Por Felipe Pinheiro - www.guiame.com.br
Há quatro dias para o Natal, até os cristãos considerados menos praticantes são contagiados a recordarem aquele que nasceu numa manjedoura há mais de 2 mil anos e anunciado por profetas como o messias; o sacrifício definitivo para a salvação da humanidade.
Permeado por valores e símbolos que remetem ao cristianismo, a celebração gera conflitos entre cristãos evangélicos em razão de sua origem, associada a ritos pagãos iniciados no Egito, de acordo com a Enciclopédia Católica (edição de 1911), e que teve o seu sentido reformulado pela Igreja Romana. "Somente no século 5o foi oficialmente ordenado que o Natal fosse observado para sempre como festa cristã, no mesmo dia da secular festividade romana em honra ao nascimento do deus Sol, já que não se conhecia a data exata do nascimento de Cristo", explica Ronald da Silva Lima, professor de teologia e coordenador do Instituto Betel.
Com o templo da igreja decorado por enfeites natalinos, o pastor Jabes Alencar não enxerga as primeiras motivações da festividade, que homenageava o deus romano Saturno e no dia 25 de dezembro o nascimento do deus sol, como obstáculos a realização da festa natalina conhecida nos dias de hoje.
"Considero uma tolice alguém deixar de comemorar o Natal por conta de argumentos tão insólitos. (...) Se a origem foi pagã, esta é mais uma razão para darmos o tom correto à festa - desviar o sentido pagão e estabelecer o sentido precípuo", defende Alencar, o líder da Igreja Assembleia de Deus Bom Retiro (SP).
Alterado o sentido da festa para a vinda de Jesus Cristo a fim de desviar o foco dado pelos populares aos ídolos, o Natal não remontaria, de acordo com Ronald, a data literal do nascimento do messias. Baseado em passagens como Lucas 2:8, Cantares de Salomão 2:11 e Esdras 10:9-13, o teólogo afirma: "Jesus nem sequer nasceu na estação do inverno. Os pastores recolhiam os rebanhos das montanhas e dos campos e colocavam-nos no curral no mais tardar até o dia 15 de outubro, para protegê-los do frio e da estação chuvosa que se seguia. A data exata do nascimento de Jesus é inteiramente desconhecida".
"Se Deus desejasse que guardássemos e comemorássemos o seu nascimento, Ele não teria ocultado tão completamente a data exata", observa o teólogo que mesmo sem considerar a festa idólatra, pela sua origem ou em razão da presença do Papai Noel, defende a abordagem do significado cristão do Natal pelas igrejas.
Invasão Pagã
Entre as principais características natalinas, a árvore que ornamenta igrejas e casas de cristãos é, para Ronald, uma associação explícita aos rituais pagãos identificados em Jeremias 10:2-4. "Uma antiga fábula babilônica falava de um pinheirinho que nasceu de um tronco morto. O velho tronco simbolizava Ninrode [neto de Cão, filho de Noé, que se afastou de Deus] morto e o novo pinheirinho que Ninrode tinha vindo viver novamente em Tamuz [deus babilônico considerado o vivificador da natureza] ".
Já para Alencar, embasar o pinheiro de Natal ao registro citado de Jeremias pressupõe um desacordo bíblico. "Um texto usado fora do contexto é pretexto para afirmações tolas. Este texto, embora aparente uma semelhança com a árvore de Natal, não se refere a isto. Antes, a um ídolo, conforme registra a sequência do versículo (v.5)".
Utilizado como uma espécie de compensação pelos pais, na medida em que o filho tiver um bom desempenho durante o ano, o Papai Noel denotaria o paganismo num possível dia de alusão ao cristianismo.
"Quem é esse bom velhinho que entrou sorrateiramente nas comemorações do Natal, sem ser convidado ou bem-vindo? Essa figura e o costume de ligá-lo com o Natal não tem nenhuma base bíblica, e - pior do que isto - não tem origem cristã, mas é uma figura decididamente pagã, transplantada para o cristianismo pelos povos que não experimentaram uma conversão genuína a Jesus", aponta.
Sem se importar com os significados originais seja do Noel, ou de outras simbologias natalinas como as guirlandas e árvores de natal, o pastor Jabes de Alencar assegura: "Toda estratégia que eu puder me utilizar para fazer notória a presença de Jesus eu usarei. Não acho que seja sadio ficar especulando essas bobagens. Se eu puder, até me visto de Papai Noel. Vejo nada de mais"!