O pastor Tarcisio Freitas, que atualmente mora em Jerusalém, falou sobre a sociedade moderna em Israel e a importância das festividades bíblicas em uma live transmitida pelo Guiame nesta terça-feira (29).
Freitas, de 35 anos, é pastor da Igreja Bola de Neve desde de 2010. Morando atualmente com esposa e filhos em Israel, ele estuda hebraico pela Universidade Hebraica de Jerusalém e se prepara para o mestrado em Arqueologia pela Universidade da Terra Santa.
“É muito diferente viver em Israel e ouvir sobre Israel de outras nações”, disse Tarcisio, apontando Israel como uma nação formada por judeus religiosos e seculares, que celebra feriados judaicos ao mesmo tempo que tem um forte movimento LGBT.
“Quem vem com essa ideia romântica de que Israel está vivendo os tempos bíblicos, perde um pouco o romantismo”, observou.
O pastor brasileiro diz que a celebração das festas bíblicas faz parte da cultura israelense e são adotadas por toda a nação. Por outro lado, há celebrações, como a de Purim — que celebra o livramento dos judeus relatado no livro de Ester — que se tornaram secularizadas.
“Tem um aspecto secular, que não é tão bíblico como a gente imagina. Eu via nas ruas de Jerusalém muitas pessoas fantasiadas de malévola, bruxa, capetinha etc. Mas também há a parte religiosa, que falar do livramento de Deus ao povo de Israel”, explicou.
É preciso equilíbrio
Quando se trata da inserção da cultura judaica na igreja, Tarcisio alerta que é preciso evitar os dois extremos: a negação de Israel nos planos de Deus e a judaização de cristãos gentios.
“Hoje se você pega um táxi em Israel e diz que é cristão, o motorista entende que os cristãos apoiam Israel. A igreja tem se posicionado, a partir do renascimento da nação de Israel, de forma muito favorável e sionista”, observou o pastor.
“Mas historicamente, infelizmente temos uma mancha de antissemitismo na igreja”, acrescentou Tarcisio, citando os cruzados, os concílios romanos e o holocausto, promovido por uma Alemanha que havia sido palco da Reforma Protestante.
Tarcisio enfatiza que a igreja “não deve se judaizar”, mas sim entender sua raiz judaica, “que é bíblica, que é a prática da fé de Jesus, dos discípulos e da igreja primitiva”. “A cultura do povo de Israel é uma cultura bíblica. Até hoje a Torá é base da nação de Israel e de muitos outros países”, destacou.
Assista a live completa:
O pastor enfatiza que as festas são como sombras do que há de vir, conforme diz Colossenses 2:16-17: “Que ninguém julgue vocês por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados, porque tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir”.
Sendo assim, ele alerta que dizer que as festas são exclusivas ao judeus é uma ideia antissemita. “Eu não quero tirar isso de Israel, mas em Levítico 23:2, o Senhor diz ‘estas são minhas solenidades. E foi nesse ponto que Deus começou a me despertar sobre as festas. Deus diz que as festas pertencem a Ele, então elas não são exclusivas de Israel”.
Por outro lado, Tarcisio alerta para o extremo da judaização, “onde eu perco todo o critério bíblico e tudo o que acontece em Israel parece ser divino”. Ele acrescenta: “Quando você vai para essa idolatria para tudo o que envolve Israel e o judaísmo, eu acho que se torna um problema”.
Jesus revelado nas festas bíblicas
Tarcisio explica que há muitas festividades celebradas pelos judeus, como o Rosh Hashaná, que surgem da tradição rabínica. Mas ele chama a atenção para as festas fixas que foram estabelecidas pelo próprio Deus em Levíticos 23.
“Ele estabeleceu sete santas convocações e podemos ver Jesus nelas. As quatro primeiras se cumpriram na vinda Dele, e as três últimas falam da segunda vinda do Senhor”, explicou.
A primeira delas, a Páscoa (Pessach) , fala nitidamente sobre a morte e ressurreição de Jesus, que foi apresentado como cordeiro em favor dos homens. A segunda, a Festa dos Pães Asmos (Chag Matzot), aponta Jesus como o pão da vida. Em seguida, a Festa das Primícias (Yom HaBikurim) mostra Cristo como “o primogênito dentre os mortos”, explica o pastor.
Na quarta, em Pentecostes (Shavuot), é celebrada a entrega dos Dez Mandamentos no Monte Sinai, o que profetiza o derramar do Espírito Santo, explica o pastor. “Houve uma profecia em que o Senhor disse que o que estava escrito em pedras seria registrado no coração do homem. Essa é uma obra impossível de ser feita senão através do Espírito Santo”, disse Tarcisio.
As próximas festas serão cumpridas na volta de Cristo, de acordo com Tarcisio. A Festa das Trombetas (Yom Teruah) “profetiza o toque da trombeta e os acontecimentos finais”, explica. O Dia da Expiação (Yom Kippur) “vai se cumprir no dia do juízo final, onde Deus vai julgar as nações da terra”.
Já a Festa dos Tabernáculos (Sucot) “vai se cumprir na volta do Senhor no milênio, onde Jesus reina em Jerusalém e veremos o que diz João: o verbo se tornou carne e habitou entre nós”, segundo Tarcisio. “A palavra ‘habitou’ em grego significa ‘tabernaculou’, e nós teremos Jesus tabernaculando de novo reinando no milênio. E o cumprimento final, na Nova Jerusalém, onde a palavra diz que não haverá mais templo”.
Os cristãos podem a celebrar as festas?
A resposta de Tarcisio é categórica: “Quando eu vejo que Jesus é revelado em todas as festas, eu não veja a celebração como legalismo. Eu não me sinto preso à lei, no sentido ruim da palavra. Eu posso participar porque eu sou um filho adotivo e estas festas são do meu Pai”.
Ele esclarece que ninguém vai ser condenado ao inferno por não celebrar as festas ou guardar o sábado, mas explica: “Se a gente olha para essas coisas com o peso de legalismo, a gente não entendeu que Jesus é o Senhor do sábado, a gente não entendeu que o sábado foi feito por causa do homem, a gente não entendeu que as festas foram criadas com o propósito de revelar salvação”.
O pastor ainda destaca: “Não é que eu preciso celebrar para ser salvo, mas porque eu sou salvo eu tenho alegria em celebrar essas coisas”.