O ex-jogador brasileiro Marcos Tavares é, para muitos eslovenos, mais do que um ídolo do futebol. No país onde menos de 1% da população é evangélica, ele apresentou a mensagem de que “Jesus é o caminho”.
Hoje, assistente do diretor de esportes do NK Maribor, ele carrega um legado: de menino que dormia no chão na periferia de Porto Alegre ao maior artilheiro da história da Eslovênia.
“Eu e meus irmãos dormíamos no chão. Meu pai construiu uma cama de tijolo, onde colocou um colchão para dormir com a minha mãe. No começo, foi difícil. A minha mãe cozinhava bolacha de Maisena pela manhã e aquilo ficava para café, almoço e jantar. Quando eu estava com fome, minha mãe pegava um tomate, partia no meio, colocava sal e me dava para comer”, relatou em entrevista exclusiva ao Guiame.
Veja a reportagem completa:
“Minha infância foi muito difícil, mas eu sabia que era só um momento temporário, que Deus tinha coisas melhores para nossa vida.”
Tavares sempre almejou ser jogador de futebol e começou na base do Internacional e depois foi para o Grêmio. Sua grande virada, porém, foi quando vestiu pela primeira vez a camisa da Seleção Brasileira Sub-15.
“Foi um momento muito importante. Eu tinha quatorze anos. O treinador da Seleção Sub-15 veio ver um jogo do Grêmio contra o Juventude. Eu joguei bem, fiz gol, e ele gostou muito. Ele disse: ‘Esse jogador é parecido com o Adriano — canhoto, centroavante forte’. E ali eu fui chamado pela primeira vez”, conta.
“Eu não tinha passaporte, tive que correr para fazer. Foi um dos momentos mais felizes da minha vida. Foi ali que eu soube: eu vou ser jogador. De milhares que existem no Brasil, eu fui escolhido.”
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Propósito de Deus na Eslovênia
A carreira de Tavares o levou longe, passando pelo Kedah, na Malásia, e Apoel Nicosia, no Chipre — até chegar no NK Maribor, na Eslovênia, onde tudo mudaria.
“Eu fiz um contrato de seis meses com o Maribor. Nos primeiros três meses, eu não fiz nenhum gol. E atrás do estádio tem um monte chamado Calvário. Eu subia lá todos os dias às seis horas da manhã — são mais de 500 degraus. Eu subia, orava, chorava. E Deus falou comigo: ‘Você vai ficar na Eslovênia. Não porque você é bom e talentoso, mas porque Eu quero.’ Eu dizia: ‘Deus, eu joguei na Seleção Brasileira, joguei com Diego, Dani Alves, Ronaldinho. Como eu não consigo jogar aqui na Eslovênia?’ E Deus dizia: ‘Porque não é sobre você. É sobre o que Eu quero fazer’”, Tavares relata.
“Depois desse tempo, eu comecei a fazer gols — e graças a Deus, nunca mais parei.”
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A Eslovênia tinha saído havia poucos anos do comunismo quando Tavares chegou. “Eu fui o primeiro brasileiro a jogar aqui. Um estrangeiro, negro… Foi difícil no começo. Para eles, era tudo novo”, ele lembra.
Mas quando o jogador começou a se destacar pelos gols e vitórias, a cidade de Maribor o abraçou: “O país me aceitou de tal forma que dizem: ‘Você é mais esloveno que muitos eslovenos daqui’”.
A maior homenagem veio no dia da aposentadoria:
“No meu último jogo, eles colocaram meu nome na tribuna — ‘Tribuna Marcos Tavares’. Um menino que saiu da Alvorada, que não tinha cama, não tinha alimento, e hoje deixa um legado num país. Deus mudou minha vida.”
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Tavares lista os feitos com gratidão — não como troféus da vaidade, mas como sinais da graça de Deus.
