Pastor evangelizou mais de 600 presos, enquanto cumpriu pena no sudeste da Ásia

Dok passou 13 anos preso, justamente porque estava evangelizando as pessoas de sua província, mas nem isso o impediu de continuar a falar de Jesus.

Fonte: Guiame, com informações da Portas AbertasAtualizado: quinta-feira, 3 de agosto de 2017 às 12:45
Dok* passou 13 anos preso e evangelizou detentos e policiais neste período. (Foto: backyardskeptics.com)
Dok* passou 13 anos preso e evangelizou detentos e policiais neste período. (Foto: backyardskeptics.com)

Os cristãos novos convertidos que abandonaram o budismo no sudeste asiático acabam sendo presos em circunstâncias muito difíceis. Dok*, que é natural do Laos ficou preso por 13 anos, após descobrirem que ele havia se convertido ao cristianismo.

Recentemente, uma equipe das Portas Abertas o visitou para saber como ele estava e descobriu que prisão não o enfraqueceu. Na verdade, ela o tornou um evangelista ainda mais eficiente. Cinco anos se passaram e suas experiências são tão vívidas, como se ele ainda estivesse preso ontem. Como era o sentimento de estar na prisão? O que o manteve fortalecido ali? E meia década após a prisão, o perigo de ser encarcerado novamente desapareceu, de fato?

Era junho de 1999. Em uma cela pequena, escura e fria, um homem de 50 anos de idade estava no chão em posição fetal. Ele estava tremendo, mas não sabia se era devido ao frio ou à dor que se espalhava pelo seu corpo.

Dok*, que agora tem 74 anos, foi o primeiro de sua província que se converteu ao cristianismo. Ele também foi o primeiro a ficar preso por 13 anos anos por pregar o evangelho, especialmente para a tribo Khmu, que faz parte de sua província.


Transformação

Mas antes de se converter e se tornar o líder de uma denominação com mais de 60 igrejas, ele já esteve nas forças armadas de seu país, ocupando a patente de major. Embora fosse o seu dever, defender os humildes, ele era abusivo em seu poder. Ele também agredia sua esposa e seus filhos, por causa de seus exageros com a bebida alcoólica.

"Meus filhos costumavam se esconder perto do banheiro toda vez que eu estava com raiva, porque eu usava uma faca para ameaçá-los", ele compartilhou.

Mas, mais tarde, em sua vida, Cristo o encontrou e ele se entregou a Jesus, reconhecendo-O como seu Senhor e Salvador pessoal.

A partir de então, tudo se tornou diferente para a Dok. Seu modo de falar, seus costumes, seus atos... tudo isso mudou. Seguindo o que a Bíblia diz, Dok proclamou a bondade do Senhor, evangelizando o povo de sua província. Muitas pessoas se aproximaram dele - alguns para confirmar que ele realmente mudou, mas muitos, Dok acredita que foram levados pelo Espírito Santo.

A cada dia que Dok compartilhava o Evangelho, mais e mais pessoas se aproximavam dele. Suas palavras se espalharam para toda a província, as autoridades ouviram e receberam um aviso sobre aquele novo evangelista. Ele pediu às pessoas que não se aproximassem mais em grande número ou, pelo menos, minimizassem o número de visitas a ele. No entanto, as pessoas não podiam mais ser contidas e chegavam em números cada vez maiores.

Até aquela manhã fatídica de junho, quando dois policiais chegaram à sua casa, quando ele foi preso, pouco sabia ele que seria a última vez que ele veria sua esposa e seus filhos por muitos meses.

Apesar da perseguição religiosa, missionários locais continuam a evangelizar nas aldeias de Laos. (Foto: Kids of Courage)


Vida na prisão

"Eu permaneci em um quarto escuro por cinco meses e 15 dias", Dok lembrou.

Ao contrário de outros prisioneiros, Dok foi colocado em um único quarto na prisão. Era vazio e apertado. Ele sentiu-se sem esperança.

"Minhas mãos e meus pés foram algemados. O local onde eu dormia, também era onde eu fazia minhas necessidades. Não havia nenhum banheiro. Eles só me deram uma sacola de plástico para usar como meu banheiro. A sala estava muito, muito escura. Eu não podia ver nada", lembrou ele com olhos já marejados e fortes gestos com as mãos.

Dok também contou que realizou "trabalhos forçados" na prisão (isto é, limpar o banheiro da polícia tanto na manhã quanto na noite, carregar e quebrar pedras pesadas do rio, comprar água e lenha para a família da polícia durante a noite).

O clima frio, a sala escura, o corpo exausto e exposto, sua idade e a pouca comida - apenas um punhado de arroz pegajoso por dia para sua refeição - não ajudavam muito. Algumas semanas na prisão já começaram a fazer com que Dok começasse a se sentir mal.

Apesar da agonia, isso não impediu Dok de se apegar a Deus e se fortalecer Nele; não o impediu de orar, não apenas pela sua própria situação, mas pelas outras pessoas que estavam com ele na prisão.

"Eu permaneci naquela pequena sala por um longo tempo e não tinha nada para fazer lá dentro, mas orei muito para que todos ali acreditassem em Jesus e o reconhecessem como seu salvador pessoal. Orei para que o povo de Laos também acreditasse, assim como os prisioneiros que estavam comigo, orei por eles todos os dias que eu permaneci naquela cela", contou.

