Com sede na Nigéria – um dos países mais perigosos do mundo para os seguidores de Jesus, segundo organizações internacionais como a Portas Abertas – a Igreja Cristã Redimida de Deus (RCCG) tem se expandido rapidamente no Reino Unido, desafiando barreiras culturais, geográficas e sociais.
Fundada em 1952 em Lagos por Josiah Olufemi Akindayomi, a denominação, chamada simplesmente de “Igreja Redimida”, surgiu em meio a um contexto de perseguição religiosa e adversidades.
Ainda hoje, a Nigéria figura entre as nações onde cristãos enfrentam violência, sequestros e ataques de grupos extremistas.
O desejo de Akindayomi por educação foi o catalisador que o levou à sua conversão ao Cristianismo na década de 1920; ele frequentou uma escola administrada pela Sociedade Missionária da Igreja e, posteriormente, começou a frequentar uma igreja anglicana local.
Criado na religião tradicional iorubá, uma das primeiras ações de Akindayomi ao declarar sua nova fé cristã foi mudar seu primeiro nome de Ogunribido – que significa “Ogum tem um lugar para ficar” – para um nome de origem bíblica: Josiah (Josias).
Em 1947, Akindayomi fundou a Banda de Oração Diária, um grupo de estudo bíblico e oração que se reunia em sua casa. O grupo doméstico cresceu tanto que precisava de um espaço maior para se reunir. Um membro do grupo doou uma propriedade que possuía para o grupo usar como local de encontro.
Reino Unido e expansão global
A igreja tem mantido uma visão espiritual recebida por seu líder com determinação. Desde então tem sido uma das denominações de crescimento mais rápido na África e, agora, no Reino Unido, onde conta com cerca de 870 filiais.
Membros da Igreja Cristã Redimida de Deus posam em frente a uma das filiais da denominação em Birmingham, no Reino Unido. (Foto: RCCG)
A primeira igreja RCCG no Reino Unido foi formada em 1988 por quatro estudantes nigerianos que iniciaram uma comunidade em Islington.
Guiada por uma visão ousada – ter uma igreja a, no máximo, cinco minutos de caminhada ou de carro de cada residência no mundo – a Igreja Redimida tem investido fortemente na expansão global.
“Você não consegue caminhar muito em Londres ou Birmingham sem se deparar com o logotipo da águia da igreja, seja em um outdoor, na vitrine de uma loja ou na lateral de um ônibus”, diz George Luke, que escreveu sobre a expansão da denominação, como celebração do Mês da História Negra.
Segundo Luke, no Reino Unido, a estratégia de aproximar a igreja das comunidades tem produzido resultados impressionantes: a denominação é hoje considerada a igreja que mais cresce no país.
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A segunda edição do relatório Estatísticas de Igrejas do Reino Unido da Faith Survey (publicado em 2014, mas abrangendo o período de 2010 a 2020), a RCCG plantou 296 novas igrejas no Reino Unido – incluindo Inglaterra e Irlanda.
A expansão da Igreja Redimida – em um período de cinco anos – é o maior número para qualquer denominação.
Sua presença está se multiplicando em diferentes regiões britânicas por meio da plantação de novas congregações e da aquisição de propriedades, muitas delas anteriormente pertencentes a outros ministérios.
Ajuda à vizinhança
Segundo Luke, os domingos de manhã deixam o entorno da igreja caótico, pela quantidade de carros e pessoas se aproximando dos templos. Mas, ele diz, ter uma igreja Redimida como vizinha provou ter mais prós do que contras, já que ela contribui positivamente para as comunidades nas quais estabelece filiais.
“No Natal, uma cesta cheia de guloseimas é depositada na porta de todas as nossas casas, com um cartão dentro convidando-nos para os cultos de Natal da igreja”, conta.
Membros da Igreja Cristã Redimida de Deus distribuem alimentos a pessoas em situação de vulnerabilidade durante uma ação comunitária em Londres. (Foto: RCCG)
“A igreja abriu uma creche e um clube extracurricular: um serviço inestimável para os pais locais – mães solteiras em particular – que precisavam de ajuda com os cuidados infantis”.
Exemplos disso, ele diz, podem ser vistos em qualquer lugar onde você encontre uma igreja RCCG.
“Há a Jesus House no norte de Londres, liderada pelo pastor Agu Irukwu (que estampou a capa da Premier Christianity no início deste ano) com sua Iniciativa de Apoio ao Custo de Vida e sua participação na campanha Boas-Vindas Calorosas, abrindo suas portas para oferecer um espaço acolhedor para os membros de sua comunidade”, exemplifica.
“Na Escócia, a Equipe de Bem-Estar do Tabernáculo de Edimburgo da RCCG trabalha em parceria com a instituição de caridade Bethany Christian Trust para oferecer ajuda prática a pessoas em situação de rua”, diz.
Ele relata ainda que, em Cardiff, a igreja Garden of the Lord da RCCG organiza regularmente concertos, refeições e outros eventos de evangelização, e até mesmo opera um ônibus como parte de seu programa de evangelização.
Do outro lado do Mar da Irlanda, a RCCG Irlanda está ajudando a combater o tráfico sexual e a oferecer apoio prático a mulheres e crianças vulneráveis por meio do Projeto de Extensão Holística Hephzibah na Europa (HHOPE).
“A RCCG dá grande ênfase ao trabalho de cuidar e orar por nossos vizinhos e construir uma comunidade desde o nível local até o nacional e internacional”, afirma a Dra. Nicola Brady, Secretária-Geral das Igrejas Unidas na Grã-Bretanha e Irlanda (CTBI), da qual a RCCG é membro.
Desafios e missões
O crescimento, porém, não acontece sem desafios. O estilo de culto vibrante e espontâneo típico das igrejas africanas precisa se adaptar ao contexto britânico, onde a cultura religiosa tende a ser mais contida e pontual.
Além disso, a Igreja Redimina busca romper barreiras culturais para alcançar públicos além da comunidade africana e dialogar com a sociedade local, inclusive estabelecendo parcerias com outras denominações, como a Igreja Anglicana.
Momento de louvor e adoração durante um dos grandes eventos da Igreja Cristã Redimida de Deus em Londres. (Foto: RCCG)
A rápida expansão da RCCG reflete um fenômeno mais amplo: a “reversão missionária”, em que igrejas do hemisfério sul estão revitalizando a fé cristã em países europeus marcados pela secularização.
Como afirmou o pastor E.A. Adeboye, atual líder global da denominação, em uma entrevista que marcou os 25 anos do Festival da Vida (FoL, na sigla em inglês) – um encontro de oração que se estende por toda a noite, já reuniu cerca de 40 mil pessoas e foi realizado no enorme centro ExCeL, em Londres:
“O cristianismo chegou até nós na África, vindo da Grã-Bretanha. Agora parece que estamos tendo uma forma inversa de missão.”
O pastor E.A. Adeboye, atual líder global da Igreja Cristã Redimida de Deus, ministra durante um dos grandes eventos da denominação no Reino Unido. (Foto: RCCG)
Mesmo em meio a um cenário hostil de perseguição no país onde foi fundada, a Igreja dos Redimidos não apenas sobreviveu, como também se transformou em uma das maiores redes cristãs do mundo, com presença em mais de 190 países.
Ao levar sua mensagem e fervor espiritual ao Reino Unido, a denominação nigeriana não apenas amplia sua influência global, mas também oferece um testemunho de fé resiliente – nascida em meio à perseguição e agora alcançando novos territórios.