“Eu sou o maior artilheiro da história do país. Sou o atacante que mais fez gols no campeonato esloveno. Fiz o gol mais rápido do campeonato — oito segundos. Sou o maior artilheiro das fases de classificação da Champions League na Europa. Das dezesseis vezes que o Maribor foi campeão, eu ganhei nove. Duas vezes jogamos a Champions League, e eu fiz gols importantes para classificarmos. Por isso eles fizeram aquela homenagem.”
Encontro com Deus
O testemunho de Tavares começa aos 13 anos — mas se concretiza aos 21.
“Aos treze anos, eu já ia nas reuniões dos Atletas de Cristo no Grêmio. Eu sabia que Jesus era o caminho. Mas eu dizia: ‘Eu quero jogar futebol, quero festa, quero outras coisas’. Eu fiz muita coisa errada. Festa, bebida, muitas mulheres.”
Então Deus o levou para o único lugar onde tudo isso era impossível: a Malásia, um país muçulmano.
“Deus me tirou daquele ambiente. Na Malásia é proibido beber. Não existe festa. No primeiro ano, Deus mandou um casal de evangélicos. Eu não queria ouvir. No segundo ano, Ele mandou outro casal. Eu já dizia: ‘Ok, vamos escutar’. No terceiro ano, tirou esse casal e mandou outro. Aí eu falei: ‘Tá, Deus… eu me rendo a Ti.”
Ele então chegou em casa após o treino e, junto com sua esposa, fez uma oração onde aceitou Jesus como seu Salvador.
Após a conversão, Tavares fez um voto com Deus: “Eu levei muita gente para a perdição, pro caminho errado. Mas a partir de hoje, todo mundo que eu encontrar, eu vou levar pro Senhor.”
Evangelismo no futebol: “Jesus é o Caminho”
A fé de Tavares começou a chamar atenção dentro e fora de campo.
“Eu orava ajoelhado antes de entrar nos jogos, lia a Bíblia, ungia o vestiário. Os eslovenos olhavam e pensavam: ‘O que ele está fazendo?’ Mas enquanto eu fazia gol, deixavam: ‘Deixa esse louco orar’.”
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A Eslovênia é considerada uma nação não alcançada porque há muito poucos cristãos evangélicos no país. De acordo com o Joshua Project, menos de 1% da população se identifica como evangélica, e muitas regiões não têm nenhuma igreja evangélica.
Além disso, a Eslovênia viveu décadas sob o regime comunista — período em que a prática religiosa foi desencorajada — e hoje está entre as sociedades mais secularizadas da Europa.
Em meio a isso, o jogador brasileiro perguntava a Deus: ‘Como posso evangelizar essa nação?’
“Deus respondeu: ‘Toda vez que fizer um gol, escreva João 14:6’. Eu respondi: ‘É um versículo muito grande. E Deus disse: ‘Então escreva: Jesus é o Caminho.’”
E assim começou:
“Eu levantava a camiseta depois dos gols. A TV filmava tudo. Eu ia para a torcida e mostrava: ‘Jesus é o Caminho’. Na rua, em vez de dizerem ‘Tavares!’, diziam: ‘Jesus é o Caminho!’.”
Até a torcida entrou na mensagem: “Um dia fizeram uma faixa: ‘Jack Daniels não é o caminho, mas Tavares é o caminho’. Eles queriam dizer que Jesus é o caminho — porque nunca me viram fazendo aquilo que os outros faziam.”
Hoje, essa frase é o nome da igreja que ele fundou na Eslovênia: “Jezus Je Pot”, que significa Jesus é o Caminho. Através de seu ministério, Tavares tem pregado Jesus a pessoas que não o conheciam e batizado dezenas de eslovenos.
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Depois de tudo o que já viveu e conquistou, Marcos Tavares tem um desejo que ainda guarda no coração: “O meu maior sonho é que, nesse estádio, em vez de falarem ‘Marcos Tavares’, falem ‘Jesus é o Caminho’. O meu sonho é fazer uma cruzada aqui na Eslovênia, e ver dez mil pessoas gritando o nome de Jesus Cristo, entregando a vida pra Ele.”