Mas os dias de Dok deixariam de ser sobrios e atormentados. Suas orações foram ouvidas, e ele foi recompensado. Ele sabia que dias bons estavam à frente dele e o Senhor Jesus estava com ele.

"Uma vez, dormi com muita dor de cabeça e tive um sonho. No meu sonho, apareceram três pessoas que pareciam anjos e vestiam roupas muito brancas. Eles oraram por mim. Quando acordei, senti-me muito melhor. A dor desapareceu", disse Dok.

Poucos dias depois de sua dor de cabeça ter desaparecido, ele foi liberado daquela pequena cela escura e foi transferido para uma maior, onde havia mais de 70 prisioneiros. Naquela cela, havia outro cristão de outra província no Laos e mais dois cristãos de Hanói, no Vietnã. O cristão de outra província tornou-se seu amigo. Juntos, eles oraram por cada colega da cela que eles possuíam. Eles oraram para que os doentes fossem curados e que o resto pudesse receber a salvação em Cristo.

Dias depois disso, seu novo amigo foi libertado da prisão e, a história de Dok passou a se assemelhar ainda mais com a de José do Egito. O chefe da polícia viu que Dok se comportou muito bem e não fez nada de errado em sua cela, ele foi designado para cuidar de cada pessoa na prisão, incluindo os policiais.

Dias, meses e anos se passaram. Dok continuou a compartilhar evangelizar os prisioneiros. Ele finalmente foi libertado da prisão. O que deveria ser uma pena de 15 anos de prisão foi reduzida para 13 anos - fato pelo qual Dok sempre agradece ao Senhor.

"Não oficialmente, eu me tornei o líder de 600 prisioneiros naquela prisão, para os quais eu preguei sobre Jesus. No dia em que fui libertado, a polícia me chamou e me pediu para atribuir a cada um dos prisioneiros sua missão. E depois que eu designei as tarefas, a polícia me perguntou sobre Jesus. Eu compartilhei a mensagem do Evangelho com os policiais também", disse Dok.


Ainda em alerta

Poucos meses depois que Dok foi libertado da prisão em 2012, sua história ficou tão famosa que foi publicada no Youtube. Poucos dias depois do vídeo ser publicado, as autoridades vieram e confrontaram Dok sobre isso e advertiram que, se ele não retirasse a publicação desses sites, ele seria preso novamente.

"Isso me forçou a me afastar da minha família. Isso me obrigou a mudar de um lugar para outro. Eu tive que fugir e me esconder da polícia. Não posso mais servir a Deus na nossa província, porque eu tive que fugir de lá", compartilhou Dok. "Minha família ficou em nossa aldeia para continuar o ministério, enquanto eu estava vivia fugindo e me escondendo. Foi minha esposa que continuou a acompanhar as 62 igrejas de nosso ministério e sempre encorajou seus membros a seguirem firmes em sua fé".

Dok foi libertado da prisão no início de 2012, mas foi apenas no início deste ano que ele conseguiu voltar a viver com sua família sem se esconder.

"Este ano, 2017, não estou mais escondido. Eu já posso viver com minha família. Estou muito feliz e muito grato ao Senhor", celebrou.

Com o relacionamento que a Missão Portas Abertas estabeleceu com Dok, ele e sua família voluntariamente permitiram que a entrevista fosse publicada ocultando os nomes de sua esposa e filhos ou usando nomes fictícios. Fotos e vídeos que revelem suas características físicas e seu endereço também não podem ser publicados para evitar problemas futuros.

Embora Dok agora possa viver com sua família e se reunir com os outros cristãos ao ar livre, isso nunca é uma garantia de que o governo não está vigiando aqueles a quem chama de "traidores" do Laos.


Fortalecido

Apesar do que aconteceu com ele e do risco permanente de servir o Senhor em um país onde o cristianismo é detestado e considerado uma religião do Ocidente, não escondeu a glória da cidade na colina. Em vez disso, Dok tornou-se uma marca registrada e uma luz para o mundo.

"Deus mora em mim. Deus está acima de tudo na minha vida. Deus é bom e está acima de tudo. Ainda acredito em Deus porque sei que Jesus morreu pelos meus pecados, e mesmo que eu seja um pecador, Ele me aceitou e perdoou todos os meus pecados. Tenho pura alegria no Senhor".

Como o que Jesus diz em Mateus 5:14, um dos versos da Bíblia favorita de Dok, Dok é uma luz do mundo. Ele é uma cidade na colina que não pode ser escondida. Em sua batalha, Dok não estava sozinho e seu brilho chegou muito além do que podia ver.

Ele não sabia que havia outras pessoas interessadas e orando por ele além de sua família. Ele era apenas um novo crente quando foi preso. Foi só quando ele saiu que ele aprendeu sobre os muitos cristãos que se lembraram dele. "Não temos palavras para dizer, exceto obrigado", disse Jik *, esposa de Dok. "Quando meu marido estava na prisão, você orou por nós e nos ajudou. Você se lembrou de nós. "

Logo após Dok ter sido libertado da prisão em 2012, Open Doors o visitou e assegurou-lhe as orações de sua família mundial em Cristo. Por causa de sua condição na prisão, seus olhos sofreram. Através do seu apoio, a Open Doors foi capaz de estender a ajuda financeira à família Dok de tempos em tempos e também apoiou a operação do olho. Na foto são membros da equipe Open Doors orando com a esposa e filha de Dok em nossa visita recente.


*O nome 'Dok' é fictício e foi dado ao evangelista citado na matéria por questões de segurança dele, de sua família e seu ministério.

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