Nossas Igrejas são uma vergonha. É preciso mudar o imaginário da Terra como mãe, quesó tem a oferecer. Sexismo. Estes foram alguns dos pontos que nortearam a apresentação da pastora metodista Nancy Cardoso, também assessora da Comissão Pastoral da Terra (CPT), durante a primeira plenária geral do 8º Encontro Fé ePolítica, que aconteceu na cidade de Embu das Artes, em São Paulo, nos últimosdias 29 e 30 de outubro.
A pastora chamou para o respeito às outras religiões e afirmou ser contra fundamentos que invadem indevidamente e de maneira cruel as comunidades cristãs. Estou aqui porque eu nego toda a adoração do capital, toda a religião do consumo, todo o fundamentalismo de prosperidade que se esconde e se alimentados espaços teológicos e comunidades cristãs, fazendo do Evangelho, da propostade Jesus, uma coisa patética, afirmou.
Nesse contexto, Nancy acrescentou que nos dias atuais as Igreja são uma vergonha por permitirem que assuntos tão urgentes não sejam tratados claramente,criticamente com a sociedade, com seus fiéis, por se portarem diante de tantos temas com prepotência.
Quero afirmar que nós cristãos e cristãs somos uma religião entre outras, nós somos um povo de fé entre outros povos de fé. Nesse sentido o que se pede de nós éa luta pela justiça, é o amor e a misericórdia, e andar humildemente com nosso Deus, disse.
Acrescentou,ainda, que o uso da fé cristão e da Bíblia não pode ser usada como justificativa para a guerra, para a discriminação, para a distinção de outrasreligiões e de outros modos de vida. Chegade prepotência dos nossos bispos, dos nossos padres, teólogos, gente que está deixando o cristianismo virar mercadoria, afirmou. Segundo ela, este é ainda um grande desafio e um espaço com o 8º Encontro Fé e Política é um lugar propício para essas discussões críticas. Esse é o enfrentamento que nós temos que fazer. Não dá pra fazer de conta que não esta acontecendo. A Igreja faz parte da luta de classes e como produto da luta de classe seguiu na disputa dereligiões, de nossas hierarquias Não fomos capazes de resistir e esse encontroestá para isso. É junto que nós vamos conseguir. O evangelho de Jesus não podevirar mercadoria nas mãos dos espertos do sacro-negócio, enfatizou.
Fazendo uma relação entre propriedade e sexismo, a pastora metodista disse que épreciso modificar o imaginário de que a Terra seja vista como mãe. Mãe só dá,mesmo que ela não tenha mais, ela vai dar um jeito de continuar dando, até nãoconseguir mais. Temos que pensar a Terra como amiga. E que tal se pensarmos aTerra como amante?, provocou a plateia.
Do mesmo modo, citou as condições das mulheres que, muitas vezes, não sabem dizer não por conta de uma condição que lhes foi imposta. É preciso aprender a dizernão. Não, não e não, disse. Como mulher, acrescentou, tem que dizer não, eu não quero lavar louça. Não, eu não quero fazer sexo. Não, eu não quero. E como Terra, como propriedade, continuou, também é urgente dizer não: Não, eu não quero hidrelétrica. Não, eu não quero agrotóxico. Não, eu não quero transgênico.
A plenária geral também contou com a participação do sociólogo e membro da coordenação nacional do Fé e Política, Pedro Ribeiro; e da liderança do Movimento Nacional dos Povos Indígenas do Rio Grande do Sul, Maurício Guarani.