Ativistas de direitos humanos dizem que o Talibã “parece pronto para cometer genocídio contra cristãos e minorias religiosas”. Mas, o grupo terrorista não chegou a esse ponto de uma hora para outra. Já havia uma grande perseguição à Igreja no país antes dos militantes tomarem o poder, em agosto de 2021.
Já não havia igrejas no Afeganistão. “Os cristãos já estavam no subsolo por causa das constantes ameaças às suas vidas, então eles [militantes do Talibã] não tinham nenhum prédio da igreja para explodir”, disse Nina Shea, diretora do Centro de Liberdade Religiosa do Instituto Hudson e ativista de direitos humanos há 30 anos.
Todos se lembram dos vídeos chocantes quando afegãos desesperados perseguiram um avião militar dos EUA em uma pista de Cabul, implorando para estar entre os evacuados. Pelo menos duas pessoas morreram após se agarrarem a um avião durante a decolagem.
Desde então, tem havido relatos sobre os perigos enfrentados por aqueles que ficaram para trás, especialmente os afegãos com laços com os militares dos EUA, o governo caído ou trabalhadores de grupos seculares ou religiosos sem fins lucrativos que ficaram para trás para continuar o trabalho humanitário.
“Pessoas caçadas, espancadas e ameaçadas de morte”
Todos os que fazem parte das minorias religiosas, sejam cristãos, hindus, sikhs, ahmadis ou muçulmanos xiitas, todos vivem com medo. “Estão todos fugindo. Estão todos escondidos”, revelou Nina.
“As pessoas estão sendo caçadas, espancadas e ameaçadas de morte se não traírem membros de suas famílias que são considerados apóstatas pelo Talibã. É impossível não discutir a liberdade religiosa durante esta crise”, ela acrescentou.
“Tudo o que o Talibã faz é sobre religião. A religião está envolvida quando enforcam pessoas por violarem sua abordagem à lei islâmica ou quando atacam mulheres e meninas que querem ir à escola. Para o Talibã, tudo isso está conectado”, continuou.
O problema é que as preocupações com a liberdade religiosa são muitas vezes abafadas durante debates sobre política, economia, mudança climática e outras questões em focos violentos em todo o mundo.
“Por exemplo, o norte da Nigéria, onde o Estado Islâmico e o Boko Haram continuam a massacrar agricultores cristãos, ou ainda Hong Kong, onde as ameaças do Partido Comunista estão aumentando contra líderes pró-democracia”, mencionou.
‘Realidade no Afeganistão é terrível’
Durante uma audiência no Senado dos EUA, nesta semana, Nina e outros ativistas de direitos humanos pediram ao secretário de Estado, Antony Blinken, que solicitasse aos diplomatas a consideração às questões de liberdade religiosa. Há milhares de pedidos de vistos de pessoas presas no Afeganistão.
Nina comentou que Blinken disse estar cumprindo uma promessa feita de “repudiar” a abordagem do governo anterior, ou seja, ele não insistirá mais em que as questões de liberdade religiosa recebam atenção especial.
“Os direitos humanos devem ser iguais, pois não há hierarquia que torne alguns direitos mais importantes do que outros”, ele disse durante uma coletiva de imprensa, entre outros argumentos.
Enquanto isso, a realidade no Afeganistão é terrível, tanto para cristãos como não-cristãos. A economia do país está entrando em colapso, levando a condições insustentáveis.
Relatórios das Nações Unidas afirmam que metade da população enfrenta fome aguda, enquanto um milhão de crianças correm o risco de morrer de desnutrição. Reportagens mostram pais vendendo seus filhos ou seus próprios rins, para obter dinheiro para comida.
Nos bastidores, as ameaças de vida ou morte contra minorias religiosas continuam sendo “um grande problema no Afeganistão”, reforçou Nina. “A escala do que está acontecendo é tão terrível que será impossível esconder por muito tempo. Esses problemas de liberdade religiosa são reais e a história nos mostra que não serão resolvidos tão cedo”, concluiu.