Advogados que defendem o pastor norte-americano Andrew Brunson, que está preso na Turquia, protestaram contra o tratamento de seu caso pelo tribunal, expressando "sérias preocupações" sobre as provas apresentadas pela promotoria, e se opondo à recusa em conceder a Brunson o direito à prisão domiciliar.
Brunson permaneceu preso nos últimos 19 meses, e depois de duas audiências no tribunal de Izmir agora aguarda uma terceira, agendada para 18 de julho. Ao final da segunda audiência, o advogado de Brunson, Ismail Cem Halavurt, criticou duramente o uso "estranho" de testemunhas secretas contra Brunson, dizendo que nenhuma evidência real contra o pastor foi apresentada, de acordo com o World Watch Monitor.
Halavurt disse à Deutsche Welle na segunda-feira: “Este caso não pode prosseguir apenas confiando no testemunho das testemunhas secretas.
"As evidências de apoio devem vir ao lado dessas alegações. Nossas decisões da Suprema Corte a respeito disso são muito claras: as declarações de testemunho não são suficientes para prolongar a detenção de uma pessoa presa. Apesar de lembrar o tribunal repetidamente, [a detenção de Brunson] está sendo continuada. Isto não é aceitável", destacou o advogado.
Testemunhas secretas incluíram uma testemunha que se apresentou como "Serhat", que acusou Brunson de conspirar para estabelecer um estado cristão curdo e contrabandear armas dos EUA para uma milícia na Síria através de sua "equipe missionária".
Brunson foi acusado de colaborar com os partidários de Fethullah Gülen, o clérigo muçulmano acusado pelo fracassado golpe de 2016 contra o presidente da Turquia, Erdogan. Acredita-se que Brunson tenha sido detido como moeda de barganha para garantir a extradição de Gülen dos EUA, onde ele agora está instalado.
"Não há uma única evidência para a acusação", disse Halavurt. Ele protestou contra a recusa em libertar Brunson, mas disse que as petições necessárias seriam apresentadas para garantir que "essa detenção ilegal seja encerrada".
"Vamos lutar para libertar Brunson", assegurou.
Brunson desafiou abertamente as alegações de Serhat, dizendo ao tribunal: "Esta testemunha não deu uma única evidência do que está falando. Ele disse: "Eu ouvi tudo isso de indivíduos de segunda ou terceira mão".
Ele acrescentou: "Eu estou ajudando refugiados, e eles dizem que eu estou ajudando o PKK [O Partido dos Trabalhadores do Curdistão]. Eu estou montando uma igreja, e eles dizem que eu estou sendo apoiado pela rede Gülen. Mas isso é apenas um testemunho verbal dessas testemunhas. Onde está a prova, a evidência?".
O juiz repreendeu Brunson e disse que o tribunal determinaria o que contava como evidência. Brunson também negou ter visto ou encontrado alguma das três primeiras testemunhas abertas apresentadas pela promotoria.
O tribunal decepcionou ainda mais a equipe de defesa de Brunson quando foi revelado que o painel judicial havia rejeitado sete das 10 testemunhas que haviam sido selecionadas para testemunhar em nome de Brunson na próxima audiência, porque as testemunhas compareceram na acusação contra Brunson, listadas como "suspeitas, devido à sua associação com o pastor".
Sandra Jolley, vice-presidente da Comissão de Liberdade Religiosa Internacional dos Estados Unidos (USCIRF) - que defendeu publicamente a libertação de Brunson - compareceu ao julgamento e depois disse aos repórteres: “Deixamos o tribunal com sérias preocupações. As 11 horas de procedimentos de hoje foram dominadas por conspirações selvagens, pressão psicológica e testemunhas secretas, mas nenhuma evidência real de que falar. É sobre isso que repousa a vida de um homem.
“A verdade é que este caso é parte de um declínio maior nas liberdades pessoais, incluindo a liberdade religiosa e os direitos humanos, que estamos testemunhando na Turquia nos últimos anos. Estamos tentando que o judiciário turco defenda a inocência do pastor Brunson", finalizou ela.