Na última quinta-feira (20), um rabino, um ímã e um pastor lançaram a pedra fundamental para o ecumenismo ou a “multi-fé” com um projeto ambicioso chamado House of One [Casa de Um, em tradução livre], em Berlim, Alemanha.
A inauguração está prevista para 2025. No prédio haverá três locais de culto conectados por um salão comunitário, com objetos simbólicos das religiões representadas.
O objetivo é que cristãos, judeus e muçulmanos estejam em “paz e segurança” sob o mesmo teto. Membros de outras religiões e até ateus serão convidados para os diferentes cultos na House of One.
O projeto está estimado em cerca de 47 milhões de euros (57 milhões de dólares) e é financiado em parte pelo estado alemão e pela cidade de Berlim.
“A ideia é maior que a construção”
O diretor do projeto, Roland Stolte, disse que em breve a obra será iniciada e comentou durante a cerimônia de inauguração que “a ideia é maior que a construção”. A House of One já vem sendo idealizada há uma década.
O sonho dele será realizado na Ilha dos Museus, que fica no centro de Berlim, no local onde havia uma antiga igreja que foi demolida durante o regime comunista da Alemanha Oriental.
“Cidade das feridas, cidade dos milagres”, disse o rabino Ben Chorin, quando definiu a capital alemã, local onde foi planejado o Holocausto — um dos maiores crimes contra a humanidade do século 20.
Local da construção da House of One, em Berlim, na Alemanha. (Foto: DW/C Strack)
União entre Igreja, mesquita e sinagoga
Será que vai dar certo? Dentro dos planos da House of One estão os eventos e festivais comunitários. “É um passo muito simbólico para nós”, disse Kadir Sanci, que será o imã da futura mesquita.
“Nestes tempos de polarização que lançam uma grande sombra sobre o mundo, a 'House of One' personifica o espírito construtivo de fé e espiritualidade”, acrescentou.
Para ele, o edifício multi-religioso será “um lugar de paz e segurança” num momento em que as tensões entre as comunidades judaica e muçulmana de Berlim explodiram após o recente conflito no Oriente Médio.
O prefeito de Berlim, Michael Mueller, que participou da cerimônia de inauguração, disse que “ódio, violência, antissemitismo, islamofobia, racismo ou incitação ao ódio racial não têm lugar em nossa sociedade”.
O ímã, o pastor e o rabino fizeram orações curtas antes que objetos simbólicos de todas as três religiões fossem lançados no concreto.
Mas nem todos concordam com essa união. Para o pastor americano Erik Raymond, da Igreja Redeemer Fellowship, em Boston, “é perturbador considerar o que realmente está acontecendo quando as pessoas, em nome da unidade, promovem uma agenda ou causa acima da agenda principal de Deus”, escreveu no site The Gospel Coalition.
“Deus desejou que Jesus Cristo fosse o único e exclusivo Salvador, que recebesse o louvor, a devoção e a fidelidade. Ele deve se sobressair na Igreja”, reforçou.
Cristãos podem orar com os muçulmanos?
Através de um artigo publicado no Desiring God, o teólogo John Piper explica que os cristãos “podem até” orar com os muçulmanos, a questão é se “eles devem” orar com eles.
E se a oração for dirigida a um Criador em comum? “Você pode orar com qualquer pessoa a qualquer momento, mas se a oração cria a impressão de que todos estão se dirigindo à mesma divindade, você está mentindo. E você não deveria. É muito inútil e enganoso para as pessoas não deixar claro que você vai orar em nome de Jesus”, esclareceu.
“Vou dar um exemplo. Eu pertenci a um grupo de líderes religiosos, incluindo judeus. Um dia me pediram para orar, mas eles nunca oravam em nome de Jesus, e eu terminei a oração dizendo: ‘Em nome de Jesus eu oro, amém’. E um judeu se ofendeu”, compartilhou.
Piper lembrou que só podemos chegar até Deus por meio de Jesus. Então, antes de orar com um judeu ou um muçulmano, devemos esclarecer um para o outro como entendemos Deus. “Eu acredito que Deus é o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo”, concluiu Piper.