O acidente do então candidato à presidência da república Eduardo Campos chocou todo o país. Logo em seguida, a declaração de Marina Silva ao dizer que foi 'providência divina' ela não estar no avião deu abertura à volta do debate sobre o uso da fé na política.
Especialista em Novo Tempo, e mestrando em Ciências da Religião e pastor, Magno Paganelli concedeu entrevista exclusiva ao GUIAME para falar sobre o caso e comentar sobre a laicidade do Estado e religião. Confira:
GUIAME: Marina Silva sobre o acidente que matou Eduardo Campos: "Foi providência divina, eu, Renata, Miguel e [Rodrigo] Molina, não estarmos naquele avião". Que peso tem uma declaração assim na política?
MP: Penso que hoje, para a Marina, que sabidamente é evangélica, pouco ou nenhum peso. A declaração foi feita no calor das emoções da trágica notícia e ela estava diretamente ligada ao acidente. Poderia ter sido uma de suas vítimas. É natural que celebre o livramento, qualquer um exclamaria algo como "me safei por um triz". Se a oposição aproveitar isso para denegrir a sua imagem será uma covardia.
GUIAME: Acredita que essa declaração pode ajudar a campanha de Marina Silva com eleitores cristãos e atrapalhar com os não cristãos?
MP: Ajuda com cristãos mais aferrados a fé e menos politizados. Mas não penso que atrapalhe com não cristãos. Haja vista a primeira pesquisa, ainda durante os preparativos para o funeral, apontar que os possíveis eleitores de Marina estão entre jovens cultos e bens de vida.
GUIAME: Apesar dessa declaração, Marina Silva não parece usar o discurso religioso e o evangeliscalismo como arma de campanha eleitoral. Concorda com a afirmação e com a postura da candidata?
MP: Concordo se considerada que foi dita "no susto", no calor das emoções, mas não concordaria se ficasse repetindo jargões "evangeliqueses" a torto e a direito. Candidatos a cargos públicos, embora sempre representem algum setor, devem procurar o bem para o maior espectro da população. Embora todos saibamos que Marina é evangélica, ela não é "a candidata" dos evangélicos. Se ficar falando só com um segmento, irremediavelmente perderá outros potenciais elpotência Ela sabe disso.
GUIAME: O Estado é laico, mas o político não. Como fica essa relação? É possível um ponto de equilíbrio?
MP: A laicidade do Estado é uma miragem, um ponto no horizonte. O equilíbrio é o que se busca o tempo todo na democracia, mas nem políticos ateus são laicos, uma vez que acreditam ou na ciência, ou no próprio Estado como poder maior para resolver os problemas sociais. O equilíbrio é possível no diálogo, na tolerância, na alteridade, e isso passa pela educação, educação pessoal, educação para o fazer público e político, coisa que não faz parte da cultura de nossa classe política.
GUIAME: A Igreja exerce pepel ativo na sociedade. Que benefícios tem a população com uma aliança entre Igreja e Estado em questões sociais?
MP: A Igreja brasileira, como um todo, faz pouco, perto do que poderia fazer. Mas o pouco que faz é importante para ela e para o Estado. Ambos teriam muito a ganhar numa relação aplicada a área social e a população seria a maior beneficiada. Há questões sociais complexas no nosso tempo, como a solidão, por exemplo, em que o Estado tem esboçado ações pontuais, mas a Igreja poderia ir mais longe e mais fundo no alcance de pessoas com esse problema. Há outros, como ações focadas na infância, na recuperação de dependentes, onde a Igreja já faz um bom trabalho. Seria preciso maior conscientização de uma parcela maior na própria Igreja para que tivéssemos um capital humano disposto a envolver-se com isso, pois o Governo, em qualquer instância, tem interesse em ter parceiros como as igrejas na ação social.
por Juliana Simioni
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