Nosso país está em luto pela tragédia em Santa Maria/RS. Por enquanto, foram contabilizados 235 mortos. Uma cidade em prantos, famílias desnorteadas pela dor, e o luto se instala numa dimensão avassaladora em muitos. Familiares e amigos choram seus queridos. Até os que ajudam com o cumprimento de seu trabalho, como coveiros e taxistas, encontram-se abalados e buscam ajuda no núcleo psicológico de emergência que foi criado após o incidente. Um enorme sofrimento sobreveio de uma só vez a muitos compatriotas.
O rabino Abraham Heschel dizia que “nossa compreensão da profundidade do sofrimento é comparável ao que é capaz de perceber uma mariposa voando sobre o Grand Canyon”. Será isso mesmo? O que compreendemos a respeito do sofrimento? Como o amor cristão nos conduz em tempos de profunda dor? A fé cristã nos ensina a respeito, nos educa a alma?
Lembro-me da pergunta de Jesus a seus discípulos: “Podem vocês beber o cálice que eu vou beber?’ (Mt.20.22). Me parece que Jesus, ao reconhecer nossa falta de noção, nos faz essa pergunta-convite, a fim de que prestemos atenção para o quanto nossos desejos adoecidos tomam lugar da realidade. Nossa insensibilidade nos faz pedir coisas inadequadas, sem perceber o que acontece ao nosso redor. Nem percebemos que na busca de nosso conforto, de reconhecimentos, ignoramos o que se passa com nosso próximo. O que de fato está acontecendo? Somos atraídos por ilusões, apegados a muletas emocionais (onde nos apoiamos em coisas como dinheiro, suposto poder, suposto saber, etc.).
A pergunta de Jesus ecoa, chegando até nós hoje. E aí aproveito o comentário de Henri Nouwen a respeito desse texto: “Beber o cálice não é simplesmente nos adaptar a uma situação ruim ou tentar usá-la o melhor que pudermos. É uma forma de viver com esperança, coragem e confiança. Isso significa ficar de pé com a cabeça erguida, solidamente enraizado no conhecimento de quem somos, encarar a realidade que nos rodeia e responder a ela com nossos corações”.

Vivemos assustados, tentando nos proteger continuamente, correndo atrás do vento, nos apegando a desejos infantis. A dor pouco nos comove, ou, nos perturba intensamente, porém, apenas por alguns instantes e logo nos dispersamos nos muitos afazeres e estímulos que nos cercam.
A necessidade imperiosa de nos distrairmos, fugirmos do tédio, da tristeza, corrermos para o divertimento e prazeres, não termos contato com a dura realidade de muitos que nos cercam denúncia que nossas lágrimas acabam sendo somente por nós mesmos.
“Não deem espaço para o ego à custa da sua alma” (I Pe 2.11 – “A Mensagem”).