Adolescente cristã denuncia estupro e casamento forçado em tribunal do Paquistão

“Saba teve muita coragem ao expor seu caso diante de um juiz”, disse um ativista de direitos humanos.

Fonte: Guiame, com informações de Morning Star NewsAtualizado: quarta-feira, 8 de junho de 2022 às 13:58
Saba Nadeem Masih, de 15 anos. (Foto: Reprodução/Morning Star News)
Saba Nadeem Masih, de 15 anos. (Foto: Reprodução/Morning Star News)

Em seus 15 anos de idade, a menina cristã Saba Nadeem Masih, da cidade de Faisalabad, em Punjab, no Paquistão, foi sequestrada e estuprada por um muçulmano, que depois a submeteu ao casamento forçado. 

O fato foi divulgado na última segunda-feira (6) e chamou a atenção da comunidade, já que a maioria das meninas que enfrentam esse tipo de violência são pressionadas a fazer declarações falsas de que se casaram voluntariamente e que decidiram por vontade própria se converterem ao islã. 

Saba mostrou grande coragem ao denunciar o estuprador, acusando-o diante de um juiz, conforme observou o ativista e defensor dos direitos humanos, Lala Robin Daniel. 

Testemunho da vítima

“Saba apresentou graves traumas mentais e físicos quando os parentes do acusado a apresentaram à polícia em 31 de maio. E ela só foi resgatada por causa da pressão de líderes religiosos e ativistas de direitos humanos”, disse Daniel ao Morning Star News. Ele conta que um protesto foi realizado das 19hs até meia noite. 

Saba revelou ao magistrado de sua cidade que Muhammad Yasir Hussain, de 45 anos, a forçou a entrar em um riquixá, no dia 20 de maio, quando ela ia trabalhar com sua irmã mais velha. 

“Estávamos indo para o trabalho quando ele me agarrou e me levou à força para um riquixá, me afastando da minha irmã. Depois ele colocou algo na minha boca e eu fiquei inconsciente”, testemunhou. 

Protestos pela vida de Saba

Quando recuperou a consciência, dois dias depois, Saba foi informada de que estava na cidade de Gujrat. “Ele me estuprou por dois dias. Eu continuei chorando e implorei para ele me deixar falar com meus pais, mas ele não permitiu”, disse a garota.

Hussain a deixou sozinha, no local onde a manteve como refém. Enquanto isso, os protestos chamaram a atenção da polícia, que a princípio se mostrou lenta para agir. Depois, porém, prendeu pelo menos 20 parentes do estuprador. 

“Essa pressão resultou na recuperação de Saba, embora o principal acusado ainda esteja foragido”, disse Daniel ao explicar que Hussain deveria comparecer ao tribunal no dia 4 de junho, mas que não apareceu. 

Ele teria direito a pagar fiança para não ser preso, mas perdeu esse direito e a fiança foi cancelada. Agora a polícia está fazendo buscas para sua prisão. “O desfecho será importante porque vai expor esses predadores que exploram sexualmente as meninas menores de idade”, apontou o ativista. 

Sobre os casamentos islâmicos forçados

No Paquistão, assim como em alguns outros países muçulmanos, o estupro é uma forma violenta de obrigar meninas cristãs a se casarem com esses homens e também uma forma de punir as famílias que seguem a Cristo. 

Conforme Daniel explica, depois da violência sexual, eles preparam documentos falsos de casamento islâmico e conversão religiosa para buscar imunidade por seus crimes. 

“A declaração de Saba prova que os certificados islâmicos de Nikah [casamento] e de conversão, apresentados pelo acusado à polícia, são falsos. Ele agora será acusado de estupro estatutário e ofensas relacionadas. Além disso, ele será um exemplo para todos aqueles que ficam de olho nessas meninas para colocar em prática seus projetos malignos”, continuou. 

Sobre o estuprador

Hussain já foi casado três vezes, mas não tem filhos de suas esposas, segundo o pai de Saba, Nadeem Masih. 

Ele disse ao Morning Star News que a família de Hussain os difamou na região alegando que Saba teve um caso com seu filho e o persuadiu a fugir.

Infelizmente, há muitos homens como Hussain no Paquistão. “É muito triste e trágico que um grande número de adolescentes das comunidades minoritárias cristãs e hindus continuem a sofrer exploração sexual nas mãos desses predadores”, disse Azad Marshall, presidente da Igreja Anglicana do Paquistão.

“Poucas meninas são capazes de ter tanta coragem e compartilhar seu trauma em público”, disse Marshall que entrou com uma petição constitucional na Suprema Corte em janeiro de 2021, pedindo intervenção judicial na questão do estupro de crianças minoritárias que são forçadas a se casar e se converter ao islamismo. 

Sua petição e também um recurso subsequente, no entanto, foram recusados ​​com instruções para apresentar um caso específico. Ele já apresentou um caso, porém ainda não obteve uma resposta por parte das autoridades. 

‘Por ano, 1.000 meninas são forçadas ao casamento’

O estupro marca as vítimas por toda a vida e, no caso de meninas com menos de 10 anos, não se pode imaginar a dor e o horror que essas filhas de Deus sofreram nas mãos desses muçulmanos”, Marshall lamentou.

Pelo menos 1.000 meninas e mulheres de minorias religiosas, incluindo cristãs e hindus, são convertidas à força e se casam anualmente no Paquistão, de acordo com vários grupos de direitos humanos. 

Embora as autoridades do Paquistão tenham descartado tais relatórios como “lixo e sem fundamento”, ativistas afirmam que os números reais podem ser muito maiores, já que muitos casos não são relatados.

Conforme os relatórios, 70% das vítimas têm menos de 18 anos, 63% tem apenas 14 anos ou menos e somente 8% são maiores de idade. 

Vale lembrar que o Paquistão ocupa o 8ª lugar na Lista Mundial de Perseguição da Portas Abertas e está entre os países onde é mais difícil ser cristão. O país também teve o segundo maior número de cristãos mortos por sua fé e teve o quarto maior número de igrejas atacadas ou fechadas, em 2022. 

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