Arqueólogos descobrem novas seções das muralhas que protegiam Jerusalém

Rodrigo Silva disse ao Guiame que o achado confirma a historicidade bíblica e amplia o conhecimento do que o texto descreve.

Fonte: Guiame, Cris BeloniAtualizado: quinta-feira, 15 de julho de 2021 às 13:15
Arqueólogos encontram novas partes da antiga muralha de Jerusalém. (Foto: Emmanuel Dunand/AFP)
Arqueólogos encontram novas partes da antiga muralha de Jerusalém. (Foto: Emmanuel Dunand/AFP)

Enquanto arqueólogos escavavam no Parque Nacional da Cidade de Davi,  na quarta-feira (14), em Jerusalém, descobriram os restos da muralha da cidade, da época do Primeiro Templo.

As seções perdidas da muralha de Jerusalém datam da Idade do Ferro, o que segundo eles, confirmam a existência de uma fortificação em torno da antiga cidade. 

Uma equipe liderada pelo arqueólogo israelense Filip Vukosavovic recuperou duas seções do muro de 14 e 3 metros de altura no local. Vukosavovic é membro do Centro de Pesquisa de Jerusalém Antiga e contou que essas novas seções se juntam às outras duas seções da parede restaurada na década de 1960.

Um espaço de 70 metros entre elas levou alguns pesquisadores a acreditar que, apesar do relato bíblico, a cidade de Jerusalém com seu Primeiro Templo não tinha uma única fortificação. 

Mas as novas descobertas permitiram aos pesquisadores reconstruir um traçado de parede de 200 metros de comprimento. Agora, os arqueólogos acreditam que esta nova descoberta conecta as seções anteriores e indica que esta era de fato a seção oriental da muralha ao redor da antiga Jerusalém.

Sobre a muralha

Segundo o arqueólogo, a muralha foi provavelmente construída no século 8 a.C. e serviu como "a principal linha defensiva no caso de um ataque a Jerusalém". 

A Cidade de Davi é um local de escavações intensivas e também de controvérsia, devido às tensões entre israelenses e palestinos sobre a soberania de Jerusalém Oriental. A região foi anexada e ocupada por Israel desde 1967.

O sítio arqueológico é administrado pela organização nacionalista Elad, cujo objetivo reconhecido é fortalecer a presença judaica nos bairros árabes de Jerusalém Oriental.

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Equipe recuperou duas seções do muro de 14 e 3 metros de altura no local da Cidade de Davi. (Foto: Emmanuel Dunand/AFP/CP)

Ocasião

A descoberta aconteceu poucos dias antes de Tisha BeAv — o dia do calendário judaico que lembra os eventos da destruição do Primeiro e Segundo Templo, entre outras tragédias ocorridas ao povo judeu. 

“A muralha da cidade protegeu Jerusalém de uma série de ataques durante o reinado dos reis de Judá, até a chegada dos babilônios que conseguiram rompê-la e conquistar a cidade”, disse o diretor da escavação.

“Os restos das ruínas podem ser vistos nas escavações arqueológicas. No entanto, nem tudo foi destruído e partes das muralhas, que protegeram a cidade por décadas, permanecem em pé até hoje”, acrescentou.

Em 2 Reis 25.10, a Bíblia descreve a conquista da cidade: “Todo o exército babilônio, que acompanhava Nebuzaradã derrubou os muros de Jerusalém”. Mas os arqueólogos dizem que aparentemente não derrubaram a parede na encosta leste, provavelmente por causa da subida íngreme do vale do Cédron.

Perto da parede, os arqueólogos encontraram um selo da Babilônia feito de pedra e representando uma figura diante de dois deuses da Babilônia. Eles também encontraram uma bula (impressão de selo de argila) com o nome pessoal da Judéia, “Tsafan”.

“O achado confirma a historicidade bíblica”

O arqueólogo Rodrigo Silva disse ao Guiame que está se aprofundando no tema do cativeiro judeu e a destruição de Jerusalém pelos babilônios. “Tem muita coisa importante nesse recorte histórico e os últimos achados arqueológicos têm me dado um quadro tão vivo da catástrofe, que é como se eu estivesse lendo pela primeira vez o relato bíblico”, destacou.

“O achado do templo pagão de Tel Motza a 7 km do templo de Jerusalém ampliou o quadro da apostasia denunciada pelos profetas e o estudo das cinzas encontradas nos muros, revelando um incêndio de mais de 500 graus Celsius deu uma boa noção da violência com que Nabucodonosor incendiou a cidade”, citou.

“Esses achados ocorreram ano passado. Agora o que chama a atenção é o anúncio da descoberta de um trecho do muro que protegia Jerusalém na época do ataque babilônico”, apontou.

Sobre a citação bíblica em 2 Reis 25.8-10, onde especifica que, além de derrubar todos os muros, Nebuzaradã incendiou o templo do Senhor, o palácio real, todas as casas de Jerusalém e todos os edifícios importantes, Rodrigo fez um comentário.

“No hebraico, literalmente, diz ‘derrubou os muros em todos os lados de Jerusalém’, e o achado parece contradizer a Bíblia ao mostrar um setor da muralha que não foi derrubado. Mas supor isso seria desconhecer o caráter hiperbólico de algumas passagens bíblicas”, ponderou.

“Quando digo ‘estava todo mundo lá em casa’ não estou dizendo que havia 7,7 bilhões de pessoas (o mundo inteiro) em minha casa. A Bíblia quer dizer que o ataque veio de todos os lados da cidade, onde os inimigos derrubaram trechos do muro para abrir passagem e entrar nela”, esclareceu.

“Não preciso entender que 100% dos muros caíram. Jesus também havia dito sobre o Templo, que ali não ficaria pedra sobre pedra que não fosse derrubada. Ora, a presença do muro das lamentações — um remanescente do muro de arrimo do templo que ainda ficou em pé — não torna mentirosa a profecia de Jesus”, continuou.

“Olhando, portanto, de forma contextualizada, tenho aqui mais um achado que confirma a historicidade bíblica e amplia o conhecimento daquilo que o texto descreve de maneira inspirada”, concluiu.

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