Dabrina Bet-Tamraz cresceu no Irã enfrentando perseguição por sua fé cristã desde a adolescência.
“Enfrentei a opressão desde muito cedo. Quando adolescente, notei que as pessoas no interior desprezavam os cristãos”, relatou a jovem de 37 anos, em entrevista ao Christian Network Europe.
“Por exemplo, os colegas de classe não queriam sentar perto de mim. Os professores às vezes me chamavam de porca, um animal impuro. Uma vez, quando bebi de um copo, uma professora o jogou fora, disse que o copo já estava tão sujo que lavar não adiantaria”.
Ainda menor de idade, Dabrina chegou a ser agredida. “Certa vez, um professor me deu um tapa na cara porque eu era cristã. Então gritei para ele: Deus te abençoe! Não sei por que disse isso, mas ajudou. Ele parou”.
Igreja assíria perseguida
Dabrina viu seu pai, um pastor de uma igreja assíria na capital Teerã, ser preso e vigiado pelo governo iraniano diversas vezes.
"A igreja assíria, à qual pertencemos, foi reconhecida pelo governo. Isso significa que temos permissão para realizar cultos. Mas também isso é tudo. Meu pai não tinha permissão para pregar em farsi, o idioma oficial iraniano. Era estritamente proibido evangelizar ou receber muçulmanos convertidos na comunidade da igreja”, explicou ela.
“Além disso, os serviços de inteligência vigiavam constantemente minha família. Meus pais foram levados por agentes de segurança e interrogados várias vezes. Na igreja, as autoridades colocaram espiões”.
Os cristãos no Irã são uma das comunidades mais perseguidas do mundo. As igrejas assíria, armênia e ortodoxa oriental tem permissão para funcionar, porém também enfrentam opressão do governo islâmico, assim como as igrejas protestantes.
O pastor Victor Bet-Tamraz e sua esposa, pais de Sabrina. (Foto: Article 18).
Pastores e membros das igrejas reconhecidas são pressionados a obedecerem às regras das autoridades. Aqueles que desobedecem são presos e sofrem ataques.
"O reconhecimento não significa que você pode fazer o que quiser. Os cristãos reconhecidos são forçados a agir como marionetes do estado. Minha família não obedecia cegamente ao governo. No Irã, o governo representa a maior ameaça aos cristãos”, afirmou Dabrina.
E acrescentou: “O governo também finge prender crentes porque representam uma ameaça à segurança nacional, não por causa de seu cristianismo. O governo faz os iranianos acreditarem que os cristãos estão a serviço de organizações sionistas que espionam para Israel e para os Estados Unidos. Isso é acreditado. Às vezes me perguntavam: ‘Dabrina, você é um cristão sionista?’".
Tentativas de homicídio
Em 2009, a igreja do pai da jovem foi fechada pelo governo iranino, por pregar em farsi e receber muçulmanos convertidos ao cristinaismo irem aos cultos.
Nessa época, Dabrina foi detida por policiais e obrigada a revelar informações sobre seu pai e a igreja, sob ameaças.
“Eles me levaram para uma prisão masculina e me obrigaram a dar informações sobre nossos pastores e atividades da igreja. Também tive que concordar com acusações criminais contra meu pai e outros pastores. Se eu não obedecesse, eles me ameaçavam com prisão, estupro ou até mesmo execução”, revelou.
“Naquele ano, também sofri dois ‘acidentes’ de carro. Um policial me avisou: ‘Você não sobreviverá ao próximo acidente’".
Em 2010 a cristã precisou escapar da perseguição da inteligência iraniana e fugiu para a Suíça.
Cultos secretos
Enquanto isso, seu pai continuou fazendo cultos secretos com ex-muçulmano em casa. Mas, em 2014, a igreja doméstica foi descoberta.
“Policiais invadiram nossa casa durante uma festa de Natal e prenderam os presentes. Eles realizaram uma busca e confiscaram todas as Bíblias e pertences pessoais, como telefones celulares e passaportes. Meu pai foi preso por supostamente ‘agir contra a segurança nacional ao estabelecer igrejas domésticas’", contou Dabrina.
Após 65 dias na solitária, o pastor foi libertado da prisão sob fiança. Em 2020, os pais da jovem fugiram do Irã.
Liberdade e justiça para os cristãos iranianos
Hoje, Sabrina é pastora e ativista de direitos humanos na Suíça, ajudando refugiados políticos do Irã.
"Na igreja e na sociedade, tento aumentar a conscientização sobre a situação dos cristãos iranianos. Por exemplo, já me dirigi duas vezes à ONU e uma vez visitei a Casa Branca para falar com o então presidente Donald Trump e o vice-presidente Mike Pence”, disse a pastora.
E concluiu: "Quero liberdade, justiça e tratamento humano para os cristãos iranianos. O coração de Deus anseia por justiça. A Bíblia até diz que Ele odeia a injustiça. Como crente, quero lutar por essa causa”.