Mike Christian e sua esposa lideram uma congregação chamada Igreja Afegã-Americana. O ministério do casal está focado em grupos de crentes afegãos e tudo aconteceu para eles através de um “chamado de Deus”.
Quando Mike, que nasceu no Afeganistão, estava trabalhando com os militares durante a Guerra em seu país, ele se viu num lugar escuro e lutando após uma missão mortal. Ele teve uma série de sonhos com Jesus, que o chamou pelo nome para compartilhar o Evangelho com seu povo.
Depois de se juntar ao movimento clandestino de igrejas domésticas, Mike suportou intensa perseguição, várias prisões e tortura brutal por seus esforços de evangelismo antes de conseguir escapar do Afeganistão e seguir para os Estados Unidos.
O cenário mundial mostra que dezenas de milhares de afegãos, aspirantes do cristianismo, estão conhecendo o Evangelho por meio de aplicativos de mensagens, mídias sociais e comunicação online.
Mike adotou o nome “Mike Christian” após sua conversão. E isso serviu de sinal para outros afegãos de que poderiam falar com ele caso tivessem curiosidade sobre o cristianismo. Sua página é popular no Facebook, onde ele compartilha versículos da Bíblia e mensagens cristãs em dari — língua persa no Afeganistão.
Decepcionados com o islã
A recente tomada do Talibã em seu país fez com que muitos afegãos repensassem sua fé. “A geração mais jovem, e especialmente as mulheres, estão mais decepcionadas com o islã e mais abertas a aprender sobre o Deus do cristianismo”, disse Mike.
“Recebemos toneladas de mensagens de texto, e-mails, WhatsApp e ligações do Afeganistão”, compartilhou com o Christian Post. “Eles estão dizendo: Não gostamos do islã. Não queremos esse tipo de religião. Queremos nos tornar cristãos. Por favor, nos ajude. Mostre-nos como nos tornamos seguidores de Jesus”, revelou.
“Eu simplesmente continuo orando: O Senhor tem o poder de mudar o povo afegão, pode fazer esse povo juntar-se à sua Igreja, a buscá-lo, orar e se arrepender”, destacou.
Muitos afegãos desejam conhecer o Evangelho, mas são ameaçados pela lei Sharia. (Foto representativa: Reuters)
Afegãos estão repletos de dúvidas
O casal responde a centenas de perguntas por dia de afegãos curiosos, descrevendo as boas novas para eles e conectando novos crentes a igrejas domésticas próximas.
“Eles perguntam sobre o cristianismo: Por que você se tornou cristão? Qual é a razão pela qual você aceita Jesus? O que você pensa sobre o Islã?”, disse Mike que explica sobre os equívocos básicos que os muçulmanos têm sobre o Cristianismo.
“Eles querem saber porque os cristãos acreditam em três deuses [Pai, Filho e Espírito Santo] e resistem à ideia que Cristo morreria pela humanidade.
“Existem lacunas no entendimento deles, então será necessário que os cristãos estejam dispostos a conversar de maneira amigável”, disse Len que é PhD em estudos afegãos e trabalha com esse povo desde 1985.
“Queremos que eles encontrem cristãos verdadeiros que não vão discutir. Você não pode argumentar contra a fé de um muçulmano”, alertou. “Os crentes devem estar dispostos a ouvir, aprender e discutir, e saibam que no final do dia ‘É Deus quem vai mudar os corações’”, acrescentou Mike.
Mike e sua esposa fazem parte da rede global de cristãos com conexões afegãs, ajudando a criar recursos para que as igrejas sirvam melhor seus vizinhos afegãos, em todos os lugares do mundo.
“Estou comprometido com 30 mil afegãos agora”, disse Mike. “Não me lembro do Senhor me dizendo para parar. A missão do Senhor nunca pára, então vamos continuar”, garantiu.
‘Deus sussurrou em seu ouvido’
Mais de 66 mil afegãos chamam a Califórnia de casa, e mais evacuados serão reassentados por lá do que em qualquer outro estado americano. Quando a crise afegã começou, a Compassion Network, um grupo de mais de 50 pastores e igrejas ao redor de Fremont, começou a se reunir e se mobilizar.
Um dos pastores da rede é Sam Knottnerus. Apenas alguns anos atrás, ele participou de uma reunião regional organizada pela Igreja Presbiteriana Evangélica do Sudoeste do Pacífico.
Na reunião, eles começaram uma campanha de oração específica pelo povo pashtun, o maior grupo étnico do Afeganistão e um dos maiores grupos não alcançados do mundo.
Depois dessa reunião, Sam disse que o Senhor sussurrou em seu ouvido, dizendo que ele desempenharia um papel no serviço ao povo pashtun. Na época, ele era pastor em Pasadena.
“Eu disse à minha esposa: 'Só estou dizendo isso em voz alta, mas eu não sei o que significa. Eu não sei nada sobre eles”, contou.
Muçulmanos no Afeganistão desejam conhecer Jesus. (Imagem representativa/Commons)
Cumprindo o chamado de Deus
Poucos meses depois, uma igreja presbiteriana em Fremont pediu que ele se inscrevesse para se tornar o pastor principal. Ele descobriu que seu campus estava localizado em Centerville, a apenas alguns minutos de Little Kabul.
Sam começou a liderar a igreja CPC Fremont, em 2020, durante a pandemia, sem saber dos desafios futuros, já que sua região começou a receber e reassentar a maior parte dos refugiados afegãos nos EUA. Ele conta que foi um grande aprendizado.
Em pouco tempo, o pastor foi conectado à rede global de crentes que têm experiência em trabalhar com afegãos. Ele aprendeu sobre a cultura e costumes, além da forma como abordar afegãos vindos de experiências religiosas opressoras.
“Muitos estão traumatizados”, acrescentou Anthony Roberts, outro especialista cristão na cultura afegã, que usa um pseudônimo para escrever sobre a história do cristianismo no Afeganistão. “Mesmo que eles se sintam atraídos por Jesus e esta nova fé, ainda é difícil o engajamento para eles”, explicou.
‘Deus faz parte da cosmovisão dos afegãos’
Segundo os pastores, os afegãos fazem muitas perguntas sobre os valores americanos, como justiça, igualdade e liberdade — principalmente liberdade de religião.
Há também alguns casos de muçulmanos que ouvem as pregações, agradecem e, em seguida, convidam o pregador a seguir o islã. Eles são tratados com carinho e respeito por ter sua própria fé e desejar continuar com ela.
Mas, no geral, os muçulmanos parecem abertos para ouvir falar sobre outros livros sagrados, incluindo a Bíblia, porque eles acreditam que Deus é real e está presente no mundo.
“Deus faz parte da cosmovisão deles, então eles respeitam e entendem as pessoas que têm espaço para um Deus soberano. Eles nos ouvem e fazemos um ponto de conexão com isso”, disse Len.
O advogado Narges Mahdi, que faz parte da equipe que trabalha pelos afegãos, disse ainda: “Defenda aqueles que não são cristãos, aqueles com os quais você não concorda necessariamente. Mas, defenda porque a vida deles é importante. Isso é o que Jesus fez por nós, então é o que eu quero fazer pelas pessoas”, disse.
“Cristianismo é abrir a porta para alguém que não se parece com você. Isso é o que minha fé me ensinou. A maneira como você serve as pessoas é que vai destacar a diferença entre um muçulmano e um cristão”, concluiu.