Após o pastor Silas Malafaia manifestar publicamente sua indignação diante da investigação conduzida pela Polícia Federal – divulgada pela imprensa antes que ele fosse oficialmente notificado – diversas organizações evangélicas, líderes de diferentes denominações e representantes da bancada evangélica no Congresso Nacional expressaram preocupação com o caso.
A reação coletiva no meio evangélico foi motivada pela inclusão de Malafaia no inquérito que apura uma possível obstrução de Justiça relacionada à tentativa de golpe de Estado nos atos de 8 de janeiro de 2023. Sua citação no processo foi interpretada por líderes evangélicos como um ato de “perseguição”.
Eles alegam que a medida levanta dúvidas sobre o devido processo legal e reforçam a necessidade de transparência e respeito às garantias constitucionais.
‘Uma das principais vozes do segmento evangélico’
Por meio do Conselho Interdenominacional de Ministros Evangélicos do Brasil (CIMEB), um grupo composto por 26 líderes se posicionou publicamente, contra a inclusão de Malafaia no inquérito da PF.
Em nota, pastores, bispos e apóstolos repudiaram a decisão contra “uma das maiores lideranças evangélicas do país” e assinaram o documento que apela aos demais ministros da Corte, além de senadores e deputados federais, pedindo atenção ao que classificam como uma medida preocupante para as liberdades democráticas.
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Os líderes evangélicos consideram a inclusão de Malafaia no inquérito como “imprópria e injusta”, alegando que não se trata apenas de uma ação de natureza política, mas de uma perseguição que alcança também a esfera religiosa. Segundo eles, o episódio representa um risco à liberdade de expressão e à atuação pastoral no país.
“O Pastor Silas Malafaia é uma das maiores lideranças evangélicas do país, com reconhecimento internacional, sendo uma das principais vozes que representam o povo evangélico brasileiro. Não podemos aceitar tamanha perseguição, que ultrapassa o âmbito político e atinge também a esfera religiosa.”
“A liberdade de expressão e a liberdade religiosa são inegociáveis no Estado Democrático de Direito, como garante a nossa Constituição”, diz o documento.
Assinam a nota, bispo Abner Ferreira (Assembleia de Deus Ministério de Madureira), bispo Robson Rodovalho (Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra), pastor Cláudio Duarte (Ministério Projeto Recomeçar), pastor Samuel Câmara (Assembleia de Deus Belém e Convenção da Assembleia de Deus no Brasil – CADB), pastor Silmar Coelho (Igreja Metodista Wesleyana) entre outros.
‘Intensa atenção e preocupação’
Em nota oficial, a bancada evangélica da Câmara e do Senado expressa preocupação com a inclusão do líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo (ADVEC) na investigação e reafirma o compromisso com o devido processo legal.
“As Frentes Parlamentares Evangélica no Congresso Nacional, Evangélica no Senado Federal e da Radiodifusão manifestam que acompanharão, com intensa atenção e preocupação, a inclusão do pastor Silas Malafaia no inquérito que apura suposta obstrução no processo relacionado à tentativa de golpe de Estado. A Constituição Federal assegura, de forma inafastável, o devido processo legal (art. 5º, LIV), a ampla defesa e o contraditório (art. 5º, LV), pilares essenciais do Estado Democrático de Direito.”
Democracia, a cidadania e a fé
O Parlatório Brasil, uma iniciativa coordenada por Teo Hayashi, líder do movimento Dunamis e da Zion Church, que reúne líderes cristãos, especialmente jovens, emitiu uma nota de repúdio sobre a inclusão de Malafaia no inquérito da Polícia Federal.
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O documento diz que a ação “configura afronta direta à Constituição Federal do Brasil (art. 5º, Incisos IV e IX; art. 220), e afirma que criminalizar a palavra é atentar contra a democracia, a cidadania e a fé.
“Pr. Silas Malafaia, além de ser um cidadão que deve ter seus direitos garantidos, é uma liderança cristã-evangélica nacionalmente reconhecida, uma voz profética para o nosso tempo. Defender o direito do pastor é defender a liberdade e o direito de todos.”
Líderes evangélicos e políticos se manifestam
O pastor Filipe Duque Estrada (conhecido como pastor Lipão), da Igreja Onda Dura, usou suas redes sociais para expressão preocupação com o caso de Malafaia na “suposta trama golpista do dia 8 de janeiro”.
“Vi com muito espanto e preocupação, a veiculação da notícia de que o pastor Silas Malafaia foi incluso no inquérito”, disse.
“Independentemente da sua opinião política e também da sua opinião sobre essa ocasião, o fato é que a opinião pública é muito clara e ao perceber que o pastor Silas Malafaia apenas está exercendo o seu direito de expressão, como cidadão que deve ser ouvido”.
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Lipão disse que essa “escalada autoritária de cerceamento de liberdades individuais é extremamente preocupante, porque algo que você e eu não podemos ignorar, é que nós podemos até discordar do que a outra pessoa diz, mas devemos lutar até a morte para que ela tenha o direito de dizê-lo, porque uma vez que a pessoa é calada ao dizer algo, eu e você também seremos calados em algum momento”.
O pastor disse que respeita o pastor Malafaia como líder cristão que há tantos anos tem servido a Jesus.
‘Perseguição política’
O inquérito da Polícia Federal é conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, e apura possíveis estratégias de obstrução da Justiça relacionadas ao processo contra o ex-presidente Bolsonaro, acusado de envolvimento em tentativa de ruptura da ordem democrática.
Malafaia classificou a medida como uma tentativa de intimidação contra líderes religiosos e reafirma sua confiança na justiça divina e na Constituição. “Esse é o
Em vídeos e postagens, Malafaia denunciou o que chamou de “perseguição política” e afirmou que não há provas que sustentem sua inclusão no inquérito que apura suposta obstrução às investigações sobre tentativa de golpe.
Nikolas Ferreira defendeu a liberdade de expressão e condenou a perseguição das “vozes contrárias”, que agora chegou a pastores.
“Antes de qualquer genocídio físico, existe um genocídio cultural, ou seja, estão literalmente fazendo tudo aquilo que a gente disse que aconteceria, perseguindo vozes contrárias”.
“No caso do Silas, ele é uma das maiores vozes que tem, você queira ou não, ... e ele se mantém falando e acreditando naquilo que ele está defendendo”.
'Hoje é um líder religioso, amanhã é você'
O pastor Edilson de Lira, líder da Igreja Verbo da Vida em Petrolina (PE), também fez um pronunciamento em seu perfil do Instagram sobre o inquérito que envolve o pastor Malafaia:
“Minha preocupação vai além da pessoa dele: é com a FORMA como certos processos estão sendo conduzidos em nosso país”, escreveu.
“Mas quando alguém diz descobrir que está sendo investigado pela TV antes de receber uma notificação oficial, algo muito grave pode estar acontecendo.”
“Hoje é um líder religioso. Amanhã pode ser você, por um comentário nas redes sociais.”
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Em um novo vídeo, Malafaia disse que sempre se posicionou nas demandas da sociedade, elencando algumas dessas defesas, incluindo de perseguição a denominações, por “perceber que se uma igreja fosse fechada, poderiam fazer [o mesmo] com qualquer igreja evangélica”.
Malafaia agradeceu aos pastores, líderes e políticos que saíram em sua defesa “dessa vergonha, dessa perseguição, um negócio assustador [que foi] me incluir num inquerido, que não tenho nada a ver com isso, para tentar me intimidar e me calar.”