ocasião, Pawan estava trabalhando num hotel em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. Ele conheceu Srijana através de um grupo cristão no Facebook.
Ela enviou um pedido desesperado de ajuda através de uma mensagem, em novembro de 2018, quando faltavam apenas poucos dias para o seu casamento.
Sentindo que ela precisava ser resgatada, Pawan pediu ajuda a alguns amigos, e então voou para o Nepal. “Fui para a casa de Srijana e fugi para a Índia com ela”, ele contou.
“Eu não tinha outra opção. Eles até teriam matado ela e também a mim por aparecer em sua casa”, continuou. Um amigo mantinha Srijana em segurança entre as mulheres de sua família, em Darjeeling, estado de Bengala Ocidental, enquanto Pawan trabalhava para sobreviver.
Em outubro de 2019, ele recebeu uma mensagem de outro amigo informando que os pais de Srijana estavam procurando por eles e que pediram à polícia de Makhuanpur para abrir processos contra ele. Foi aí que decidiram se casar e mudar para o Nepal, no mês seguinte.
“Ainda estamos vivendo com medo”
Atualmente, o jovem casal e o bebê recebem ajuda da Igreja para cuidar do filho, Pawan está trabalhando com o que pode e planeja conseguir um emprego no exterior.
“Ainda estamos vivendo com medo. Se meus sogros souberem do nosso paradeiro, eles podem nos atacar a qualquer momento”, disse com preocupação.
Ao criminalizar as conversões, o Nepal violou a liberdade fundamental de religião ou crença garantida não apenas por sua constituição, mas também por vários convênios internacionais, de acordo com a Alliance Defending Freedom (ADF), que defende legalmente a liberdade religiosa.
O Nepal é signatário do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, um tratado internacional que protege explicitamente a liberdade de religião e expressão, porém, a prática está muito distante da teoria.