Um mês antes do 500º aniversário da Reforma Protestante, mais de 250 pastores e teólogos assinaram um documento denominado “Confissão Católica Reformadora” na última terça-feira (12) com o objetivo de demonstrar unidade entre as diferentes denominações protestantes.
A declaração tem como objetivo mostrar que os protestantes são mais católicos do que os próprios católicos romanos ou cristãos ortodoxos. Com base na tradução grega do termo “católico”, que é derivado da palavra “universal, alguns teólogos defendem que todos os evangélicos são considerados católicos, já que o Evangelho de Jesus é universal.
Até agora, a confissão já recebeu signatários de diversas denominações protestantes, como Russell Moore, presidente da Comissão de Ética e Liberdade Religiosa e Ed Stetzer, diretor do Centro de Evangelismo Billy Graham. Pastores brasileiros de igrejas como Assembleia de Deus, Metodista, Presbiteriana e Batista também fizeram parte das assinaturas.
Os idealizadores da declaração fazem parte de uma aliança de pensadores protestantes que pretendem produzir uma prova positiva da unidade protestante para homenagear os 500 anos da Reforma.
A ideia originou-se com Jerry Walls, professor de filosofia na Universidade Batista de Houston. Enquanto pesquisava sobre a catolicidade da Reforma, Walls observou que “uma série de teólogos protestantes estavam em busca de uma recuperação e renovação da catolicidade”.
Quanto ao motivo da confissão ser chamada “católica”, Walls explica que sentiu a necessidade de recuperar a palavra. “A Igreja de Roma simplesmente se chama ‘Igreja Católica’. Mas ela não é a igreja católica”, disse ele ao site The Christian Post.
“Queremos deixar claro que ‘católica’ é uma palavra muito mais ampla do que a Igreja de Roma. Queremos que os protestantes entendam que quando eles são fiéis à sua própria herança, e as suas próprias raízes, eles são ‘católicos’ também”, acrescentou.
A declaração tem como objetivo ser um “denominador comum” para a teologia protestante, de acordo com Walls. Segundo a própria confissão, o objetivo não é “substituir as declarações confessionais das várias tradições e igrejas representadas, mas sim expressar nossa identidade teológica compartilhada”.
Cena do filme “Lutero”, dirigido pelo inglês Eric Till, em 2003. (Foto: Divulgação)
Embora a confissão não seja vinculada à Igreja Católica Romana e à teologia ortodoxa oriental, por ser organizada “de acordo com os princípios protestantes da fé (sola scriptura, sola gratia, sola fide)”, a declaração não tem a intenção de colocar seus signatários contra os outros, mas afirmar a “tradição espiritual em comum para a qual o cristianismo é testemunha eloquente”.
A confissão se concentra em grandes temas da teologia protestante, como a Trindade, as Escrituras, Jesus e sua obra expiatória na cruz, o Espírito Santo, e batismo e outros. Todos os tópicos da declaração são defendidos pelas diversas tradições teológicas que assinaram o documento.
O comitê tem grandes expectativas para a Confissão Católica Reformadora, como forma de unificar os cristãos protestantes e comemorar o 500º aniversário da Reforma.
Opinião
O que gera estranhamento sobre o caráter "comemorativo" desta declaração com relação à Reforma Protestante, é justamente o objetivo de negar a própria Reforma e retroceder à Igreja cristã como somente católica.
Ao que tudo indica, assinar tal declaração é como invalidar todo o trabalho de reformadores, como Martinho Lutero e João Calvino, que lutaram e sofreram para combater problemas contundentes que a igreja Católica Romana se negava em resolver na época, como a idolatria e a venda de indulgências.
De fato, há que se manter o respeito entre as religiões, sobretudo entre aqueles que se declaram e se denominam cristãos, porém isto não torna a Igreja Protestante conivente com tudo aquilo que ela sempre se empenhou em protestar contra.
Seria este o sinal de que a própria Igreja Protestante já necessita de uma nova Reforma?
* Notícia com colaboração de João Neto