O médico ginecologista Denis Mukwege recebeu o Prêmio Nobel da Paz 2018 por seus esforços para acabar com o uso da violência sexual como arma de guerra e conflito armado nesta sexta-feira (5), em Oslo, na Noruega.
Conhecido como “doutor milagre”, Mukwege já tratou mais de 30 mil mulheres vítimas de abuso sexual em conflitos na República Democrática do Congo. Ele montou um hospital com mais de 300 leitos, além de um sistema para financiar as mulheres a recomeçarem suas vidas.
A guerra civil no Congo não envolve grupos de fanáticos religiosos; é um conflito motivado por interesses econômicos que já deixou mais de 6 milhões de mortos e milhares de mulheres submetidas a estupros.
“O objetivo desses estupros coletivos era não só ferir as vítimas, mas toda a comunidade, já que todos eram forçados a assistir a tais atos. Como resultado, as pessoas tiveram de fugir de suas aldeias, abandonar suas terras, seus recursos, tudo. Trata-se de uma estratégia eficaz nesse sentido”, comentou Mukwege.
O Hospital Panzi, fundado pelo médico em 1999 em Bukavu, capital da província de Sud-Kivu, atende mais de 3.500 mulheres por ano.
Filho de um pastor, Mukwege destaca sua fé como sua principal inspiração para combater a violência que assola seu país.
“Cabe a nós, herdeiros de Martinho Lutero, através da palavra de Deus, exorcizar todos os demônios machistas que estão possuindo o mundo, para que as mulheres que são vítimas da barbárie sexual possam experimentar o reinado de Deus em suas vidas”, declarou Mukwege na 12ª Assembleia da Federação Luterana Mundial.
Na ocasião, o médico afirmou que a credibilidade do Evangelho no século 21 pode “liberar a graça que recebemos fazendo da Igreja uma luz que ainda brilha neste mundo de trevas, através de nossas lutas pela justiça, verdade, leis, liberdade e dignidade do homem e da mulher”.
O médico cristão dedicou seu prêmio Nobel a mulheres de todo o mundo que foram prejudicadas pela violência.
“Por quase 20 anos tenho testemunhado crimes de guerra cometidos contra mulheres, meninas e até bebês, não só na República Democrática do Congo, mas também em muitos outros países”, disse Mukwege, segundo a Reuters.
“Para as sobreviventes de todo o mundo, gostaria de dizer que, através deste prêmio, o mundo está ouvindo suas vozes e se recusando a permanecer indiferente. O mundo se recusa a ficar de braços cruzados perante o sofrimento de vocês”, completou.