Nesta segunda-feira (16), em feriado nacional, os americanos relembram o legado do pastor batista que lutou com a segregação racial nos Estados Unidos. O discurso “Eu tenho um sonho” de Martin Luther King ainda ressoa na história da luta por direitos civis em todo o mundo.
Em 28 de agosto de 1963, mais de 200 mil pessoas negras e brancas se reuniram em frente ao Lincoln Memorial, em Washington, para pedir igualdade para todos os cidadãos em um EUA segregado pelo racismo.
Martin Luther King Junior nasceu em 15 de janeiro de 1929, em Atlanta, na Geórgia, em uma família de pregadores batistas. Seus pais tinham formação universitária e o pai de King era pastor da prestigiada Igreja Batista Ebenezer, em Atlanta.
De família de classe média, Martin Luther cresceu na Auburn Avenue, conhecida como “Black Wall Street”, região das maiores empresas e igrejas negras.
Mesmo recebendo uma boa educação e o amor de sua família, King experimentou a discriminação ainda na infância, no Sul americano segregado.
Por volta dos 6 anos, Martin ouviu um seus colegas brancos afirmar que seus pais não permitiam mais que ele brincasse com King, porque agora as crianças brancas e negras frequentavam escolas separadas.
Em 1944, aos 15 anos, Martin ingressou na prestigiada Morehouse College, como um aluno promissor. Antes de iniciar a faculdade, o jovem passou as férias de verão em uma fazenda de tabaco em Connecticut, onde conheceu uma realidade bem diferente do Sul segregado.
Ele ficou impressionado como negros e brancos conviviam pacificamente no Norte dos EUA. “Negros e brancos vão [para] a mesma igreja. Nunca [pensei] que uma pessoa da minha raça pudesse comer em qualquer lugar”, escreveu eles em uma carta aos pais.
Essa experiência no Norte aumentou a indignação de Martin Luther King com a segregação racial nos estados sulistas.
Seguindo o ministério
Martin Luther King sendo preso em Montgomery, Alabama, em 1958. (Foto: Domínio Público/Creative Commons)
O jovem cristão estudou Medicina e Direito, mas em seu último ano na universidade, decidiu seguir o ministério e ingressou no Seminário Teológico Crozer em Chester, na Pensilvânia.
Na universidade e no seminário, Martin teve contato com ativistas cristãos e teólogos protestantes contemporâneos, que o estimularam a agir contra a injustiça racial.
Logo depois, ele fez doutorado na Universidade de Boston, onde estudou o relacionamento do homem com Deus e formou uma base sólida para sua teologia e ética cristã contra o racismo.
Mais tarde, já casado com Coretta Scott e pastor da Igreja Batista da Avenida Dexter em Montgomery, Luther King usou sua crença em que todos os homens eram iguais perante Deus para fundar a Conferência de Liderança Cristã do Sul (SCLC).
Herança teológica na luta pelos direitos civis
Através da organização, o pastor batista iniciou o movimento pela justiça racial, dando palestras por todo o país e discutindo questões raciais com líderes cristãos.
Inspirado na filosofia da resistência não violenta de Gandhi, Martin apoiou e promoveu protestos contra o racismo, chegando a ser preso diversas vezes.
Em Montgomery, o pastor liderou o movimento que lutou contra a segregação racial no sistema de transporte público da cidade, após Rosa Parks, uma mulher afro-americana, se recusar a ceder seu assento no ônibus a um passageiro branco, iniciando uma onda de protestos.
Com uma ótima retórica e personalidade inspiradora, Martin Luther King se levantou como um líder do movimento pelos direitos civis nos EUA.
“Não temos alternativa a não ser protestar. Por muitos anos, mostramos uma paciência incrível. Às vezes, demos a nossos irmãos brancos a sensação de que gostamos da maneira como fomos tratados. Mas viemos aqui esta noite para sermos salvos dessa paciência que nos torna pacientes com qualquer coisa menos que liberdade e justiça”, declarou o ativista em um de seus primeiros discursos como líder.
Após lutar durante as décadas de 1950 e 1960, a liderança de King provocou uma onda de manifestações com efeito na opinião pública. Como resultado, em 1964 a Lei dos Direitos Civis foi aprovada, proibindo a segregação e a discriminação em espaços públicos e no ambiente de trabalho.
Naquele mesmo ano, Martin ganhou o Prêmio Nobel da Paz, em Oslo. “Aceito este prêmio hoje com uma fé inabalável na América e uma fé audaciosa no futuro da humanidade”, discursou ele na ocasião.
Martin Luther King e sua esposa na ONU. (Foto: Flickr/United Nations Photo).
O último sermão
Enfrentando ameaças de morte devido ao seu ativismo, o líder revelou que Deus renovava suas forças para continuar seu propósito. “Estou francamente cansado de marchar. Estou cansado de ir para a cadeia”, confessou Luther, em 1968.
E continuou: “Vivendo todos os dias sob a ameaça de morte, sinto-me desanimado de vez em quando e sinto que meu trabalho é em vão, mas então o Espírito Santo revive minha alma novamente”.
O pastor parece ter previsto sua morte precoce em sua última pregação. Na noite anterior ao seu assassinato, Luther King pregou o sermão “Eu estive no topo da montanha", no Mason Temple, a sede da Igreja de Deus em Cristo, em Memphis.
“Como qualquer pessoa, eu gostaria de viver uma vida longa. A longevidade tem seu lugar. Mas não estou preocupado com isso agora. Eu só quero fazer a vontade de Deus”, afirmou ele.
“E Ele me permitiu subir a montanha. E eu examinei. E eu vi a terra prometida. Posso não chegar lá com você. Mas eu quero que você saiba esta noite, que nós, como povo, chegaremos à terra prometida. Estou feliz, esta noite. Não estou preocupado com nada. Não estou com medo de nenhum homem. Meus olhos viram a glória da vinda do Senhor”.
No dia 4 de abril de 1968, Martin Luther King foi assassinado com um tiro, enquanto estava na sacada do hotel onde se hospedava, em Memphis.
Mesmo depois de sua morte, os ideais democráticos e cristãos do pastor batista continuaram transformando a sociedade americana e ainda hoje tem inspirado pessoas e movimentos de justiça social.