O ex-governador cristão de Jacarta (a capital e maior cidade da Indonésia), Basuki Tjahaja Purnama (também conhecido como "Ahok"), retirou seu apelo contra sua sentença de dois anos de prisão por “blasfêmia”. Ele alegou que está fazendo isso pelo bem de seu povo e da nação e também por confiar em Deus.
"Sei que não é fácil para você aceitar essa realidade, muito menos eu. Mas aprendi a perdoar e aceitar tudo isso", escreveu ele em uma carta que foi lida em voz alta por sua esposa, Veronica Tan. Ele também agradeceu seus partidários e aqueles que estavam orando por ele, ou enviando-lhe flores, cartas e livros.
Ahok disse que aprendeu a perdoar e aceitou a sentença por causa da nação e incentivou as pessoas que o apoiam a fazerem o mesmo. Ele explicou que, se ele apelar a sentença, só provocaria manifestações de protesto, que fariam com que os moradores locais "sofressem grandes perdas, além de criar grandes congestionamentos no trânsito e perdas econômicas".
Deus no controle
"Não é correto fazer disputas políticas sobre o que estou experimentando agora", disse ele. "Estou preocupado pois sei que muitos lados vão explorar os comícios. Pode haver confrontos com aqueles que se opõem à nossa luta", ressaltou. Ahok encorajou seus seguidores a se lembrar de que Deus está no controle.
"Deus não dorme. Ponha sua fé no Senhor, agora e sempre. Em minha fé eu digo que o Senhor irá elaborar seu plano para a minha Vida", disse ele. Embora Ahok tenha recusado o recurso, os promotores ainda recorreram a uma sentença menor, uma vez que os juízes pronunciaram uma sentença mais severa do que eles recomendaram.
Ahok é o primeiro governador cristão e étnico chinês de Jacarta desde a década de 1960. Ele assumiu o cargo quando o presidente Joko Widodo abandonou o posto em 2014. Dentro de seu mandato, Ahok assumiu dois dos problemas persistentes de Jacarta: inundações e tráfego.
Acusação
Ahok foi acusado de blasfêmia em setembro de 2016, depois de acusar seus adversários políticos de usar versos do alcorão para impedir que os muçulmanos votassem nele em sua tentativa de reeleição como governador de Jacarta. Os radicais muçulmanos incitaram o povo contra ele, principalmente através das mídias sociais, levando a uma série de protestos que exigiram sua prisão.
Um dia depois que Ahok perdeu a eleição para Anies Baswedan, na qual a mídia local se referia como a eleição "mais suja e mais polarizadora" na Indonésia, os promotores degradaram as acusações de blasfêmia contra ele a uma sentença de prisão suspensa por um ano. No dia 9 Maio o tribunal decidiu contra isso e o enviou para a prisão por dois anos.
O veredicto foi condenado e, no começo desta semana, as Nações Unidas pediram ao governo indonésio que o libertasse e revogasse as leis de blasfêmia que dizem enfraquecer a liberdade religiosa na nação de maioria muçulmana. "Exortamos o governo a derrubar a sentença do Sr. Purnama em apelação ou a estender a ele qualquer forma de clemência que esteja disponível sob a lei indonésia, para que ele possa ser libertado da prisão imediatamente", disseram especialistas da ONU em um comunicado.